Jornal Correio Braziliense

Turismo

O corte e a 'cicatrização' do Serra da Estrela são características únicas

Na segunda câmara de maturação, com temperatura um pouco mais alta e menor umidade em relação à primeira, o queijo desenvolve a incrível consistência cremosa em seu interior. Ele adquire aspecto tão frágil que a casca de alguns chega a se romper e, curiosamente, ;cicatrizar;, como se fosse um corte na pele.

Terminada a cura, o Serra da Estrela está no ponto perfeito para ser degustado. Fica com 15cm a 20cm de diâmetro e cerca de 1kg. A casca fica levemente amarelada, nem muito dura, nem mole em excesso. Pressionando suavemente a face superior, é possível perceber o interior extremamente macio.

Ao cortar uma tampa na face superior do queijo e levantá-la, torna-se possível perceber a textura cremosa e o aroma intenso. Dá para comê-lo de colher. Na boca, tem textura totalmente lisa e untuosa. O sabor é bem característico, como o de outros queijos de ovelha, mas não tão forte. Trata-se de um queijo tão magnífico e com tanta personalidade que pão e um bom vinho são os acompanhamentos ideais numa degustação. Nada mais. Alguns sugerem, ainda, harmonizá-lo com vinho do porto.

Como acontece com todo queijo, o tempo também passa para o Serra da Estrela. Uma vez aberto, deve ser consumido, preferencialmente de uma vez só, o que não é tarefa difícil. Entretanto, é possível tampá-lo e deixá-lo em geladeira por até uma semana, de maneira a preservar o caráter ;amanteigado;. Deixado do lado de fora, continua a curar até a massa se tornar rígida como pedra. Antes disso, é claro, passará por estágio em que pode ser cortado com faca e saboreado em fatias ou pequenos bocados.

Também vale a pena prestar atenção a outros produtos feitos com o leite das mesmas ovelhas, como o requeijão e o iogurte. O primeiro, apesar do nome, não tem nada a ver com o queijo cremoso ou em barra conhecido no Brasil. Feito com o soro que escorre durante a elaboração do Serra da Estrela, é um queijo fresco, macio e de sabor suave, parecido com a ricota. Os portugueses apreciam comê-lo como sobremesa, acompanhado de doce de abóbora. Aliás, diante dessa combinação infalível, não há como não se lembrar do queijo combinado com goiabada, doce de leite ou outras compotas da roça, tão comuns em muitas cidades do interior do Brasil. Já o iogurte tem sabor rico e levemente ácido. (ETG)