Jornal Correio Braziliense

Tecnologia

História de pessoas que tiveram a vida mudada com inventos tecnológicos

Na era em que os eletrônicos tornam-se obsoletos em questão de meses, o que faz uma ideia virar um sucesso? Para o escritor e jornalista Orlando Barrozo, um bom projeto ganha adeptos conforme o grau de influência que ele consegue exercer sobre o público. Barrozo escreve sobre o mundo digital desde 1982 e reuniu, em um livro recém-lançado, histórias de 23 homens que revolucionaram a tecnologia. Os visionários (Event Editora) traz relatos sobre a trajetória de gente como o todo-poderoso da Apple, o dono do Facebook, os idealizadores do Twitter e os fundadores do Google.

Nem todos os pioneiros, contudo, estão na área de informática propriamente dita. A obra também fala de pessoas que construíram verdadeiros impérios em outros setores, como o cineasta George Lucas ; famoso pela sequência de Guerra nas estrelas ; e o fundador da Sony, Akio Morita. É de Morita que vem um dos exemplos mais emblemáticos sobre o que o autor quer dizer quando se refere a poder de influência. O executivo japonês, que faleceu em 1999, não só transformou a indústria de eletrônicos, mas também foi responsável pela abertura do Japão ao Ocidente.

;Até a década de 1950, o Japão era um país bastante fechado. Morita conseguiu abrir a cabeça dos seus compatriotas, à custa de muito preconceito e com uma dedicação pessoal absurda;, conta Barrozo, que baseou seus relatos em livros, sites, jornais, revistas especializadas e pesquisas de mercado. ;Morita não sabia nenhum idioma estrangeiro, decidiu estudar inglês para poder se comunicar com os ocidentais;, conta. A dedicação do fundador da Sony foi tanta que ele lançou produtos únicos, como o videocassete e o walkman, o precursor dos iPods de hoje em dia.

Outra história impactante no livro é a de Steve Jobs. ;Trata-se de um caso muito peculiar. É o único cara que foi demitido da própria empresa, passou por maus bocados e acabou voltando ainda mais criativo;, destaca o autor de Os visionários. Em 1986, a diretoria da Apple decidiu demitir Jobs, sob a acusação de que ele não administrava bem o negócio. Talvez por isso, hoje, o dono da empresa da maçã seja um tanto quanto rígido com seus funcionários. ;Jobs é famoso por humilhar publicamente seus empregados (ou até equipes inteiras). Na primeira apresentação do projeto iBook, ele interrompeu bruscamente a reunião para destratá-los (os designers) pelo que qualificou ;uma porcaria de trabalho;. E mandou que refizessem tudo, começando do zero;, escreve Barrozo no livro.

A fama de cruel também recai sobre Mark Zuckerberg, que se tornou o mais jovem bilionário do mundo, graças ao Facebook. A ideia de criação do site, conta o escritor, também partiu dos gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss, mas Zuckerberg os excluiu do projeto. Não à toa, os dois processaram o dono do Facebook. Barrozo também discute a questão da privacidade e a forma como o Facebook tem lidado com ela. ;Seja como for, é indiscutível que a rede criada por Zuckerberg soube captar, como nenhum outro site, governo ou instituição, a ânsia das pessoas, particularmente as jovens, em dividir com seus semelhantes as opiniões, as preferências e os hábitos que desenvolvem;, diz o jornalista no livro.

Transformação
Assim como os donos do Facebook e da Apple, outros tantos gênios da tecnologia também colecionam desafetos. ;É algo difícil de explicar, até porque ouvimos e lemos muita coisa e não há como saber se é verdade;, ressalva Barrozo. ;A maioria deles conquista muitos inimigos, mas eu acho que é algo inerente ao ser humano, que sente inveja e tem ressentimentos. Para você chegar ao lugar onde esses caras chegaram, às vezes, é necessário demitir pessoas, passar por cima de algumas coisas;, opina o escritor, o primeiro brasileiro a fazer uma coletânea desse tipo.

Barrozo explica que escolheu seus visionários, principalmente, por conta da história de vida de cada um e da transformação que eles promoveram no mercado. ;Essas pessoas tiveram muita influência no comportamento dos consumidores e acabaram servindo de inspiração para outros empresários;, justifica. Se alguém tem dúvida, basta se lembrar do exemplo mais recente. O iPad de Steve Jobs está servindo como base para o lançamento de outros tantos tablets. ;Meu principal gancho foram esses sujeitos com capacidade de criar coisas realmente inovadoras, que acabaram mudando a história da humanidade.;

Em comum, todos os eleitos para o livro de Barrozo têm uma história de grande abnegação da vida pessoal e de extrema dedicação ao seus projetos. A maioria deles é dos Estados Unidos e passou por universidades conceituadas antes de se aventurar em um negócio próprio. ;Essa é a grande diferença, são pessoas que passaram por um filtro exigente, em um país que investe em pesquisa, inovação e criatividade;, observa. Chama a atenção o fato de não haver nenhuma mulher entre os visionários. Barrozo acredita que isso se deve ao perfil mais masculino dos cursos da área de tecnologia, cenário que pode mudar nos próximos anos.

