A primeira vez que Ernest Hemingway visitou Key West, o ponto mais ao sul dos Estados Unidos, foi nos anos 1920, aconselhado pelo também escritor John Dos Passos. A ilha, que pertence à Flórida, fica mais próxima de Cuba (157km) do que de Miami (260km), atraiu muitos intelectuais e artistas durante o século 20 ; ainda hoje, dezenas de galerias de arte estão espalhadas pelas ruas ; mas nenhum deles teve uma presença tão marcante na cidade quanto o autor de Adeus às armas (escrito em 1929) e O velho e o mar (publicado em 1952).
Recém-casados, Ernest e a jornalista Pauline Pfeiffer (a segunda mulher do escritor) se apaixonaram pelo local em 1928 e, poucos anos depois, decidiram criar raízes. Foi quando adquiriram a maior propriedade residencial de Key West, hoje transformada em museu, certamente um dos atrativos turísticos mais importantes da região. E lá viveram entre os anos de 1930 e 1936.
[SAIBAMAIS]Construída em 1851, a casa-museu de estilo colonial se tornou residência de Hemingway em 1931. Em seus primeiros anos, quando pertencia ao capitão e arquiteto Asa Tift, abrigou aproximadamente 14 escravos no porão. O passado sombrio do local também conta com a morte da mulher e de dois filhos de Tift, que padeceram de febre amarela. O viúvo viveu ali até 1889.
Hemingway teve uma história mais feliz que a do primeiro proprietário no local. Viveu ali com a mulher e dois filhos, Gregory e Patrick, até 1940, quando se mudou para Cuba para viver com a terceira esposa, a jornalista Martha Gellhorn. Pauline e os meninos continuaram na residência até 1951, quando ela morreu. Nos dez anos seguintes, Hemingway usou a casa para passar férias. Em 1961, quando o escritor morreu, os filhos venderam a propriedade e a compradora transformou a casa em museu, mantendo os móveis e objetos originais. Boa parte da mobília é espanhola, dos séculos 17 e 18. Pauline também levou muito do que tinha em Paris, onde vivia antes de se casar, como os lustres.
Tour
O tour guiado dura pouco mais de 30 minutos, e dá para saber curiosidades sobre o escritor, a casa e detalhes de cada recinto. Destaque para o quarto do casal (a cama enorme, uma espécie de king size da época, era necessária, pois Hemingway tinha 1,86m), a imensa varanda do andar de cima, onde dá para apreciar o pôr do sol, e o charmoso escritório, ainda cheio de livros e com uma máquina de escrever. Naquele período, Hemingway escreveu algumas de suas principais obras, como Por quem os sinos dobram e As Neves do Kilimanjaro.
Reserve algum tempo para o jardim. Entre as plantas, boa parte veio de países tropicais, sendo algumas frutíferas, como os coqueiros e as bananeiras, além de flores.
A piscina na área externa chama a atenção, pois, na década de 1930, era incomum e considerada um luxo para poucos. Ela foi construída durante o período que o escritor passou como correspondente da Guerra Civil Espanhola, entre 1937 e 1938. Portanto, foi supervisionada por Pauline, que gostava de receber amigos nessa área.
"Um gato tem honestidade emocional absoluta: os seres humanos, por uma razão ou outra, podem esconder os seus sentimentos, mas um gato não o faz;
Ernest Hemingway
"Os gatos foram colocados no mundo para refutar o dogma de que todas as coisas foram criadas para servir o homem;
Ernest Hemingway
Eternas "fábricas de ronronar"
Impossível não se surpreender com a quantidade de felinos espalhados pelos jardins, em cima da cama e em praticamente todos os ambientes da casa de Hemingway. O escritor não vivia sem eles. Ele gostava de dar aos gatos nomes de pessoas famosas, como Billie Holiday, Hunter S. Thompson, Rudolph Valentino e Betty Grable.
Atualmente, são cerca de 50 animais descendentes do primeiro bichano, a gatinha Snow White (Branca de Neve, em português) da raça Maine Coon, que foi dado ao escritor por Stanley Dexter, capitão de um navio. Os bichanos vivem na propriedade desde a década de 1930. O mais curioso é que boa parte deles são polidáctilos, ou seja, têm seis dedos nas patas, que, normalmente têm cinco na dianteira e quatro na traseira. E, mesmo os que não têm, carregam o gene.
Acostumados com os turistas que visitam a residência todos os dias, são extremamente dóceis e não dão a mínima para a plateia que os observa quando estão, por exemplo, tirando um cochilo depois do almoço. Antes de ir embora, visite a livraria da casa. O próprio museu edita algumas obras, difíceis de encontrar em outros lugares. E, além disso, há diversos souvenires interessantes para levar, como cartões-postais e até chá de manga, o favorito de Hemingway.
;Esponjas de amor;
Um gene anormal provoca a polidactilia ; defeito genético que causa o surgimento de um ou mais dedos nas patas dos felinos. Os marinheiros acreditavam que criar gatos com essa característica traria boa sorte a quem convivesse com os bichos. Os gatos de Hemingway foram tombados pelo governo americano e hoje são patrimônio nacional.
Casamento literário
Já pensou poder se casar em uma residência histórica que pertenceu a um dos mais importantes escritores do mundo? Além de visitar a propriedade, moradores e turistas utilizam constantemente a casa de Hemingway para a realização de eventos, especialmente casamentos. Os belos jardins que chamam a atenção de quem passa por Key West são uma imaginativa e agradável opção para casais apaixonados receberem seus convidados. O site da casa-museu dá, inclusive, dicas de cerimoniais, fotógrafos, serviços de catering, cabeleireiros, músicos e transporte: hemingwayhome.com/weddings-vendors/. Os preços vão de US$ 375 por uma hora de cerimônia a US$ 3.095, para uma festa mais duradoura e completa.