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Pequim - Empresas chinesas que estariam trabalhando para a gigante americana da informática Apple contaminam gravemente o meio ambiente e põem em risco a saúde dos trabalhadores e das pessoas que vivem nos arredores, denunciou uma ONG nesta quinta-feira (1/9).
A Apple não revela os nomes de seus fornecedores na China, mas o Institut of Public and Environmental Affairs (IPE, Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais) assegura que as fábricas que se supõe que trabalhem para a Apple emitem substâncias tóxicas, que prejudicam os trabalhadores e os moradores do entorno.
"O grande volume de dejetos da rede de abastecimento da Apple traz riscos graves à saúde pública e à segurança", diz o informe divulgado pelo IPE e outras organizações não governamentais chinesas.
"Em nossas pesquisas, descobrimos que vários supostos fornecedores da Apple foram alvo de queixas diversas das comunidades locais", destaca o informe.
O IPE é chefiado por Ma Jun, jornalista investigativo atualmente dedicado a causas ambientais, que foi indicado pela revista Time em 2006 como uma das 100 personalidades mais influentes do planeta.
Produtos da Apple, como iPhones e iPads, são muito populares entre a crescente classe média chinesa. Segundo a companhia, suas quatro lojas em Pequim e Xangai são as que aportam mais lucro no mundo.
Ma disse que sua organização recebeu na quarta-feira um e-mail da Apple pedindo conversas diretas, algo incomum para o gigante tecnológico e um indício do dano que estas acusações podem lhe causar.
"Documentamos o que as pessoas que moram perto das fábricas nos disseram e estamos dispostos a compartilhar estas informações com a Apple", disse Ma, em entrevista por telefone.
Na mensagem que a Apple enviou na quarta-feira ao IPE, a empresa americana assegura ter encontrado "discrepâncias" no informe. "Avaliamos a lista de fornecedores que nos enviaram e encontramos discrepâncias", argumentou a Apple em uma mensagem por e-mail, sem assinatura, enviada pelo departamento encarregado dos fornecimentos.
"Várias empresas não estão na nossa cadeia de fornecedores. Estaríamos interessados em saber o que descobriram sobre esses fornecedores", diz a mensagem.
Segundo o IPE, a Apple não respondeu às acusações do primeiro relatório de janeiro.
Uma porta-voz da companhia disse que a empresa está estudando estas acusações e que já está investigando as práticas em 127 fábricas de todo o mundo.
"Exigimos que nossos fornecedores proporcionem um ambiente de trabalho seguro, tratem os trabalhadores com dignidade e respeito e os processos manufatureiros respeitem o meio ambiente onde fabricarem produtos para a Apple", disse Carolyn Wu.
A Apple não informou quantos destes informes de 2010 foram feitos na China.
A empresa confirmou no passado que duas empresas chinesas, uma da gigante tecnológica taiwanesa Foxconn e outra da também taiwanesa WinTek, fabricam produtos para ela.
Na fábrica da FoxConn foi registrada uma série de suicídios de trabalhadores e em 2010, 137 funcionários da WinTek sofreram "efeitos adversos para a saúde", ao entrar em contato com uma substância química chamada N-hexano, utilizada para limpar telas.
A Apple informou que, em fevereiro, havia pedido à WinTek que não voltasse a utilizar N-hexano e que reparasse o sistema de ventilação, segundo o relatório sobre os avanços das Responsabilidades dos Abastecedores em 2011, divulgado após o informe de janeiro do IPE.
O último relatório do IPE documentou vários casos de pessoas com problemas de saúde desde a implantação de fábricas de produtos tecnológicos em suas comunidades.
Entre eles, a contaminação das águas que abastecem a comunidade de Tongxin, perto de Xangai, onde foram registrados vários tipos de câncer em pelo menos 60 pessoas.
"Preocupa-nos que sua saúde e a de seus filhos seja seriamente afetada. Estamos frustrados porque com frequência nem sequer podemos entrar nas fábricas para saber se estão trabalhando com a Apple. Nem sequer aceitam um fax", lamentou.