Cerca de 11 milhões de brasileiros, segundo estimativa do Ministério do Turismo (MTur), e 400 mil estrangeiros vão circular por diversas cidades do país no período carnavalesco. Maior festa nacional, o carnaval reúne diversos ritmos, de acordo com a região, com opções para variados gostos musicais. A 15 dias do início das comemorações os preparativos estão a todo vapor.
[SAIBAMAIS]Para quem ainda não se programou para o carnaval, ainda há tempo. Pesquisa do buscador de viagens Kayak mostra que o valor das passagens aéreas para os principais polos do carnaval está 29% mais barato em relação ao ano passado. Os preços das hospedagens também sofreram queda, mostra o levantamento. O valor médio do bilhete para Olinda (PE), por exemplo, sofreu uma redução de 28,9%, enquanto a hospedagem caiu, em média, 53,2%. Para as cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Salvador, as reduções médias dos preços das passagens foram, respectivamente, -2,5% e -19,6%. Economia também para quem não gosta de agito e aproveita o feriado prolongado para curtir um momento de paz.
Para entender um pouco mais sobre as raízes carnavalescas no Brasil, a historiadora Débora Cristina Soares explica que a celebração do carnaval não tem uma influência específica. ;O carnaval, tanto do Brasil quanto da Europa, é uma sintetização da Igreja Católica de várias festas e celebrações do mundo antigo;, explica ela. O que se sabe é da importância religiosa para o surgimento da comemoração.
Pagãs
;Não existe uma certeza histórica sobre a origem do carnaval, porque, inicialmente, os egípcios, romanos, gregos e até mesmo os hebreus faziam várias festas pagãs, já que esses povos eram politeístas. O objetivo dessas festas era celebrar as colheitas, agradecer e louvar as divindades e os ancestrais, dependendo da religião. Mas tudo isso mudou com o fim da Idade Antiga e inicio da Idade Média. A Igreja Católica decidiu incorporar essas festas pagãs que marcavam os últimos dias de liberdade, onde as pessoas podiam extrapolar, antes do início da quaresma;, conta Débora.
Foi assim que surgiu a prática de comemorar os últimos dias antes da quaresma, batizada como carnaval. A festa pagã se tornaram um símbolo para os religiosos e, a partir disso, a festa foi ganhando forma. No Brasil, o carnaval surgiu no século 17 e é um dos mais puros representantes da cultura nacional, como explica a historiadora. ;As primeiras festas carnavalescas brasileiras iniciaram no século 17, mas somente no século 20 que as alegorias invadiram as ruas do Rio de Janeiro. A partir disso, o carnaval se tornou um símbolo nacional, não que todo o Brasil seja caracterizado apenas por ele, mas é uma das festas que caracterizam a identidade da cultura brasileira e é uma das coisas que nos diferencia do restante dos povos pelo mundo. Então, mesmo não tendo nascido no Brasil, na contemporaneidade, ele é muito associado ao nosso país;, explica.
Por ser um país de dimensões continentais, cada região do Brasil assumiu um carnaval com características diferentes. Sejam elas nos ritmos, seja nas apresentações. Em algumas regiões, vemos as marchinhas, desfiles de alegorias, blocos de rua, trios elétricos, cada um tem a sua peculiaridade. Todos juntos, no entanto, formam a grandiosa festa que é celebrada todos os anos. Cada região, cada estado e cada cidade tem um detalhe diferente, uma tradição e, mais recentemente, uma produção específica, geralmente baseada nas influências que tiveram no período da colonização. Em comum, as festas têm a animação.
Emoção à flor da pele
Na prática, o carnaval é o xodó de muitas pessoas. Não importa aonde você vai comemorá-lo, mas, se gosta de aproveitá-lo com muita festa e agitação, esse período é ideal para reunir os amigos e desfrutar de cinco dias intensos de curtição. Os principais polos do carnaval no Brasil são Salvador, Rio de Janeiro e Olinda. Cada um é diferente do outro, mas todos esbanjam alegria para seus foliões.
