Turismo

Parque Estadual de Terra Ronca, entre Goiás e Bahia, soma 200 cavernas

postado em 11/01/2012 11:15




Há milhões de anos, as águas das chuvas e dos rios que escoam pelas veredas da Serra Geral, na divisa entre Bahia e Goiás, percorreram o solo rico em quartzito, formando uma série de cavernas ao encontrar o maciço de rochas calcárias afetadas por atividades sísmicas. Em meio ao silêncio, o ruído provocado pela circulação do líquido nas cavidades subterrâneas dava a impressão de que a terra ;roncava;, fato que originou tempos depois o nome do lugar. Com a umidade, um desabamento principal abriu salões monumentais, em uma área de aproximadamente 57 mil hectares, dando ao Parque Estadual de Terra Ronca (Peter) a estrutura encontrada hoje, em que riquezas naturais são preservadas em um ambiente de constante transformação.

E o que virou objeto de estudo de muitos espeleólogos (especialistas em cavernas) também tem despertado o interesse de turistas, experientes ou não na exploração desses locais. Os principais atrativos são, sem dúvida, as grutas e cavernas, onde o cerrado e a Floresta Amazônica se misturam.

Para conhecer o parque, o turista deve programar com antecedência o passeio, que pode durar um dia todo ou vários, dependendo da disposição e do preparo físico dos aventureiros, além das condições climáticas. Há grutas com diversos níveis técnicos: algumas só devem ser exploradas por profissionais experientes; outras, de fácil acesso, podem ser visitadas por pessoas de quaisquer idades e condicionamento físico, exceto as que tenham problemas cardíacos ou nas articulações.

Nos períodos chuvosos ; entre novembro e fevereiro ;, é necessário cautela: a grande quantidade de água das chuvas aumenta o nível dos rios e invade o interior das cavernas, formando fortes correntezas e cachoeiras, que podem ser perigosas para os despreparados. A regra geral para quem desejar fazer a trilha é sempre contar com a presença de guias, que podem ser os condutores locais ou equipes contratadas por empresas de turismo em Goiás ou no Distrito Federal.



Beleza oculta

O Peter soma aproximadamente 200 cavernas e grutas. As mais visitadas são Terra Ronca I e II, Angélica e São Bernardo. A primeira delas tem aproximadamente 760 metros de extensão e quase 90 metros de boca (abertura na entrada da caverna). Fica à margem da estrada que liga os municípios goianos de Posse e São Domingos e, por isso, é a mais conhecida. O percurso é de nível médio e pode levar entre 30 minutos e uma hora.

Terra Ronca II, com aproximadamente 1km de extensão e 120 metros de boca, fica a alguns minutos da outra caverna. O percurso dá um pouco mais de trabalho, mas a vista é de encher os olhos. Destaca-se o Salão dos Namorados, considerado o quarto maior do mundo. Lá, os visitantes percorrem uma área de 500m de diâmetro e cerca de 100m de altura, adornada por imensas estalactites, estalagmites, colunas e outros espeleotemas (formações típicas no interior de cavernas). O passeio por Terra Ronca I e II deve ser feito em, no mínimo, dois dias.

Ficando alguns dias extras no parque estadual, é possível conhecer mais duas cavernas muito visitadas. Distante 35km de Terra Ronca, a Angélica guarda uma magnífica formação geológica e impressiona pelo percurso tranquilo, mas que dispensa pelo menos quatro horas de atividade. Apesar de pouco explorada, a caverna São Bernardo também merece atenção.

A entrada é estreita; o terreno, íngreme; e a grande vazão de águas em seu interior exige o acompanhamento de guias experientes. Todas as cavernas do parque ecológico apresentam particularidades, mas têm em comum o cenário fantástico, capaz de dar ao visitante a sensação de ser sempre o primeiro a desbravar esse novo mundo no cerrado.

Gruta das romarias
A abertura majestosa da gruta, a densa vegetação e a sensação de contato intenso com a natureza colaboraram para que, além de atração turística, Terra Ronca fosse considerado um lugar místico e religioso. Todos os anos, entre 5 e 7 de agosto, católicos do município de São Domingos e outros vindos de vários estados do país realizam a tradicional Romaria do Bom Jesus da Lapa e fazem suas promessas e orações na entrada de Terra Ronca I.

Segundo os moradores, não há nada escrito que comprove quando esses cultos foram iniciados, mas existem relatos de que a data é a mesma em que se realiza a romaria em Bom Jesus da Lapa, na Bahia. Os antigos romeiros destacam que o acesso à gruta, há dezenas de anos, era dificultado pela mata densa, além da perigosa travessia pelo Rio da Lapa, que corta a região. Tudo isso dava um aspecto sagrado à região antes isolada.

Tempos depois, a mata foi aberta, e pontes construídas para facilitar o acesso de visitantes. As marcas da religiosidade eternizaram-se no lugar, onde um altar de pedra foi erguido há pelo menos 50 anos. Batizados, casamentos, pagamentos de promessas e até sepultamentos são promovidos desde a década de 1920. Uma pequena entrada natural da caverna, ao lado direito do altar, funciona como o Salão dos Milagres, onde os fiéis depositam seus votos pelo cumprimento de promessas.

Por conta dos festejos e do aumento do número de pessoas todos os anos nessa época, a tradição religiosa virou atrativo para comerciantes, que começaram a montar barracas e a vender todo tipo de produtos. Outros promoviam festas, acendiam fogueiras e soltavam fogos de artifício dentro da caverna, tornando o festejo uma atividade profana e prejudicial à fauna e à flora do local.

A criação do Parque Estadual de Terra Ronca, em 7 de Julho de 1989, pela Lei n.; 10.879, definiu áreas e limites para conter esse desequilíbrio. Ao redor do município de São Domingos foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra Geral, com o objetivo de garantir a preservação ambiental do local, por meio de monitoramento e fiscalização feitos pela Agência Goiana de Meio Ambiente e Recursos Naturais. Consequentemente, o número de visitantes diminuiu, mas até hoje as peregrinações são constantes. Em 2011, foi realizada a 82; edição da romaria, reunindo centenas de pessoas, que deram seu testemunho de fé dentro desse santuário natural. (JS)

A jornalista viajou a convite da Pousada Lua de São João

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