A Apple confirmou nesta terça-feira a queda de seu volume de negócios no final de 2018, sobrecarregada pelas decepcionantes vendas de seu principal telefone, o iPhone, e seus menores lucros na China.
Apesar dos resultados, a empresa americana de tecnologia conseguiu tranquilizar os investidores e sua participação aumentou quase 6% na Bolsa, por volta das 21H30 GMT (19H30 horário de Brasília).
O grupo mostrou que tinha mais fontes de crescimento do que o iPhone. Outros dispositivos, como tablets iPad e computadores Mac, e especialmente serviços ("streaming", armazenamento em nuvem, pagamentos digitais), permitiram que a companhia mantivesse um lucro líquido quase estável, de quase 20 bilhões de dólares.
"Embora seja decepcionante não ter alcançado nossa meta [inicial] em termos de faturamento, nós administramos a Apple no longo prazo, e os resultados desse trimestre mostram que nossa força subjacente é profunda e ampla", disse o CEO da empresa Tim Cook.
O volume de negócios dos últimos três meses de 2018, o primeiro trimestre do ano fiscal, caiu 5%, para 84,3 bilhões de dólares.
Essa redução foi resultado da queda de 15% na receita obtida com o iPhone (52 bilhões de dólares), que a empresa atribui à estagnação da economia na China. Nesse imenso mercado, o grupo faturou 13,16 bilhões de dólares, 27% a menos.
No entanto, as receitas geradas pelos serviços aumentaram 19% para 10,9 bilhões de dólares, ligeiramente acima das previsões dos analistas. E, com exceção do iPhone, todos os dispositivos aumentaram suas vendas.
Para o analista Neil Saunders, da Global Data, "essa queda incomum no volume de negócios é o símbolo de uma empresa que está começando a ficar sem fôlego".
No início de janeiro, a empresa norte-americana surpreendeu ao anunciar que suas receitas e vendas do iPhone haviam sido piores do que o esperado nos últimos três meses de 2018.
De acordo com a empresa, as decepcionantes vendas de seu telefone se devem à estagnação da economia chinesa e de outros países emergentes, e à guerra comercial travada contra a China pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A publicação dos resultados ocorreu alguns dias após a descoberta de um problema de segurança no FaceTime, seu aplicativo de chamada de vídeo. O bug permitia ao usuário ouvir e ver seu interlocutor em um iPhone antes mesmo de ele responder. A Apple suspendeu o serviço e prometeu corrigir o erro nesta semana.
Dependência
A Apple teve que convencer os investidores de que tinha uma estratégia para reduzir sua dependência do iPhone, cujas vendas sofrem com a saturação do mercado de smartphones.
Até agora, o grupo norte-americano tem conseguido compensar a redução nas vendas com o lançamento de celulares cada vez mais caros, com preços que excedem US $ 1 mil para alguns modelos.
Uma estratégia que tem dado certo, na medida em que o volume de negócios cresce muito mais rápido do que as vendas. Entretanto, ela poderá começar a falhar em uma economia mundial estagnada.
A empresa também enfrenta forte concorrência de outros fabricantes que oferecem produtos similares e mais baratos. Além da líder global no setor, a sul-coreana Samsung, a Apple enfrenta a ambiciosa empresa chinesa Huawei no mercado mundial.
Diante dessa nova situação, a Apple lançou o iPhone Xr em setembro, mais barato que o Xs e o Xs Max. De acordo com a empresa de análise de mercado CIRP, o XR vendeu melhor que os outros dois modelos nos Estados Unidos.
Como sempre acontece com a Apple, há inúmeras especulações sobre seus projetos. Muitos analistas acreditam, por exemplo, que o grupo pode decidir disputar diretamente com os serviços de vídeo da Netflix e da Amazon, investindo muito dinheiro na produção de conteúdo original.
A empresa ainda intervém pouco neste setor, mas no ano passado anunciou que a famosa apresentadora e empresária Oprah Winfrey iria produzir programas para sua plataforma audiovisual.