Fortaleza ; ;O turismo é um subproduto da vida urbana; não se pode pensar o que será a cidade para o turismo e as Olimpíadas, mas sim o que esses elementos serão para uma cidade.; Enfático, o comentário vem de um dos responsáveis pela revitalização de Barcelona para os jogos de 1992: o consultor Manuel de Forn. À época da organização das Olimpíadas, ele foi comissário da prefeitura para o Plano Estratégico de Desenvolvimento Econômico e Social, num trabalho que até hoje serve de inspiração para quem trabalha com megaeventos esportivos. E, nesta quarta-feira (29/11), comandou uma das palestras mais instigantes da , no Centro de Eventos da capital cearense.
Instigante por mostrar que Barcelona, a qual viu o número de visitantes passar de 1.732.902 em 1990 para 7.136.624 em 2010, ganhou vida nova não para acomodar os jogos nem para receber os turistas, mas para dar dignidade aos moradores. ;Se uma cidade apresenta fama de ser boa na gastronomia, no transporte público ou na vida noturna, é porque tem bons restaurantes, transportes e opções culturais para quem vive nela, e não só para quem vem de fora;, insiste. ;No fim da ditadura franquista (entre 1939 e 1976) o centro era horrível, e a zona litorânea, totalmente subaproveitada;, lembra De Forn, referindo-se a partes que, atualmente, não podem ficar de fora de nenhum roteiro turístico básico.
A recuperação incluiu um aumento de 15% na malha viária, 17% na rede de esgoto e 78% nas áreas verdes, segundo o estudo ;Impacto econômico dos Jogos Olímpicos de Barcelona, 1986-2004; (2005), do economista Ferran Brunet, publicado pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB). Entre 1986 e 1992, aproximadamente 10,6 bilhões de euros (em valores de 2000, já que a moeda espanhola ainda era a peseta em 1992) foram investidos nessa infraestrutura. Outro número chama a atenção na pesquisa: usou-se apenas 9,1% desse total na construção de complexos esportivos.
Nem tudo, porém, foram boas notícias nessa preparação e na herança pós-Olimpíadas. ;A crise econômica começou no dia seguinte ao do encerramento dos jogos, o desemprego aumentou e foi necessário convencer a população de que eles, ainda assim, foram bons para a cidade;, recorda o consultor. ;Esse é um fenômeno a que o Brasil precisa ficar atento;, comenta. Logo depois do fim do megaevento, 21 mil pessoas ficaram sem trabalho. Em 1993 e 1994, mais 18 mil perderam o emprego. Essa tendência só se reverteu depois, segundo o estudo de Ferran Brunet, em 1995. A partir daí, o investimento dos anos pré-olímpicos permitiu a criação de 20.230 vagas.
Sem querer comentar oficialmente a organização das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro (;É muito difícil reproduzir os exemplos de Barcelona no Brasil, e os ciclos políticos do país são complicadíssimos;), De Forn limitou-se a reforçar a necessidade de pensar no cotidiano, e não nos megaeventos esportivos. ;É importante o Brasil pensar nas dificuldades que as pessoas têm ao estar e ao viver em suas cidades;, comentou. Palavra de quem viu Barcelona ir do desleixo ao esplendor depois de anos de trabalhos árduos.
A jornalista viajou a convite da organização da Conferência Internacional de Turismo