Jornal Correio Braziliense

Turismo

Em plena segunda, Praga oferece programas culturais para todos os públicos

Segunda-feira, o hóspede sai do hotel no fim de uma manhã de outubro. Não carrega um plano, uma indicação, não se faz acompanhar de guias. Está disposto a se deixar surpreender pela cidade. Lufadas do ar frio do outono contrastam com o fervor dos pequenos grupos a andar de um lado a outro nas ruas, como de resto acontece em todos os lugarejos turísticos do mundo. Até que numa esquina, a não mais de 500 metros do ponto de partida, revela-se algo de impressionar: num galhardete de madeira de aproximadamente 2m de altura, anunciam-se em fôlderes 28 espetáculos para as horas seguintes, até o fim da noite.

Para um morador de Brasília, onde o cantar dos grilos já ecoa no fim de tarde das segundas-feiras, é de espantar tamanha fartura à disposição durante o dia inteiro, mas não só isso. Nesse cardápio, há desde tradicionais montagens em marionetes da ópera Don Giovanni, de Mozart, até apresentações de balé clássico, orquestras de câmara oferecendo peças eruditas conhecidas ; As quatro estações, de Vivaldi; Fuga em sol maior, de Bach; Ave Maria, de Bizet ; e várias iguarias da cultura tcheca servidas numa mesma embalagem, o tradicional teatro negro de Praga (leia sobre essa técnica no Para Saber Mais).

Noves fora o turismo histórico, portanto, os espetáculos são um diferencial da capital tcheca, não só pela fartura e diversidade. Como a população se guarda para a temporada da Orquestra Filarmônica no Teatro Nacional ; e os bilhetes esgotam-se com meses de antecedência ;, aos turistas, que só conseguem comprar entradas no dia da apresentação, restam os muitos shows feitos nas igrejas e nos teatros menores às 15h, 17h, 19h e 21h.

Nos templos, música e arquitetura se unem num único programa. A combinação rende dividendos. O interior das construções dissipa as ondas sonoras de forma limpa, justa. A música, por seu lado, eleva o espírito a altura suficiente para fazê-lo apreciar os adornos barrocos ou as curvas e as cúpulas góticas. Juntos, os sons e as construções são apreciados a 400 coroas, ou R$ 40, cada apresentação de pouco mais de uma hora. Mas o preço pode cair.
O jornalista viajou a convite do Escritório de Turismo da
República Tcheca no Brasil



PARA SABER MAIS
A barreira do idioma
O teatro negro é uma técnica surgida na República Tcheca para driblar a dificuldade do idioma ; de linhagem eslava, primo do russo. Contam os guias que os primeiros atores a aportar no país não dominavam a língua e não conseguiam adaptar seus textos.

Desenvolveram, então, espetáculos em que não se fala nem uma palavra sequer. Contam histórias do folclore tcheco e versões de textos consagrados ; Peter Pan, Alice ;, tudo diante de um fundo completamente negro. Os protagonistas atuam com figurinos normais e encenam por meio de mímica. Mas outros atores se vestem com roupas pretas e dão vida a truques cênicos capazes de fazer voar objetos, por exemplo. Jogos de luz e trilha sonora completam a linguagem, com que se transmitem ideias complexas, mesmo sem qualquer comunicação verbal. (UB)