Jornal Correio Braziliense

Turismo

Plana como Brasília, a Cidade do México tem pistas largas e arborizadas

Se fosse preciso definir a Cidade do México em uma palavra, a mais adequada talvez fosse monumental. Em termos populacionais, a capital (e sua região metropolitana) só perde para Tóquio (Japão), Nova Délhi e Calcutá (ambas na Índia). Seus cerca de 17 milhões de habitantes espalham-se por uma área de 1,5 mil quilômetros quadrados.

O traçado urbano acompanha essa grandeza de proporções. Maior avenida da capital, a Insurgentes rasga a cidade ao meio, no sentido Norte-Sul, em uma extensão de 33 quilômetros. Ligando o Oeste ao centro histórico, está a Avenida Paseo de la Reforma, que se espalha por 14 quilômetros e ganhou esse nome em homenagem ao presidente Benito Juárez. Único chefe do Executivo a ter origem indígena, ele foi autor das leis que separaram o estado da Igreja Católica, em 1857. Construída para ligar o Castelo de Chapultepec ao Palácio Nacional, a pista, uma espécie de Avenida Paulista local, ostenta praças centrais e canteiros enfeitados por bustos e estátuas de seus maiores ícones históricos: imperadores astecas, líderes revolucionários e até figuras mitológicas.

Uma das mais famosas é a Praça da Independência. Sobre uma coluna dórica, repousa El ángel, ou o anjo, símbolo da guerra que livrou o país da dominação espanhola. Plana como Brasília, a megalópole tem pistas planas, largas e arborizadas. A arquitetura, porém, não lembra em nada a escolhida para a capital brasileira. Convivem, lado a lado, arranha-céus espelhados e casarões coloniais.

Antes de abrigar o Distrito Federal ; denominação que também acompanha o nome Cidade do México ;, o lugar já era referência para as civilizações antigas. Ali, foi erguida Tenochtitlán, capital do povo asteca. Construída sobre o lago Texcoco, chegou a ser o maior aglomerado populacional das Américas, com cerca de 400 mil habitantes. Os colonizadores espanhóis, porém, invadiram a região, massacraram os índios e deram início ao povoado que hoje é a Cidade do México. As pedras arrancadas dos templos destruídos foram usadas na construção de novos palácios, praças e igrejas. Debaixo do centro histórico, estão as ruínas do mais famoso povo pré-colombiano que habitou a região.

Com a expansão populacional, a água da ilha onde a nova capital se estabeleceu foi drenada, permitindo que o desenvolvimento urbano acompanhasse o acelerado ritmo migratório. Mas o aterramento criou também um solo instável e frágil. Sobre o terreno alagadiço, a Cidade do México afunda aos poucos. Há diversas obras em andamento para reparar os danos, que aumentam a cada ano.

Murais

O epicentro dessa antiga civilização, e um dos pontos mais afetados pela instabilidade é a Praça da Constituição, ou Zócalo, um imenso vão com 150 mil metros quadrados e uma gigantesca bandeira nacional cravada no meio. A exemplo da própria cidade em que está, é uma das maiores do mundo. Em área, perde apenas para a Praça da Paz Celestial, em Pequim (China), a Macropraça de Monterrey (também no México) e a Praça Vermelha, em Moscou (Rússia). Ao seu redor, além de lojas e hotéis, estão a Catedral Metropolitana e o Palácio Nacional.

Esse último abriga muito mais do que a sede do governo (atualmente comandado por Felipe Calderón). Em seu interior, há 12 murais pintados por Diego Rivera, um dos ídolos do país, marido da também pintora Frida Kahlo. Rivera era um compulsivo dos pincéis: ao longo da vida, produziu 4km de murais, 5 mil desenhos e 3 mil telas. Seu trabalho dentro do palácio durou duas décadas (entre 1931 e 1951) e forrou as paredes do corredor do andar superior com episódios históricos e elementos da cultura local. A cidade flutuante de Tenochtitlán, a importância do milho na alimentação, o agave, bebida com diversas utilidades (entre elas, a produção de tequila) e as batalhas entre indígenas e espanhóis são alguns exemplos.

No prédio construído em 1551, com direito a pátio espanhol e chafariz central, desenrolam-se as cerimônias oficiais. Talvez por isso, a segurança seja redobrada. Não é permitido entrar com canetas e chicletes nem fumar no recinto. O uso de óculos escuros é motivo de repreensão pelos seguranças. Os rostos precisam estar reconhecíveis para as várias câmeras de segurança espalhadas pelo edifício.

Quem der sorte poderá flagrar a praça sediando pelo menos uma celebração nacional. Múmias, vampiros e personagens afins circulam por ali para exibir seu visual para as festividades do Dia do Mortos (2 de novembro). O Zócalo também abriga o encontro nacional de alebrijes, figuras fantásticas feitas em papel- machê. A tradição começou no fim da década de 1930,com os artistas plásticos José Gómez Rosas e Pedro Linares, que construíram animais coloridos, oníricos e sempre com garras, como se quisessem sair da dimensão dos sonhos e se prender à realidade.

Uma boa pausa na exploração histórica pode ser uma incursão pelas lembrancinhas típicas do país. É preciso esticar o passeio (sem sair do Centro Histórico) até o mercado de artesanato La Ciudadela, uma espécie de feira livre, onde se pode encontrar coloridas batas mexicanas, roupas típicas de diversas regiões do país, artesanato em couro, barro, pratarias, tecidos, comidas e bebidas, a preços convidativos. O espaço abre todos os dias.

Balé

Depois de se deleitar com iguarias mexicanas, prepare-se para as surpresas noturnas. O Palácio Nacional de Belas Artes já valeria a visita por sua exuberante arquitetura. Construído em mármore, em estilo art nouveau, foi desenhado pelo arquiteto italiano Adamo Boari. Além da beleza exterior, o Palácio de Belas Artes sedia a Orquestra Sinfônica do país e é a casa da ópera mexicana, e um dos palcos mais badalados da cidade.

Volta e meia, seu tablado recebe uma aula sobre a cultura e o folclore mexicanos, por meio de apresentações do Ballet Folklórico de México Amalia Hernandez. O nome homenageia a bailarina e coreógrafa (1917-2000), que, em 1952, começou a mesclar técnicas de dança clássica e moderna para fazer releituras de tradições religiosas e movimentos artísticos e sociais. Um canal de televisão local ofereceu um programa semanal a Amalia, cujo desafio era apresentar uma coreografia nova a cada edição.

Nesse processo, ressurgiram em cena os deuses astecas, os senhores do céu e da terra, jaguares, sacerdotes, revoluções, festividades, casamentos típicos e o som inconfundível dos mariachis. Quem tiver fôlego, depois de tantas cores, plumas, sons e energia ancestral, poderá curtir a noite mexicana. Em uma cidade de dimensões quase infinitas, opções não faltarão.

A jornalista viajou a convite da TAM, do Conselho de Promoção Turística do México e do Hotel St. Regis Mexico City

Dourados e vitrais

Outra obra de Boari, também no Centro Histórico, é o Palácio dos Correios, edifício de 1934, com escadarias douradas e vitrais no teto, em estilo art nouveau. Nascido em Marrara (atual Ferrara), em 1886, o arquiteto trabalhou no México, no Brasil e no país de origem. Morreu em Roma, em fevereiro de 1928.