Viajar é um momento de alívio para aqueles que buscam descansar da rotina. Mas se preparar para a hora H não quer dizer apenas estar de mala pronta, passagem em mãos e máquina fotográfica a tiracolo. A verificação de outro item é indispensável: o cartão de vacinação. Mantê-lo atualizado pode evitar imprevistos, principalmente àqueles que vão se aventurar por terras estrangeiras.
Para isso, é bom ficar de olho em algumas fontes de informação. Uma delas é o portal do Ministério da Saúde, que divulga o Calendário Nacional de Vacinação para crianças, adolescentes, adultos e idosos. Ao acessar a homepage, clique em Orientação e Prevenção e, depois, em Vacinação. No site, o viajante fica por dentro de quais precisam ser tomadas e o período para reaplicar a próxima dose. Todas as vacinas que constam no calendário nacional ; para febre amarela, hepatite B e tétano, por exemplo ; são oferecidas gratuitamente em postos de vacinação.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também reúne várias dicas importantes na página do Sistema de Informações de Portos, Aeroportos e Fronteiras (Sispaf), em www.anvisa.gov.br/viajante. Lá, é possível simular o roteiro da viagem e se informar sobre as doenças recorrentes no país que será visitado, além de ver recomendações gerais e formas de prevenção para cada uma delas.
Também é divulgado o endereço dos 80 Centros de Orientação para a Saúde dos Viajantes de todo o país e o passo a passo de como tirar o Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxias (CIVP).
A única vacina exigida pelo Regulamento Sanitário Internacional e que precisa estar preenchida no CIVP para alguns roteiros fora do país é a da febre amarela. O Ministério da Saúde também a indica em viagens para regiões com risco de transmissão no Brasil. Para fazer efeito, a dose precisa ser tomada 10 dias antes da partida e dura uma década. Outras vacinas serão exigidas somente em caso de mudança de país. A pessoa que estiver nessa situação deve procurar a embaixada do destino para se informar antes da ida.
A especialista em regulação sanitária da Anvisa, Noêmia Cabral, alerta para a importância de procurar se informar com antecedência sobre a viagem. ;Todas as vacinas têm um intervalo entre a aplicação e o efeito, que é a janela imunológica. É importante pesquisar os cuidados com a saúde antes, para que, se precisar tomar alguma, o turista tenha tempo para estar imunizado no momento da partida;, ensina.
Noêmia lembra que, à exceção da vacina contra febre amarela, todas as vacinas que podem prevenir doenças características de países e regiões estrangeiras são apenas recomendações da Anvisa. Portanto, se o turista não tomar, não corre risco de deportação. ;No caso da única vacina exigida, a da febre amarela, os países podem não permitir a entrada do viajante que não esteja portando o cartão de vacinação. Essa mesma regra vale para os indivíduos que vão residir no destino da viagem. Se eles não cumprirem a documentação, estarão passíveis de não ter a entrada autorizada;, explica.
Calendário
Qualquer viajante pode ficar doente em contato com outros hábitos de higiene, principalmente em lugares com condições sanitárias ruins e risco de contaminação, em zonas de floresta e países que sofreram catástrofes, como é o caso do Haiti. Por isso, as vacinas indicadas pela Anvisa são uma boa forma de prevenir enfermidades.
Mas, quando o destino exige uma vacina que não seja aplicada nos postos de saúde, o turista pode ter dificuldades. Uma saída é conhecer o Calendário de Vacinação do Viajante, que pode ser acessado no site da clínica de imunização Sabin Vacinas, em www.sabinonline.com.br. Ele é gratuito e informa as doenças mais comuns, a depender do destino da viagem, e a vacina recomendada.
Quem viajar à Arábia Saudita para fazer a peregrinação a Meca pode, por exemplo, se prevenir com a dose da meningocócica A e C, que é oferecida no sistema público apenas para idosos. Ou aproveitar e garantir a imunidade para qualquer viagem e tomar a vacina contra a conhecida diarreia do viajante, que também não é oferecida gratuitamente.
A infectologista e gerente técnica do laboratório de imunização, Ana Rosa dos Santos, dá dicas de vacinas que podem ser aplicadas dependendo do destino da viagem. ;Todo mundo deve estar com a carteira de vacinação em dia, principalmente aqueles que vão para áreas com condições precárias de saneamento. Nesses lugares, indico as vacinas de cólera, febre tifoide, vacina conjunta das hepatites A e B e febre amarela. Em áreas urbanas, é importante estar imunizado contra a gripe H1N1 e ver quais países ainda há circulação da poliomielite.;
Reação
Segundo a infectologista, toda vacina pode imunizar o indivíduo dentro de duas semanas, mas a reação varia de acordo com o organismo da pessoa. Por isso, quem vai viajar e se esqueceu de atualizar o cartão pode seguir a regra de se vacinar, pelo menos, 15 dias antes. Mas se a viagem é de última hora, então é preciso ter precaução.
