De acordo com pesquisa do Ibope, 40% de usuários da internet no Brasil são também ouvintes de podcasts. E o país já é o segundo maior consumidor do formato, segundo dados do Spotify, atrás apenas dos Estados Unidos.
Com temas desde a parte técnica da produção de um podcast, passando pela "invasão" dos influencers, até um panorama mais amplo do mercado: a programação trouxe dicas para quem quer começar a produzir este tipo de conteúdo e também discussões mais aprofundadas sobre a economia do setor.
Mais do que entretenimento, o formato de podcast se configura como uma aposta segura, inclusive entre marcas que buscam novos jeitos de atingir consumidores. A monetização de podcasts foi um tema de destaque entre o conteúdo.
Alexandre Ottoni, do Nerdcast, conta que o podcast é rentável desde 2007, um ano após entrar no ar. Parte do sucesso se deve à popularidade do blog que originou o conteúdo em áudio, o Jovem Nerd, e que até hoje tem uma base de seguidores enorme.
Já Camila Fremder, do É nóia minha?, conta que recebeu propostas de parceria para publicidade a partir do quarto episódio. A roteirista acha que o bom desempenho do podcast, entre ouvintes e anunciantes, é fruto de uma demanda pelo conteúdo trazido pela programa: uma conversa aprofundada sobre o tema da semana, que pode ir desde hipocondríacos até o dilema de quem quer se informar "sem enlouquecer".
Os criadores ressaltam também a importância do podcast como forma de entretenimento e informação. "É mais que uma simples companhia enquanto as pessoas estão no caminho para o trabalho ou lavando a louça. A maneira como trazem notícias, contam histórias, fazem refletir ou melhoram realidades financeiras vai muito além", afirma Javier Piñol, responsável pelo Spotify Studios na América Latina, sobre as comunidades que surgem em torno dos podcasts.
Os participantes do evento puderam também conhecer algumas marcas e produtos que auxiliam na criação e divulgação dos podcasts. Audrey O;Clair, representante da Soundtrap (empresa que oferece gravação, edição e transcrição de áudio, além da hospedagem online), conta que a companhia surgiu para atender demandas de produtores musicais, mas que se adaptou ao mercado crescente de podcasts. Muitas das empresas presentes estão no processo de traduzir as funcionalidades para o português.
Entre os podcasters mais conhecidos e populares, estavam presentes Cris Bartis e Ju Wallauer, do Mamilos; Alexandre Ottoni e Deive Pazos, do Jovem Nerd, Ivan Mizanzuk do Projeto Humanos/Caso Evandro; Roberta Nina e Angélica Souza do Dibradoras/Oêa. A relação entre a música e o podcast foi realçada em um painel com Sorocaba, da dupla com Fernando, que falou sobre a produção de Isso é churrasco, programa com os bastidores da criação do novo álbum sertanejo.
O evento contou ainda com convidados internacionais, como Julia Kaplan, da Gimlet - maior produtora de podcasts do mundo, adquirida recentemente pelo Spotify. Para a executiva norte-americana, o segredo para um conteúdo de qualidade é unir pessoas boas de contar histórias com especialistas em áudio.
O jornalismo também teve espaço no evento, com a presença de Renata Lo Prete, apresentadora de O assunto (Globo); Camila Olivo do Panorama CBN; José Orenstein e Conrado Corsalette do Durma com essa (Nexo); Emanuel Bomfim do Estadão Notícias; e Magê Flores e Rodrigo Vizeu do Café da Manhã (Folha de São Paulo), gravaram com a plateia e a presença de Mônica Bergamo uma edição especial do programa.
Este foi o primeiro evento voltado pra podcast que o Spotify realiza no mundo. O objetivo da empresa é se tornar líder mundial no mercado de música - e de podcasts. Atualmente, 500 mil desses programas já estão hospedados na plataforma.
Entrevista: Javier Piñol, Spotify Studios América Latina
Você começou na música. Como foi a mudança, entrar no Spotify e trabalhar com podcast?
Este percalço durou muitos anos. De cada etapa, aprendi muitas coisas. Na TV, aprendi a tratar o conteúdo com imediatez, respeitando a qualidade. Aprendi que as reportagens sem músicas são mais difíceis de ver. A música ancora o conteúdo. O Spotify começou como plataforma de música. Fizemos o mesmo trajeto em conteúdo.
