É o caso de uma equipe formada por pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausana (EPFL) e do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique (ETH Zurick), ambos na Suíça. Eles desenvolveram a DextrES, luva capaz de interagir com espaços replicados virtualmente. Quem usa o artefato consegue sentir objetos do ambiente imaginário ao interagir com eles. ;Nós começamos desenvolvendo dispositivos táteis para cegos. Então, percebemos o potencial da sensação de toque em outras ferramentas e decidimos aplicar a solução em luvas de RV. Com essa tecnologia, as pessoas serão capazes de perceber uma xícara de café quente em um espaço recriado;, ilustra Herbert Shea, coordenador do Laboratório de Transdutores Suaves da EPFL e líder da pesquisa, apresentada no Simpósio ACM sobre Interfaces de Softwares e Tecnologia, na Alemanha.
Além da entrega tátil, Shea acredita que a solução melhora a usabilidade de aparelhos de realidade virtual. ;Apesar de já existirem tecnologias semelhantes, nosso objetivo é produzir luvas com um exoesqueleto mais leve, que usem menos energia e sejam capazes de ser aplicadas, inclusive, em outros espaços, como a realidade aumentada;, afirma.
A criação foi feita a partir de nylon e pequenas tiras de metal elástico, separadas por um fino isolador. Cada tira envolve um dos cinco dedos da mão do usuário, que consegue interagir com o ambiente quando uma voltagem diferente entre os dedos é gerada. ;O fato de a voltagem ser diferente entre as cinco tiras causa uma atração eletrostática que junta todos os dedos da mão e bloqueia o movimento em torno do objeto virtual manipulado;, detalha Shea.
Com o movimento bloqueado, a tecnologia precisa de menos energia para funcionar. Edgard Lamounier, coordenador da pós-graduação em engenharia biomédica da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, explica que a manipulação de objetos em três dimensões é diferente da de materiais em 2D. Por isso a possibilidade de economia apresentada pelos cientistas suíços ser tão vantajosa. ;A manipulação em 3D demanda mais esforço do computador. Economizando energia, tornamos luvas assim mais acessíveis à população;, opina.
Leveza
O DextrES usa 200 volts para aplicar uma força de 40 newtons em cada dedo da mão, grandezas que viabilizam o uso de baterias realmente pequenas, de acordo com os pesquisadores responsáveis. ;Embora sejam valores muito bons, os criadores da luva ainda precisarão reduzi-los para adequá-los a padrões de segurança de tecnologias vestíveis;, pontua Denys Makarov, cientista do Instituto de Pesquisa em Materiais do laboratório de pesquisa alemão Helmholtz-Zentrum Dresden-Rossendorf e pesquisador em RV (Leia para saber mais).
A luva também traz novidade em sua massa total. O material que envolve cada dedo pesa 8g. ;É um nível de leveza e de conforto realmente interessante, mas que ainda precisará ser melhorado. Afinal, a luva somará cerca de 50 gramas, e esse valor pode ser melhor adaptado para a experiência final do usuário;, opina Makarov. Para Lamounier, o avanço da tecnologia viabilizará a reformulação com o passar do tempo. ;Há alguns anos, tínhamos um capacete de realidade virtual extremamente pesado. Ninguém conseguia usar aquilo sem ficar tonto ou se sentir mal. Hoje, com as descobertas de novos materiais, temos acesso a capacetes extremamente leves e confortáveis;, afirma.
Cérebro enganado
As novas luvas fascinaram o pesquisador do Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Lisboa Joaquim Jorge, que destaca o potencial da tecnologia em ;enganar o cérebro; e abrir novas portas para a experiência virtual. ;Hoje, já conseguimos enganar relativamente bem o nosso sentido da visão. Falta descobrir como fazer o mesmo com os outros. Nesse contexto, a DextrES é um novo passo, uma vez que parte de um princípio muito interessante;, enfatiza.
De acordo com Joaquim Jorge, as luvas utilizam um material muito leve, que, em vez de usar força ativa, aposta na força passiva do usuário. ;Conforme a força aumenta, mais pesado fica o aparelho. Se apostarmos em um equipamento que bloqueia os movimentos de quem o utiliza, reduziremos a força despendida e a sensação de peso, ao passo que melhoraremos a experiência das pessoas. É isso que a pesquisa de Shea faz;, explica.
A fim de avaliar a usabilidade e a experiência fornecida pela DextrES, os cientistas convidaram voluntários para testar a luva e outros dispositivos semelhantes. Ao fim do estudo, conta Shea, ;eles acharam que o aparelho forneceu mais informações sensíveis, além de ser mais confortável;.
50g
Peso da luva, composta por nylon e pequenas tiras de metal elástico
Real e imaginário
A realidade virtual é baseada em espaços criados virtualmente em computadores. Na prática, eles não existem de verdade. Já na realidade aumentada, partes do ambiente recriado interagem com o próprio local em que você se encontra, como uma mistura do imaginário com o real.
;Com essa tecnologia, as pessoas serão capazes de perceber uma xícara de café quente em um espaço recriado;
Herbert Shea, íder da pesquisa e coordenador do Laboratório de Transdutores Suaves da Escola Politécnica Federal de Lausana