Jason Rosenberg é uma dessas mentes obstinadas. No caso dele, sempre em relação ao futuro e à comunicação. Como as pessoas interagem em todas as esferas? Como os políticos dialogam com a sociedade ; quando, de fato, o fazem. Quais os erros e os acertos nas conversas entre organizações e clientes? As perguntas permeiam o inconsciente de Rosenberg com uma inclinação descarteriana: comunico, logo existo, mas como?
Ex-diretor de Comunicação On-line da Convenção do Partido Democrático nos Estados Unidos em 2008, Rosenberg, aos 33 anos, teve boa parte da carreira ligada à política norte-americana. Trabalhou na campanha de John Kerry para o Senado em 2002 e, entre uma coisa e outra, coordenou uma série de eventos dos democratas em diversos estados americanos. Em março de 2010, foi peça-chave para reconstruir a campanha Rock the Vote, que nasceu com o objetivo de estimular o voto entre os eleitores jovens dos EUA, mas havia perdido poder de fogo naquele período. Para tal, fincou sua estratégia com três pilares: comunicação móvel via telefonia celular, redes sociais e investimento pesado em Search Engine Optimization (SEO) para encurtar o caminho até o eleitor nos sites de busca.
No fim da semana passada, Rosenberg esteve em Brasília, como palestrante do Brazilian Application Seminar, um dos maiores eventos de comunicação móvel da América Latina. No dia seguinte à palestra, conversou com o Correio sobre política, tecnologia e, claro, o assunto predileto: o futuro da comunicação.
Seu envolvimento direto com os rumos da política americana já completou mais de uma década. O ex-presidente George W. Bush é ;culpado; por isso?
Começou mesmo em 2004. Bush havia sido reeleito presidente dos Estados Unidos e eu estava no partido de oposição. Sou um democrata. Estava decepcionado com tudo, e muitos amigos, evidentemente. E nós começamos essa comunidade para começar a debater política on-line. Ao lado de um grupo de pessoas, iniciamos uma organização chamada Politics.TV, em que nós colocávamos candidatos na internet por meio de vídeos para que eles conseguissem passar suas ideias, e nós distribuíamos tudo via Twitter, Facebook e até MySpace. E descobrimos que a melhor maneira de poder repassar a mensagem dos políticos com os quais nós nos identificávamos era assim.
E alcançar uma audiência, naquela época, impensável...
Claro. Poderíamos ter um vídeo visto 1 milhão de vezes, coisa que era impossível numa rede de televisão. E deu muito certo. Nós tivemos algumas produções assistidas milhões de vezes no mundo inteiro.
Depois disso, veio Rock the Vote, que precisou ser revitalizado, por assim dizer...
O objetivo de Rock the Vote sempre foi engajar os mais jovens na política. Até porque, nos Estados Unidos, para votar, você tem que querer mesmo fazer isso, pois requer ir até um escritório e registrar-se. Não é fácil e ninguém tem tempo. Não bastasse, você precisa fazer com que o político se comunique de verdade com esses jovens. Se ele falar sobre algo que não interessa aos garotos, não adianta nada. Então, nós aumentamos a capacidade do Rock the Vote para que essa informação chegasse a eles. Usamos redes sociais, SMS, YouTube, Flickr, e tudo isso em 2010.
Fora dos Estados Unidos, ficou essa impressão, e nós, jornalistas, somos um bocado responsáveis por isso, de que a internet e suas ferramentas ganharam a eleição para o presidente Barack Obama, mas a história provavelmente não é essa, certo?
Ah, essa é uma pergunta complicada. Eu gosto de acreditar que ajudou. No começo da campanha de Obama, em 2007, quando as pessoas começaram a escrever nos murais do Facebook que elas apoiavam a candidatura dele, teve um efeito significativo: alguém lia e entendia como ;uma pessoa que eu confio apoia Barack Obama;. Nenhuma dúvida de que, naquele momento, o Facebook permitiu que vissem que seus amigos apoiavam Obama, e isso ajudou. Agora, uma coisa é criar esse efeito, mas ganhar a eleição? A internet ganhou a eleição para Obama? Certamente não.
