Quando Batman: Arkham Asylum foi lançado em 2009, o mundo dos games foi pego de
surpresa. Com um sistema de mundo aberto amplo, métodos de combate inovadores e momentos de
investigação, o Homem Morcego finalmente recebeu um jogo à altura da importância do personagem.
Seis anos e três capítulos depois, chega às lojas Batman: Arkham Kinght, anunciado como
a conclusão da saga criada pelos estúdios da Rocksteady. E a história alcança um final que beira
o primoroso.
[SAIBAMAIS]Tudo que era visto e amado pelos fãs nos três jogos anteriores (Arkham
Asylum, Arkham City e Arkham Origins), retorna e é melhorado de forma
significativa. A começar pelo mapa, cinco vezes maior do que o visto em Arkham City.
Gotham está mais ampla, rica e detalhada do que nunca. A atmosfera fica ainda mais completa com
a noite que se prolonga, com o tempo sombrio e os divertidos diálogos que podem ser ouvidos
entre bandidos nas ruas.
O sistema de combate free flow, que mudou a forma de criar batalhas em games, está
mais fluido e cativante do que nunca, graças a novas possibilidades de combos e de interação com
o cenário.
As missões secundárias são tão envolventes que é muito fácil se ver distraído em relação à
história principal (ou mesmo menos interessado em segui-la de imediato), apenas para poder
continuar a caça a trofeús, charadas, capangas do Pinguim e do Duas-Caras ou então para resolver
uma série de assassinatos no melhor estilo detetive high tech, possibilitado pela
tecnologia do Batman. Todos os desafios são muito variados e proporcionam um excelente trabalho
em fazer o jogador explorar as ruas da enorme Gotham.
Novidades
E é satisfatório ver como a desenvolvedora não quis deixar tudo fácil demais, já que certas
tarefas só podem ser localizadas se o jogador prestar muita atenção nos arredores. Um bom
exemplo é quando deve-se caçar o vilão Morcego Humano: para localizá-lo, nada de um ponto
marcado no mapa para ser seguido. Enquanto ele voa pela cidade, é necessário prestar atenção aos
guinchos altos emitidos por ele nos céus.
Mas o jogo não seria tão bom se apenas ampliasse o que já existia. E então entram as principais
novidades. A principal delas, extremamente divulgada pela Rocksteady, é o Batmóvel - disponível
para ser utilizado pela primeira vez na série. E, engana-se quem pensa que ele serve apenas como
uma forma de transporte por Gotham, o veículo é capaz de se transformar numa espécie de tanque
super poderoso e ágil.
Usar a máquina pode não parecer a ideia mais empolgante para quem quer apenas voar pelos céus
da cidade e bater em criminosos. Mas, os desenvolvedores conseguiram encaixar o Batmóvel no game
de forma interessante. Não apenas com perseguições e batalhas contra drones, mas também em
quebra-cabeças que só podem ser resolvidos com a ajuda do carrão.
Outro atrativo muito benvindo é a possibilidade de controlar, em momentos muito específicos,
alguns personagens secundários como Mulher Gato, Robin e Asa Noturna. É possível, não apenas
alternar entre eles e o Homem Morcego, mas também fazer combos em dupla que tornam as batalhas
mais mirabolantes e envolventes.
Roteiro de coragem
Em Batman: Arkham Knight, a grande ameaça é o Espantalho, que pretende contaminar
Gotham City inteira com um alucinógeno gás do medo. Devido ao perigo, a cidade é evacuada - o
que a deixa praticamente deserta - a não ser por Batman, a polícia e os bandidos que ficaram
para trás nas ruas.
A trama poderia parecer muito básica e sem brilho se ela se resumisse apenas a esse plano do
Espantalho. Afinal, histórias similares já foram vistas antes: não apenas por ser a mesma ameaça
feita pelo mesmo vilão no filme Batman Begins (2005), mas também pelas diversas
histórias em que a cidade se viu preocupada com o Coringa e o gás do riso dele. A Rocksteady,
porém, enriqueceu o enredo de forma eficiente com a criação de um novo inimigo: o Cavaleiro de
Arkham, uma figura misteriosa que conhece todos os métodos do Batman e é capaz de enfrentá-lo
quase de igual para igual.
Por quase todo o jogo, fica a intriga para saber qual a verdadeira identidade do Cavaleiro de
Arkham. Cada interação entre o Homem Morcego e o novo vilão só aumenta a curiosidade do jogador
e serve de descanso para a linha de história do Espantalho, extremamente clichê em diversos
momentos.
Outro acerto narrativo de Batman: Arkham Knight é a maior presença dos ajudantes
clássicos, como o comissário Gordon, Oráculo, Robin e Asa Noturna. Todos eles tiveram
participações mais tímidas nos games anteriores, mas aqui aparecem como peças fundamentais para
levar a história adiante e, melhor ainda, para dar mais complexidade ao protagonista. Na
interação dele com os colegas, vê-se uma faceta tradicional do Batman explorada nos quadrinhos,
mas ainda pouco vista nos games: a do herói que precisa tomar decisões que parecem muito
egoístas (e, às vezes, moralmente questionáveis) como forma de sacrifício pelo bem maior da
cidade e das pessoas que ele jurou proteger.
As reviravoltas já vistas nos títulos anteriores também estão presentes aqui, mas em maior
número. São diversas cenas que tentam pegar o jogador de surpresa (algumas com mais sucesso,
outras com menos) e dão origem a momentos dramáticos que demonstram como a Rocksteady não teve
medo de tomar certos riscos narrativos.
A história se desenrola muito bem na edição nacional graças ao ótimo trabalho de dublagem feito
no game, que contou com Ettore Zuim - responsável por dar voz a Batman nas versões dubladas da
trilogia dirigida por Christopher Nolan no cinema. O único problema são alguns momentos pontuais
em que a tradução deixa a desejar. Mas nada que tire a imersão do jogador.
Desfecho
Para todos os efeitos, Batman: Arkham Knight é a conclusão que a série merece. A
franquia é, sem sombra de dúvidas, a melhor adaptação de super-heróis para os videogames, graças
à eficiência em por o jogador na pele do Batman em todas as facetas do personagem: o brutamontes
mestre do combate, o justiceiro dos aparelhos tecnológicos, o detetive perspicaz e incansável.
Tudo isso em meio a um mundo aberto convidativo, com mecânicas melhoradas, desafios intrigantes
e história bem elaborada, mesmo que previsível em diversos pontos.
Se os aspectos mecânicos do jogo já são suficientes para tornar este título extremamente
recomendável, Batman: Arkham Knight tem ainda o mérito de conseguir transmitir os
conflitos internos clássicos do personagem da forma mais eficiente já vista nos videogames até
hoje. Aqui, Batman não é mais apenas o detetive lutador visto nos títulos anteriores. Ele é
também o protagonista atormentado pelo próprio lado sombrio, pelas próprias limitações e pelo
impacto que causa na vida de quem se une a ele. Pode soar dramático, mas fica claro que o tom de
grandiosidade era o objetivo da Rocksteady ao elaborar o capítulo final da franquia que criou. E
nenhum final é mais justo para a série que mudou a forma de criar games de heróis.
Nota
Jogabilidade: 2,5
Sons: 2,5
Entretenimento: 2,0
Gráficos: 2,5
Total: 9,5
Informações técnicas
- Publicação: Warner Bros. Interactive Entertainment
- Desenvolvimento: Rocksteady Studios
- Plataformas: Xbox One, PlayStation 4, PC, Mac, Linux
- Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
- Jogadores: 1
- Preço: R$ 199,90 (consoles) R$ 120 (computadores)