Para a estudante Anelena Medeiros, 24, a experiência no carnaval de Salvador foi um momento mágico. ;Eu tinha um sonho de ir ao carnaval de Salvador e, no ano passado, realizei. Foi incrível. Tudo foi muito novo pra mim, nunca tinha ido a uma festa tão grandiosa como essa, ver pessoas de todas as idades ali, curtindo, sem medo de ser feliz. Foi uma experiência linda;, conta ela, que aproveitou para brincar no bloco da sua cantora favorita, Ivete Sangalo. ;É única a sensação de estar atrás do trio e percorrer todo o circuito com um mar de gente que compartilha a mesma energia que você. Fui na pipoca da Ivete e amei. Também aproveitei outros dias para ir em camarote. A experiência é diferente, o conforto e a segurança são só um charme a mais que o carnaval de Salvador pode proporcionar. Não quero mais parar de ir, vale a pena cada segundo;, afirma ela, que planejou todos os detalhes do carnaval deste ano.
Já no Rio de Janeiro, a estudante brasiliense Luisa Ervilha, 22, diz que o carnaval na cidade é encantador. ;O que me encantou é que a cidade vive o carnaval. De manhã, à tarde e à noite, o Rio de Janeiro está em festa. Os bloquinhos rodeados das paisagens da Cidade Maravilhosa tem um charme especial. Encontrei todo tipo de pessoa lá, do Brasil inteiro e de fora também, havia muitos gringos. As pessoas nessa data são muito receptivas e nós, como turistas, nos sentimos em casa;. No último ano, Anelena comemorou a festa com sete amigos nos bloquinhos da Zona Sul carioca.
;Voltei tão encantada com o ritmo de festa da cidade, com os blocos e com a alegria que lá se vive nessa época do ano, que vou passar o carnaval no Rio novamente agora em 2018. Dessa segunda vez, quero aproveitar mais a noite, curtir as festas, ir a algum sambão, passar na Lapa. Além disso, conhecer o carnaval do Centro do Rio, que não tive a oportunidade de conhecer da primeira vez e que dizem ser muito bom. Futuramente, pretendo conhecer o sambódromo para assistir ao desfile das escolas de samba;.
Em Olinda o carnaval funciona em outro ritmo: o frevo. E por lá, os blocos são mais descontraídos do que os do Rio e Janeiro e de Salvador, quanto ao horário, pois são as pessoas que fazem a festa. Um grupo se reúne com seus instrumentos e agita as ladeiras da cidade pernambucana. O fisoterapeuta Felipe Macedo, 30, viveu essa experiência. ;Em Olinda o carnaval é multicultural, não segue o modismo de, por exemplo, ter o hit do carnaval, como acontece em outras capitais. A preocupação é manter a cultura do frevo e respeitar as tradições dos blocos de rua. Precisa ter muita energia para descer e subir as ladeiras de Olinda, dançando, cantando, pulando e resistir ao calor, que nesse período é intenso. Mas para mim foi uma experiência diferente e agradável, recomendo. No entanto, é necessário conversar com alguém que já foi, porque é preciso saber se é realmente isso que você quer;, conta ele.
Com tanta singularidade, é difícil escolher qual é o local mais divertido, já que isso varia muito da individualidade de cada folião e de como prefere aproveitar o carnaval. O personal stylist André Monjardim, 32, que já conheceu os três carnavais, diz preferir festas mais fechadas, por conta do conforto e por não gostar tanto de blocos de rua. ;Os três carnavais são bem distintos. No Rio de Janeiro tem de tudo um pouco: carnaval de rua, desfiles de escolas de samba, blocos e festas fechadas. Em Salvador, a tradição é seguir os trios elétricos e em Olinda é um carnaval tradicional de rua muito lindo e cultural;. Segundo ele, o que mais gostou foi o do Rio, mas que neste ano irá curtir a data em Salvador com os amigos. ;É difícil ter que escolher, acho que o de Olinda foi legal ter ido para conhecer uma vez, mas não faz tanto meu estilo. Meu coração bate mais forte pelo do Rio de Janeiro, mas este ano optei pela Bahia;.