Seu trabalho na Revolution Messaging também já apontava para uma outra direção...
Sim, se você faz uma campanha on-line baseada, por exemplo, em mandar e-mails para os eleitores, ela terá um efeito muito menor do que se imagina. A cada 200 mensagens eletrônicas que você envia, umas 20 pessoas vão abrir. E, dessas, talvez uma seja realmente afetada. Mas com SMS, eu aprendi com Rock the Vote, que quando você envia um, é quase certeza que será lido. Todo mundo tem seu e-mail, mas quem tem seu número de
celular? Amigos, familiares e colegas de trabalho.
Sua nova empresa, a International Agent, é especializada em melhorar a conexão das empresas com os atores sociais, quaisquer que sejam eles. Sua opinião a respeito do futuro da comunicação passa pelos dispositivos móveis, ustomização e geolocalização?
Alguns veículos de comunicação começaram a apostar em conteúdo hiperlocal, ou seja, em vez de dar notícias sobre Brasília, você dá notícias sobre cada uma das superquadras, por exemplo. Até acredito que haja espaço para algo nesse sentido, mas é uma operação muito cara porque você precisa de mais funcionários. Os blogs fazem isso, mas não sei se os jornais estão dispostos a fazer isso. Nos Estados Unidos, por exemplo, há uma onda de cortes violentíssima nas organizações de mídia, e, por alguma razão que eu não entendo, eles continuam cortando.
Embora trate-se de uma tecnologia recente, há uma corrente que acredita que a comunicação móvel, em breve, á se dividir entre smartphones e tablets. Hoje, eles são praticamente a mesma coisa, inclusive compartilhando istemas operacionais, mas é possível que eles sejam encarados de forma distinta mais adiante?
Tablets são ótimos para livros, revistas, grandes quantidades de texto... Eles são fáceis de ler, são ótimos para carregar, têm recursos de notificações em tempo real e funcionam perfeitamente, o que parece pouco, mas faz uma grande diferença. E as notificações em tempo real são exatamente como o exemplo das mensagens de texto. Você certamente vai ler, mesmo que seja uma olhada apenas.
Nos últimos 10 anos, qual a verdadeira revolução da comunicação?
Em termos de hardware, não há nada que vença o iPhone. Ele mudou tudo mesmo. Não só pela construção física, mas pela mentalidade. A partir do momento que se introduziram os aplicativos, o jogo virou outro. Com essa chegada, os smartphones se proliferaram e isso sim foi uma revolução. Mas é só o começo.
O que viria em seguida?
Eu gostaria de ver uma tecnologia que permitisse que o cliente entrasse numa loja, por exemplo, e a rede sem fio dessa loja fosse capaz de ler o smartphone dele. Assim, seria possível ;guiar; o cliente pelo local: ;Ah, você já esteve aqui e comprou isso e aquilo. Agora, venha até tal seção porque temos um modelo novo ou porque estamos com uma promoção naquele produto que você gostou da última vez que esteve aqui;. Acho que, em mais cinco anos, isso pode se tornar uma prática interessante.
E qual das tecnologias recentes foi a mais decepcionante?
Acho que todos os produtos da Microsoft, não? Deixa eu dizer uma coisa: todos temos de nos adaptar. Quando o Twitter surgiu não havia o ;@alguém;, não havia hashtags. A comunidade de usuários foi quem inventou. E o Twitter não só permitiu como abraçou a ideia. O que a Microsoft faz é: esse é o computador, use dessa maneira. E se nós quisermos usar de outra maneira? Não, vocês não podem.
Mas o sistema operacional do Mac também é fechado...
Verdade. A diferença é que ele funciona bem.