Rodrigo Guskuma, engenheiro eletricista, apresentou a primeira versão da plataforma na conclusão do curso na Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, os MIDIs (Leia Para saber mais) existentes no Brasil têm boa parte da estrutura importada, o que acaba encarecendo o produto. ;Mas nós não precisamos disso: temos todos os componentes necessários para montar a plataforma aqui. A ideia é promover a musicalização do instrumento brasileiro. Nos produtos musicais daqui, quase tudo é em inglês, vem de fora;, afirma.
O controlador é composto por 12 botões, cada um referente a uma nota musical. As teclas, junto com o circuito elétrico que permite o funcionamento da invenção, foram acopladas em uma estrutura de acrílico. O software implantado no controlador, chamado Arduíno, processa as informações da plataforma e as traduz em forma de sons. Segundo os engenheiros, esse chip é de fácil acesso e baixo custo, facilitando a aquisição do instrumento.
Além disso, mesmo pequeno, ele compacta todo o código necessário para o próprio funcionamento, otimizando o trabalho. ;Há um tempo, você não encontrava um microprocessador por um valor acessível, era de três zeros pra lá. Hoje, o valor já reduziu bastante, o que facilita a aquisição de uma plataforma do tipo;, diz Guskuma. Hoje, ferramentas do gênero podem ser encontradas na casa dos dois dígitos.
Para tocar uma nota, o usuário deve apertar uma das 12 teclas do controlador, o que aciona as chaves do sistema e avisa sobre o comando. O microprocessador Arduíno percebe a mudança da tensão no circuito elétrico e transfere a informação para um software de música de um computador externo conectado via USB.
Guskuma ressalta que não é a plataforma que toca a música. Ela manda a descrição da ação. ;A parte sonora é realizada por uma máquina de fora. Funciona da seguinte maneira: apertamos a nota dó e, assim, geramos a abertura de uma das chaves do circuito. O chip, ao perceber esse movimento, redireciona e traduz o comando para o computador, que, aí sim, emite o som;, detalha.
A plataforma conta ainda com quatro potenciômetros, que permitem que o usuário controle a tonalidade das notas emitidas, variando a voltagem no circuito elétrico de 0 a 5 volts. Outra característica que chama a atenção é a versatilidade. Na fase de testes, o protótipo do controlador MIDI tocou uma música de três minutos em três combinações distintas. Na primeira, o aparelho foi conectado a um computador com software livre. Na segunda, a uma máquina com software pago. Por fim, foi ligado a um software em um celular. Em todos os casos, o sistema funcionou normalmente.
Novas etapas
Por indicação da USP, Cristiano Lacerda está nos Estados Unidos participando dos primeiros trabalhos de acompanhamento da startup Ginga, criada por ele e o amigo para o desenvolvimento do projeto. ;Durante o processo de fabricação do nosso protótipo, tudo foi produzido de forma muito rudimentar. Eu fui soldando o circuito sozinho, por exemplo. Com esse apoio, queremos aprender a tornar isso mais reprodutível;, pontua o também engenheiro eletricista.
Daqui, o parceiro planeja outras alterações no sistema a fim de melhorar a capacidade técnica e musical. ;Queremos implementar um menu eletrônico para ampliar a nossa escala total de tonalidade para 128 possibilidades. Não demanda nenhum botão a mais, vai ser tudo feito virtualmente, dentro de um código específico;, relata Guskuma. A plataforma com a nova alteração deve ficar pronta no próximo mês.
A dupla também planeja utilizar um processador com maior potência. ;Hoje, precisamos conectar o nosso sistema a um computador externo por cabo USB para que a música toque. Mais para frente, pretendemos realizar essa conexão via wifi ou bluetooth, o que não aconteceria usando o Arduíno como microprocessador. Mas isso ainda exigirá um bom tempo;, diz Guskuma.
Para saber mais
Plataformas com interface MIDI são utilizadas na criação, gravação e reprodução de música eletrônica. Geralmente, estão presentes em instrumentos musicais digitais, como teclados. Desenvolvida em 1980, a tecnologia não produz som por si só e, por isso, precisa de um outro equipamento que entenda a linguagem MIDI para gerar os efeitos sonoros desejados. Existem diversas classificações de interface MIDI. Na IN, o aparelho recebe um comando externo e emite o som equivalente. Na OUT, o aparelho emite o comando para uma fonte, mas não pode emitir som algum. Desse modo, quando se utiliza instrumentos eletrônicos para tocar música, precisa-se de uma plataforma MIDI OUT, que possa enviar o comando, como ;emita a nota dó; ou ;emita a nota dó com mais força do que a nota mi;; e de uma plataforma MIDI IN, que possa receber a mensagem e desempenhar a atividade ; no caso, emitir a nota dó.
*Estágiario sob a supervisão de Carmen Souza