ROMA - O rei italiano dos calçados, o presidente do grupo Tod;s, Diego della Valle, ameaçou nesta quinta-feira retirar-se do projeto de restauração do emblemático Coliseu de Roma, avaliado em 25 milhões de euros, após a abertura de uma investigação sobre irregularidades presumíveis.
"Encontrei-me hoje com o ministro da Cultura, minha intenção era cancelar o projeto, mas decidimos esperar um pouco para que as autoridades façam as verificações", declarou Digo della Valle, durante uma entrevista à imprensa improvisada, em Roma.
O ministro da Cultura, Lorenzo Ornaghi, confirmou em comunicado ter pedido que ele espere um pouco, antes de uma decisão, estando convencido de um andamento positivo do processo.
Para Ornaghi, a restauração por Della Valle, é um exemplo simbólico da fase atravessada atualmente pelo país, que vê, "pela primeira vez, a colaboração do privado e do público na proteção e na valorização de um bem extraordinário como o Coliseu".
Para os jornalistas, Diego della Valle destacou a urgência dessas obras, após uma série de incidentes ocorridos no Natal, com a queda de pequenos fragmentos do monumento.
"É preciso que saibamos logo o que foi decidido, uma vez que o Coliseu precisa de uma intervenção profunda e rápida", afirmou, destacando já ter desembolsado 10 milhões de euros para fazer andar o projeto.
Segundo a mídia italiana, o Ministério da Justiça de Roma, o Tribunal de Contas e o Tribunal Administrativo regional do Lácio (região de Roma) foram acionados para esmiuçar o contrato de patrocínio entre Diego della Valle, o ministério da Cultura e a cidade de Roma.
O industrial bilionário mostrou-se frustrado por ter que perder tempo "nesses meandros", considerando que o que contestam "é uma coisa ridícula construída a partir do nada". "Os documentos são públicos, pelo que as acusações foram orquestradas, e estou amargurado com isso", disse.
Os sindicatos dos empregados do monumento reprovam a ele o fato de usar como propaganda comercial os trabalhos de restauração, uma denúncia rejeitada por Della Valle.
Explicou que o contrato o autoriza, apenas, a fazer promoção de sua ação de mecenato, proibindo afixar panfletos publicitários no Coliseu.
"O Coliseu pertence a todos os italianos, pelo que não toleraremos que seja desfigurado com uma campanha publicitária", disse ele, ao anunciar o projeto.
Atualmente, a fachada, danificada por intempéries e enegrecida pela poluição dos automóveis (2.000 carros por hora, segundo os ecologistas), oferece um triste espetáculo. Em maio de 2010, pedaços da argamassa se destacaram das paredes.
O Coliseu, um monumento de forma ovalada, com a construção iniciada entre os anos 70 e 72 sob o imperador Vespasiano e concluída nos anos 80 por Tito, é o maior anfiteatro levantado pelo Império Romano (188 metros por 156, com uma altura de 48,50 metros). Pode acolher entre 50.000 e 75.000 espectadores, que acompanharam, aí, os combates entre gladiadores e outros espetáculos públicos, durante cerca de 500 anos.
O número de visitantes passou, em dez anos, de um a seis milhões por ano, em seguida ao sucesso, entre outros, do filme de Ridley Scott, "Gladiator" (2000).
O contrato de restauração assinado por Della Valle prevê uma operação em três anos e o aumento das zonas de acesso dos turistas.