As perguntas mais ouvidas por quem tem um tablet são: ;Qual é a utilidade desse aparelho?; e ;Você o usa para quê?;. A real serventia dele sempre esteve em jogo desde o lançamento. Apontadas como mais um equipamento feito para o entretenimento, as pranchetas eletrônicas ; apesar do sucesso de vendas ; ainda encontram resistência dos consumidores na hora da compra. De acordo com uma pesquisa da ABI Research, consultoria norte-americana, 60% dos entrevistados não vão adquirir um tablet porque, simplesmente, não veem como eles podem ser úteis. No entanto, instituições, hospitais e escolas estão trazendo uma nova realidade para os dispositivos e começam a utilizá-los de maneira que faça valer a pena o investimento.
No Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc), instituição sem fins lucrativos, o tablet tem revolucionado a reabilitação de pacientes. ;Ganhamos dois iPads e, desde janeiro, estamos desenvolvendo um trabalho com as crianças. O câncer é uma doença muito difícil e o tratamento é de alto risco, o que pode levar a uma série de sequelas. O tablet nas mãos de crianças com problemas motores, de fala e de visão, proporciona uma interação fantástica. Um game de carrinho, por exemplo, no qual o paciente tenha que mantê-lo na estrada, trabalha a atenção e o equilíbrio. Por meio de uma atividade lúdica, ele nem percebe que está fazendo exercícios;, explica Walkyria Santos, responsável pela área de terapia ocupacional do Graacc.
A reação das crianças ao manusear o tablet também é emocionante. ;Colocamos nas mãos dos pacientes e parece que eles já têm muita vivência com aquilo. Há uma alegria estampada no rosto deles de poder entrar em contato com o nosso mundo. Entre 25% e 30% das crianças com câncer no Brasil podem vir a óbito. Elas têm o direito de se comunicar e se divertir. O tablet é uma ferramenta fantástica para isso.
Dependendo do estado de saúde, o paciente pode perder a fala, mas ainda tem a possibilidade de jogar ou de apertar uma tecla e dizer se está com fome ou calor;, explica Walkyria. O Graacc quer conseguir, até o fim do ano, pelo menos 15 iPads para atender a todas as crianças.
Com os tablets, os hospitais também encontram uma nova forma de gestão e controle dos pacientes. Um dos primeiros a equipar os médicos com pranchetas digitais foi o Mayanei Hayeshua Medical Center, em Israel. Com o aplicativo feito para o local, os doutores podem conferir o prontuário dos pacientes, os resultados de exames e raios x em alta resolução.
;Como chefe do departamento, mesmo trabalhando até tarde em casa, posso dar direcionamento à equipe de plantão durante operações, utilizando meu iPad. Isso pode ajudar a aumentar a eficiência em procedimentos cirúrgicos;, explica, em nota, Nir Cohen, diretor do Departamento de Cirurgia Ortopédica.
No Brasil, o pioneiro no uso das pranchetas eletrônicas foi o Hospital Santa Paula, em São Paulo. Em uma das reuniões de análise das atividades, discutiu-se que algumas informações deveriam ser dadas em tempo real, como a situação do centro cirúrgico, o agendamento, a evolução das cirurgias. ;Desenvolvemos a aplicação primeiro, com foco nos gestores para que eles pudessem controlar essas situações;, explica Alexandre Dias, gerente de Tecnologia da Informação e Comunicação do local.
O Hospital conta com 10 iPads, que ficam com os chefes de equipe e a diretoria. Dentro do dispositivo, é possível acessar as informações da ocupação dos leitos, de quantos estão internados em cada andar, qual a situação deles, quanto tempo de internação e também a informação financeira. ;O projeto para o segundo semestre é que o médico possa consultar todo o histórico do paciente. O tablet proporciona uma tomada de decisões mais efetivas e otimiza os resultados em todas as áreas do Hospital;, ressalta Dias.
Sem livros
Além dos hospitais, as escolas investem na prancheta eletrônica para substituir o pesado material carregado nas mochilas. ;A usabilidade, a mobilidade e a flexibilidade são as grandes vantagens do tablet. Ele não precisa funcionar apenas como um livro, mas como um completo material didático que lança mão de todos os recursos multimídia;, ressalta André Frattezi, coordenador de física do colégio Sigma da Asa Sul.
A partir do ano que vem, os alunos que entrarem no 1; ano do ensino médio não vão mais precisar carregar os 20kg de material escolar, pois ele será substituído pelo tablet. ;É um avanço notável, significativo. Não consigo ver desvantagens, o estudante passa a levar menos peso e os professores acessam informações que nenhum livro traz, em tempo real. Se eu quero passar um filme, todo mundo estará com a sua televisão na mão;, acredita Frattezi.
A troca dos livros pelo equipamento eletrônico também compensa para o colégio. ;É muito mais barato do que comprar um desktop ou um monitor. O investimento que fazemos é apenas no desenvolvimento do software. O aluno poderá escolher qual tablet comprar. Uma outra vantagem é que o dispositivo permite atualização. Eu posso incluir um novo material de geopolítica, de química, de física ao longo do ano letivo;, explica Frattezi.
De pai para filho
O professor de ciência da computação da Universidade Wake Forest em Winston (EUA), Paul Pauca, criou, com a ajuda de alunos, um aplicativo para iPad para que o filho dele ; portador de uma rara doença genética, que atrasa o desenvolvimento da fala e dos movimentos ; possa se comunicar. O VerbalVictor permite que, por meio de figuras e frases pré-instaladas, o filho diga o que deseja. Na hora de instalar o software, é possível gravar frases com a própria voz. O aplicativo está disponível na App Store por US$ 6,99.