Agora que é possível saber das notícias do dia, pagar contas, jogar, paquerar, pedir comida e comprar roupas com alguns toques no celular, as relações pessoais podem ficar comprometidas. O encanto da tecnologia faz com que o usuário cometa algumas gafes ; até sem perceber. Atitudes como falar alto ao telefone, tuitar em uma palestra ou durante uma conversa, escrever e-mails enquanto caminha ou deixar o aparelho em cima da mesa em um jantar romântico são aparentemente inofensivas. O problema é que elas incomodam algumas pessoas ; e agora entram na lista de pecados da boa educação.
O crescente uso dos aparelhos de telefone com internet no mundo é inegável. Segundo pesquisa feita pelo IDG Global Solutions (IGS) com 13 mil pessoas de 16 países, incluindo o Brasil, mais de dois terços das pessoas utilizam o smartphone. E 25% da amostra brasileira tem um tablet ; sendo que 67% da participação mundial tem a intenção de comprar um. ;Eles são ótimos, perfeitos, facilitam, tornam a vida mais rápida e mais interessante, mas não devemos esquecer que convivemos com outras pessoas;, alerta a consultora de etiqueta Licia Egger.
A especialista acredita que as normas de bons costumes pedem espaço no auge de aquisições tecnológicas. ;No elevador, no restaurante, no escritório; As pessoas estão muitas vezes obrigadas a compartilhar conversas que não necessariamente interessam a elas. E isso também acontece quando usam os dispositivos em reunião, na sala de aula. Tem casos de pessoas que atendem o telefone no meio da cerimônia de casamento;, exemplifica.
Licia Egger diz que a onda de ações mal-educadas com o celular tem explicação: os aparelhos já fazem tanto parte da vida das pessoas que se tornaram imperceptíveis. ;É como se fosse a roupa ou mais um braço do usuário.; Ela acrescenta que a maior possibilidade de comunicação oferece uma sensação de controle e poder às pessoas. Mas uma das piores formas de agredir quem estiver em volta é ouvir música alta sem fone de ouvido. ;Isso é uma forma de controle das mais ferozes que existe: obrigar outro a ouvir o que se quer;, comenta a especialista, em tom furioso.
Sou assim e não mudo
E não é só Licia Egger que se incomoda. Um estudo com 2 mil adultos norte-americanos feito pela Ipsos, empresa global de pesquisa de mercado, revela que 92% dos entrevistados concordam que as pessoas deveriam ter mais educação ao usar dispositivos móveis em áreas públicas. E o pior: uma em cada cinco (19%) admite continuar se comportando da mesma maneira. ;As tecnologias digitais estão se tornando fundamentais para a vida dos consumidores, mas ainda não esclarecemos para a sociedade quais são os tipos apropriados de comportamento e expectativas;, declarou Genevieve Bell, chefe de pesquisa em interação e experiência da Intel Labs.
Em média, os entrevistados dizem presenciar cinco indelicadezas sociais por dia. Entre elas estão usar o celular enquanto dirigem (73%), falar alto em uma ligação (65%) e usar um dispositivo móvel enquanto caminha pela rua (28%). A vontade de ter o controle da informação ou só ficar perto de amigos e família pela tela do telefone contribui para a necessidade de ter um aparelho sempre por perto. Tanto que um em cada cinco adultos da pesquisa admite checar o celular antes mesmo de sair da cama de manhã.
Para usar os eletrônicos à vontade, mas com bom senso, a consultora Licia Egger sugere imaginar que as pessoas são diferentes e pensam de modo distinto. ;Se eu acho tudo uma graça, será que o outro acha também? Se gostar de ouvir música alta, use os fones de ouvido.; A especialista adverte para não disponibilizar nas redes sociais fotos que possam prejudicar a imagem de alguém e, para os estudantes, evitar o uso dos dispositivos em sala de aula.
Egger ainda afirma que as pessoas não estão sabendo lidar com os aparelhos de maneira correta. O principal motivo seria a perda do sentido de coletividade. ;Vivemos voltados ao que é bom para o indivíduo e, de repente, estamos solicitados a viver em uma vida em comunidade, se preocupando com o próximo. Os dispositivos móveis fazem parte desse novo mundo.;
19%
Segundo a Ipsos, é o percentual de norte-americanos que admitem falta de educação quando usam o celular
Colaborou Marianna Rios Franco