Jornal Correio Braziliense

Turismo

Amigos da diversidade: hotéis investem no conceito gay friendly

O turismo LGBT movimenta anualmente US$ 54 bilhões em todo o mundo, e o setor hoteleiro busca o público - moderno e exigente. No Brasil, um hotel voltado para homens gays já tem duas unidades

Quando você viaja com o seu companheiro ou companheira, é comum se hospedar em um hotel onde o casal possa andar de mãos dadas e trocar carícias em locais públicos, como no restaurante onde é servido o café da manhã, certo? Bem, dependendo do local, a orientação sexual dos envolvidos ainda pode ser um empecilho. Embora não seja proibido, é possível e até recorrente que homossexuais recebam olhares incomodados de outros hóspedes e, inclusive, de funcionários do estabelecimento. Mas, segundo levantamento da International Gay and Lesbian Tourism Association (IGLTA), o público LGBT movimenta US$ 54 bilhões por ano no mundo, e a indústria hoteleira, ainda que não seja muito preocupada com o combate ao preconceito, com certeza não ignora os números. Por isso, tem investido no conceito gay friendly e vem se preparando para receber esses clientes.

[SAIBAMAIS]O administrador Eduardo Dantas 25 anos, viajou para Cape Town, na África do Sul, há três anos, com o intuito de fazer um intercâmbio de inglês, e acabou conhecendo o The Glen Boutique Hotel, diferente de todos os hotéis onde ele já tinha ido. "Lá havia hóspedes heterossexuais, mas a maioria era gay e lésbica, e andavam de mãos dadas e se beijavam normalmente em todas as áreas do estabelecimento, sem ninguém ficar constrangido ou incomodado. Era um ambiente tolerante", conta.

Além dos hóspedes, moradores da cidade e estrangeiros hospedados em outros locais iam ao Glen simplesmente para se divertir, segundo Eduardo. "O local reúne muita gente jovem e, por isso, faz festas nas piscinas com frequência, que podem ser frequentadas por qualquer pessoa."

Roberto Dunkel, proprietário da Friendly Tur, agência de viagens voltada para o público LGBT, explica que ainda não há um selo regulamentado para qualificar os hotéis como gay friendly ; locais onde homossexuais devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais ; no Brasil. "Elegemos os estabelecimentos com base na experiência que temos com eles. De modo geral, as grandes redes são mais preparadas para receber os clientes gays do que pequenas pousadas. E cidades grandes também são mais receptivas que as de interior."


Na opinião de Roberto, o país ainda é muito preconceituoso, e a hotelaria acompanha a sociedade nas questões culturais. "O preparo para receber os hóspedes LGBT é muito sazonal. Os hotéis da Avenida Paulista se mobilizam durante os dias da Parada Gay de São Paulo, assim como o Rio de Janeiro e Florianópolis oferecem boas opções no réveillon e no carnaval. Mas, no restante do ano, é mais difícil", opina. Ainda assim, o empresário acredita na melhora do setor, visto que é um mercado crescente, pois os homossexuais tendem a ser exigentes e a gastar mais com eles mesmos, especialmente porque muitos não têm filhos. "É válido ressaltar que a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat) oferece treinamento para os hotéis que queiram atender bem a esse público."

Soneca rápida

Para oferecer uma proposta diferente no Brasil, o empresário Douglas Drumond, 44, criou o moderno 269 Chilli Pepper, em São Paulo, há três anos, uma mistura de hotel e sauna, exclusivo para homens e focado no lazer. A partir da observação em viagens ao exterior, ele decidiu juntar vários conceitos: o de hotéis voltados para gays, o de hotéis-cápsula, comuns na Ásia, e o de saunas com cabines, que conheceu nos Estados Unidos. "Temos cinco suítes grandes e bem equipadas, 120 cabines de solteiro, dessas em que há espaço para uma cama e uma mala de viagem, e diversos armários, para quem não planeja dormir, mas apenas ficar na sauna e nas áreas públicas do hotel", explica.

O intuito é ser um refúgio com estadas de curta duração para executivos de outras cidades, por exemplo, que, depois de um longo dia de trabalho não querem voltar ao hotel sem companhia e sem nada para fazer. "Muitos também veem até aqui depois de uma festa em locais próximos para relaxar na sauna, na piscina ou dormir até o metrô voltar a circular", diz. Os hóspedes não precisam completar a diária. Além de poder ficar as 24 horas, há a opção de passar 12 horas ou 6 horas no Chilli Pepper. Para a estadia mais curta, os preços partem de R$ 49,00 .

Mas lá também há festas e o público varia conforme o dia da semana (mas em todos são permitidos apenas maiores de idade). "Na terça, vemos mais jovens, pois é um dia voltado para quem é fitness, que gosta de malhar e cuidar mais da aparência. Já na quinta, é a noite dos ursos, que normalmente são caras um pouco mais velhos, mais gordos e peludos, que normalmente não se sentem muito confortáveis para ir à piscina em outros lugares." Praticamente sem concorrência, o sucesso é evidente: Douglas recebe 16 mil homens por ano e já abriu a segunda unidade, em Belo Horizonte. "De fevereiro a novembro, o número de hóspedes cresceu 80%, um índice de ocupação muito maior do que eu esperava", comemora.

Economia viva
Segundo a Abrat, a Parada LGBT de São Paulo movimenta, em média, R$ 400 milhões na economia da capital paulista, sendo comparada apenas ao Grande Prêmio de Fórmula 1.


Serviço


269 Chilli Pepper São Paulo

www.hotelchillipeppersp.com.br
Largo do Arouche, 610, Santa Cecília
(11) 3331-3336

269 Chilli Pepper Belo Horizonte
www.hotelchillipepperbh.com.br
Av. do Contorno, 1328, Floresta
(31) 2555-0269

Friendly Tur
www.friendlytur.com.br
R. da Consolação, 140 - Consolação, São Paulo
(11) 3284-0669