Como é o trabalho do Spotify Studios?
É dentro do que chamamos de Spotify Content, que cria música, que cria a estrategia de conteúdo, a aquisição, a produção e, depois, ajudar equipe de produção para que o conteúdo seja melhor. E também fazemos eventos, pelo visto (risos). Criamos equipes locais que entendem a diversidade cultural de cada região, estruturamos a estratégia de conteúdo e aplicamos os criadores nesse desenvolvimento de produtos. No Brasil, temos agora uma equipe de três pessoas; no ano que vem, será o triplo. E de conteúdo, atualmente temos três podcasts originais no país ano que vem, não sei, quatro vezes esse número.
Como vocês escolhem as parcerias e qual é o processo de criar conteúdo?
Em alguns casos, ajudamos a incentivar um tipo de gênero no ecossistema. Em outros tentamos incentivar esse formato que é relativamente novo. Trabalhamos com influenciadores como Kondzilla ole Cris Vianna para ajudar a divulgar este formato, de alta qualidade, para contar histórias.
Existe alguma particularidade do Brasil em relação a outros mercados?
O Brasil é muito grande. Esse tamanho, essa diversidade, essa escalabilidade definem o país. Aqui as coisas crescem em escala muito rápido. Isso é maravilhoso, nos permite testar mais ideias. Este é um país perfeito para testar o que vem por aí. Admiro a capacidade de adaptação do brasileiro, o ;jeitinho;. O brasileiro entende muito mais rápido as coisas que outros. Acho que esse é o segredo do crescimento tão incrível do podcast no Brasil.
O evento reuniu podcasters experientes e fãs, quem já está na área e quem quer começar.
A casa dos podcasts, o Spotify, tem que ter pessoas em momentos distintos da criação. Parte da vantagem deste evento é que estes criadores estejam juntos: que Wanda [podcast Um milkshake chamado Wanda] converse um criador menor, que diga "Vamos tomar um café?". Vi com meus próprios olhos que os que estão começando vão sair daqui mais seguros, porque os grandes estão contando pra eles sobre como se sustentam. A responsabilidade do Spotify é criar o cenário ideal onde os podcasters se alimentem entre si. Eu não saberia dizer a alguém o que fazer, mas 800 dos melhores criadores do país sabem e têm a responsabilidade de compartilhar. Que outro evento você pode ir e conversar com Nerdcast, Mamilos? A rádio tem ouvintes, o podcast tem comunidades. Este sentimento de pertencimento é como uma família.
Essa questão das comunidades é muito mencionada pelos palestrantes. De que outros jeitos o podcast se diferencia dos outros formatos?
O podcast, junto com a leitura, permite que as pessoas recriem, reencenem, com suas próprias visões de mundo, o conteúdo. O áudio é um dos poucos formatos em que p público é parte ativa da criação. Outra das grandes maravilhas é que é on demand, quando você quer, onde você quer, como você quer. Posso recriar uma história lavando a louça ou dirigindo ou na academia.
O podcast é um formato popular entre jovens. Como trazê-lo para um público mais velho?
Os jovens que começaram em outros formatos, cedo ou tarde envelheceram também. E pessoas mais velhas também se encantam com o formato. Apesar de a audiência do podcast ser mais jovem agora; os mais velhos também se interessam, só estão um pouco mais longe. Acho que é uma questão de tempo.
O que se pode esperar do podcast a longo prazo?
Não faço ideia. O que sei é que a forma mais velha de relacionarmos Como a humanos é contar histórias. Antes da escrita, da imprensa de Gutemberg, do cinema, as histórias eram contadas. Esse desejo tão humano não vai desaparecer.
Quais são seus podcasts preferidos?
Em português, Café da Manhã e O assunto. Sou catalão, então o que ouço todos os dias quando acordo é um podcast catalão de notícias, El món; e antes de dormir Tu dirás, com notícias sobre o Barcelona (time de futebol). Em inglês, gosto muito do Startup, do Gimlet.
*A repórter viajou a convite do Spotify.