Ana Rosa dos Santos explica que não há contraindicação para quem for tomar várias vacinas no mesmo dia, mas alerta que o perigo está em viajar sem ter dado o prazo mínimo de a vacina fazer efeito.
Exigência
O certificado internacional garante ao turista uma viagem tranquila, pois é obrigatório para a entrada em diversos países. A lista dos locais que exigem o documento é divulgada no site da Organização Mundial de Saúde, no endereço www.who.int/ith/ITH2010annexes.pdf.
Evite problemas
Antes
; Todo ano: olhar o cartão de vacinação e deixá-lo em dia;
; Duas semanas antes de viajar: verificar se é preciso atualizar a vacina da febre amarela e procurar tomar as recomendadas para o destino (que não constam no Calendário de Vacinação Nacional);
; Em cima da hora: se a viagem for inesperada, tomar as vacinas que faltam no cartão e outras específicas para o local de destino ; mesmo sabendo que a imunidade virá em cerca de duas semanas ; e seguir todas as dicas de prevenção;
; Levar um kit farmácia, contendo itens de primeiros socorros e medicamentos necessários prescritos pelo seu médico;
; Se for morar em outro país, buscar informações com a embaixada sobre outras vacinas obrigatórias para permitir a entrada de estrangeiro;
; Fazer um seguro de saúde para turismo;
; Buscar informações do local, sobre clima, altitude, fuso horário, infraestrutura urbana, alimentação, costumes, normas, cultura e as doenças mais comuns.
Na viagem
; Evitar comer alimentos crus;
; Olhar sempre o prazo de validade de comidas e bebidas;
; Beber apenas água mineral e prestar atenção na procedência do gelo usado nas bebidas;
; Se o local tiver mosquitos, levar repelente e evitar dormir em ambiente aberto;
; Sempre lavar as mãos;
; Evitar bebida alcoólica em excesso;
; Informar-se sobre a contaminação de lagos, praias, etc.;
; Se sentir febre e tosse, acompanhadas de dor de cabeça, dores no corpo, diarreia e vômitos ; ou qualquer outro sintoma ;, procure o serviço de saúde mais próximo.
Na volta
; Se apresentar febre ou outros sintomas como diarreia, problemas de pele ou respiratórios, procure o serviço médico e informe o local da viagem.
Atenção com a diarreia do viajante
Quem viaja, independentemente do motivo, precisa estar atento a doenças específicas do local de destino. E esse azar pode atingir mesmo quem tenta se prevenir e deixar o cartão de vacinação em dia. As irmãs Carolina e Fernanda Lima, 23 e 21 anos, respectivamente, sentiram na pele o que é deixar de aproveitar o roteiro. Ano passado, elas fizeram uma viagem no estilo mochilão pela América Latina e tiveram intoxicação alimentar causada por bactéria, doença conhecida como diarreia do viajante.
A primeira a passar mal foi a concurseira Carolina, no Chile, depois de beber água da torneira, que acreditava ser tratada, assim como na Argentina. ;Passei a noite inteira com febre e suando. Só acordei às 19h do dia seguinte e os sintomas haviam acabado;, conta. Já a estudante de administração Fernanda não se sentiu bem na Bolívia. Depois de comer uma sopa na rua, precisou ser levada ao hospital. ;Acordei passando mal e, à noite, tive de ir ao hospital, onde tomei antibiótico e fiquei em repouso. Por sorte, tinha o seguro de saúde de viagem, que pagou o táxi, os remédios e o atendimento;, alivia-se.
As irmãs mochileiras dobraram os cuidados na viagem. ;Agora só tomo água de garrafinha. Também tenho um kit de talheres de plástico para usar no albergue. E se for comer fora, procuro lugares conhecidos;, ensina Carolina.
Mal comum
Sintomas como cólica, enjoo, mal-estar e febre baixa são indicativos da presença da bactéria Escherichia coli, causadora da diarreia do viajante. A evacuação costuma ser controlada e suportável, mas, se agravada, o doente deve ir ao hospital. Cuidados podem ser tomados, como beber bastante água mineral, lavar as mãos após ir ao banheiro e antes de preparar refeições.