Embora a coletânea seja focada em personalidades ligadas à engenharia, à ciência da computação e afins, o autor afirma que a obra pode servir a qualquer jovem interessado em empreender. ;Muitas pessoas querem ter um negócio próprio, investir em algo novo. As histórias que estão no livro são de gente que fez isso e teve sucesso;, diz. ;Essas lições servem para todos.;

Galeria de gênios


Saiba mais sobre outros visionários do século 20:

Bill Gates,
criador da Microsoft

Ele nasceu com nome de príncipe e, diz a lenda, possuindo habilidades incríveis. William Henry Gates III teria, aos 8 anos, lido a enciclopédia inteira da família. Boatos à parte, ele foi o homem que conseguiu fazer dos softwares algo tão valioso quanto outros produtos da indústria de massa. E mais: os computadores passaram a ser construídos a partir do sistema operacional, e não o contrário, como acontecia antes. Gates também revolucionou a gestão de recursos humanos, transformando sua empresa em uma réplica de câmpus universitário.

Jeff Bezos,
fundador da Amazon

A internet ainda engatinhava quando esse executivo de Wall Street se uniu à mulher para criar o primeiro negócio de comércio on-line. Em 1994, Jeff Bezos descobriu que a rede de computadores crescia a uma taxa de 2.300% ao ano e decidiu ganhar dinheiro com ela. Ele é o criador da Amazon, loja on-line que tem hoje 65 milhões de usuários e um catálogo de 360 mil títulos, número que o levou, entre outras coisas, a lançar o leitor digital Kindle. ;A Amazon mudou a forma como
as pessoas fazem compras; na verdade, mudou o relacionamento de todos com
a própria internet. Em certo sentido,
abriu caminho para a revolução do
Google, estimulando nos usuários
o hábito de busca;, comenta Barrozo.

Arthur C. Clarke,
escritor e idealizador dos satélites

Muitos acreditam que a comunicação por satélites tenha nascido das missões bélicas que precederam a Guerra Fria. Mas a ideia veio da cabeça de um civil, apaixonado por eletrônica e escritor de ficção científica. Arthur C. Clarke ; autor de 2001, uma odisseia no espaço ; trabalhava como técnico na força aérea britânica quando escreveu um artigo sobre equipamentos que se tornariam mais tarde os satélites. Clarke sugeriu que aparelhos instalados na órbita terrestre poderiam estabelecer a comunicação entre pontos distantes do planeta. Ele nunca foi atrás dos royalties de sua ideia.

Chad Hurley
e Steve Chen,
criadores do YouTube

Eles, provavelmente, realizaram o sonho de muitos jovens hoje em dia. Chad Hurley e Steve Chen (à frente, na foto) tiveram uma grande ideia, colocaram-na em prática e acabaram atraindo a atenção do Google. A dupla, que trabalhava no então pequeno serviço de pagamentos on-line PayPal, desenvolveu o YouTube para atender um desejo pessoal: ter à disposição um site que pudesse receber uploads de qualquer tipo de vídeo. Menos de dois anos depois, o projeto foi comprado pelo gigante da internet por
US$ 1,65 bilhão. Hurley e Chen, contudo, continuam trabalhando no site, o terceiro mais acessado da web.

Jimmy Wales
e Larry Sanger,
realizadores da Wikipedia

A Wikipedia é certamente um dos inventos que mais mudaram a ideia das pessoas sobre a internet. Seus fundadores, Jimmy Wales (foto) e Larry Sanger, queriam transformá-la na primeira enciclopédia on-line passível de ser editada por qualquer um. O projeto deu tão certo que, em 2006, a revista Time elegeu como homem do ano ;você;, o internauta usuário da rede de computadores. De lá para cá, a Wikipedia passou por vários problemas ; financeiros e de credibilidade ;, mas continua sendo uma das principais fontes de pesquisa na web, alimentada por milhares de usuários e editores. Em 2002, Sanger deixou o projeto, hoje tocado apenas por Wales.

US$ 1,65
bilhão

Valor pago pelo Goggle para adquirir o site de vídeos YouTube