Jornal Correio Braziliense

Turismo

Festa do Café com Biscoito deve atrair 40 mil visitantes a São Tiago (MG)


O gosto pelo biscoito começa cedo e passa de um para o outro. Forno ligado, a massa é enrolada e a família está reunida em muitas gerações. Na casa da dona Noemi Resende é assim: ;Aprendi com minha mãe, ensinei os filhos e, agora, minha neta de 5 anos já gosta de enrolar biscoitos;, conta. Aos 71 anos, quinzenalmente ela reúne os oito filhos e 12 netos para apreciar broas, biscoitos de canjica, bolos de fubá, roscas e os preferidos: os pães de queijo.

Doces ou salgados, assados ou fritos, feitos na hora e acompanhados daquele cafezinho. Generalizar não é coisa certa, mas, cá entre nós, quem não gosta dessa combinação? Em Minas, principalmente nas cidades do interior, é comum o hábito de produzir quantidades razoáveis de biscoitos no forno e guardar em latas e potes para serem consumidos e divididos com os vizinhos. Não é diferente na cidade de São Tiago, a 187km de Belo Horizonte. Lá, porém, a tradição virou negócio forte: nas últimas duas décadas, a produção dos biscoitos ganhou jeito de indústria e hoje representa 60% da arrecadação no município.

Dos mais de 10 mil habitantes, 700 estão empregados na produção dos biscoitos. São 45 fábricas (conhecidas por lá como padarias), que produzem semanalmente 150 toneladas de quitandas, entre mais de 100 tipos de doces e salgados. Os quitutes são vendidos para cidades como Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília.

O crescimento da produção incentivou a criação de um evento com três dias de duração, que coloca gratuitamente na praça central da cidade uma mesa com 5 toneladas de biscoitos e 5 mil litros de café, segundo os organizadores. A 13; Festa do Café com Biscoito é mantida pelos produtores locais, com o patrocínio da prefeitura da cidade, e oferece também shows musicais, desfiles alegóricos e preparo de biscoitos em forno de barro, na hora, na praça. Neste ano, está confirmada a presença da banda 14 Bis.

Para quem produz o biscoito há décadas, mantendo um jeito todo peculiar de viver a vida à mineira, a quase industrialização é bem-vinda, conta dona Noemi. ;Em São Tiago, toda a vida fizemos os biscoitos no quintal. As padarias apareceram depois e estão aí para continuar com esta bela tradição.;

Além de produzir biscoitos para consumo próprio, moradores da cidade perceberam que o produto pode valer ouro. Everton Almeida, de 41 anos, dono da Leão e Almeida Ltda., foi um deles. Em 2009, ele trabalhava em uma lotérica e, nas horas vagas, produzia biscoitos de forma esporádica. Foi aí que teve a ideia de abrir o próprio negócio, em um cômodo pequeno em casa.

;Foi um ponto louco da minha vida. Eu não tinha clientes fixos, fui comprando matéria-prima, investindo e deu certo;, conta. Hoje, está satisfeito com a lucratividade da empresa. Tem dois funcionários e está à procura de mais pessoas para a equipe. ;O pessoal de 13, 15 anos, quer trabalhar, mas não pode;, opina.

Há vagas
O crescimento na produção dos biscoitos ganhou força na década de 1990. Geraldo Sampaio, gestor do Conselho de Turismo da cidade, explica que tanto crescimento hoje faz com que 10% dos moradores da cidade tirem seu sustento dos biscoitos. ;Aqui só não trabalha quem não quer;, afirma Sampaio.

Para ele, a cidade já começa a sentir falta de mão de obra para outros serviços. ;Estamos carentes de trabalhadores. Acredito que nós teremos de importar funcionários para São Tiago em breve;, afirma.

Para o próximo ano, Geraldo adianta a novidade: a ideia é estender a festa para todo o ano. Um forno vai ser construído na praça e estará aberto todos os dias para os turistas que quiserem comprar biscoito feito na hora. ;Vai ser uma oficina lúdica e gastronômica para servir a todos e funcionar como uma amostra da nossa festa;, explica.