Deixar todos os cartões em casa e sair apenas com o telefone celular para fazer compras pode parecer estranho, mas é realidade em vários países europeus e asiáticos. O número de usuários no mundo do chamado mobile payments, ou m-payments ; que utiliza smartphones como cartão de crédito ; deve passar de 116 milhões (previsão até o fim do ano) para 375 milhões até 2015, segundo a consultoria In-Stat. No Brasil, o crescimento pode chegar a 30%, de acordo com a Frost & Sullivan ; principalmente com a popularização dos celulares inteligentes e dos tablets.
A tecnologia que tem despertado o interesse de grandes empresas nesse setor é a Near Field Communication (NFC), responsável por fazer a troca de dados entre dispositivos, apenas aproximando um objeto do outro. Durante a World Mobile Congress, em Barcelona, as empresas de telefonia divulgaram que mais de 457 milhões de aparelhos no mundo devem contar com a NFC até 2015 e que a tecnologia será responsável pela movimentação de cerca de US$ 3,5 bilhões. A promessa dos executivos é que a NFC seja tão comum quanto o Bluetooth e o Wi-Fi. ;Há bastante tempo o conceito está sendo desenvolvido e este ano será plenamente implementado na maior parte dos países. Na Itália, por exemplo, é possível comprar uma assinatura de jornal com o celular;, explica Vincenzo Di Giorgio, presidente da Onda Mobile Communication para a América Latina.
Com a NFC ativada nos equipamentos, as mais diversas compras podem ser realizadas. Em alguns países da Ásia e da Europa, é possível adquirir bilhetes de metrô apenas aproximando o smartphone das catracas. O valor é cobrado na conta de telefone do usuário. Além de servir para compras, a NFC ainda poderá ser usada para reunir informações pessoais, como números de documentos. A BMW anunciou que está fazendo testes para incluir a tecnologia nas chaves dos carros e, assim, terão as mesmas funções dos aparelhos celulares, exceto fazer ligações.
A partir de julho, o Google vai começar os testes com a NFC nos Estados Unidos, por meio do aparelho Nexus S. De acordo com a Bloomberg, estabelecimentos em Nova York e em São Francisco vão receber caixas registradoras criadas para funcionar com esse sistema. A Samsung tem dois aparelhos já equipados. O Samsung Galaxy S II e o Wave 578 vão depender das necessidades do país para sair de fábrica com o sistema, mas a adoção já é considerada um grande passo para seu uso. O Torch 2 da BlackBerry também chega equipado com um chip NFC. No entanto, esses smartphones ainda não têm previsão para chegar por aqui.
O Brasil ainda está atrasado nessa área. Em 2008, uma operadora de cartão de crédito e instituições financeiras testaram a NFC no aparelho 6212 da Nokia, mas não houve continuidade do processo. ;A barreira no Brasil não é tecnológica. O que falta é uma regulamentação, pois os bancos, as operadoras de cartões de crédito e de telefonia celular não querem perder lucro. Tem que haver acordos entre eles. O consumidor está interessado, mas não sabe que existe. Quando começarem a usar, vai se expandir. Há um grande potencial;, explica Di Giorgio.
Opções
Enquanto a NFC não se populariza no país, a alternativa são os aplicativos presentes nas lojas de smartphones que realizam o pagamento por meio de cartão de crédito. Ao baixar um programa no celular, o dono de uma pequena empresa ou um trabalhador autônomo pode ter todas as facilidades de trabalhar com cartões sem precisar daquelas máquinas comuns. ;Tivemos mais de 25 mil downloads do aplicativo na App Store. Temos visto bastante interesse e quem está utilizando se diz satisfeito com ela. Quem mais está usando é o nosso público-alvo, formado por médicos, dentistas e profissionais liberais;, explica Rogério Signorini, diretor de produtos da Cielo, que lançou um aplicativo para pagamento por meio de celular no ano passado.
Como os aplicativos dispensam o gasto com aluguel de equipamentos, pois utilizam o smartphone do vendedor, o custo do serviço é menor.
A Cielo, por exemplo, cobra apenas uma taxa de conectividade de R$ 9,90 por mês. Soma-se a isso a mensalidade do 3G para utilizar o serviço na rua. Para comprovar a transação, em vez dos tradicionais papéis com os dados da compra, o cliente recebe por e-mail todas as confirmações. ;É intenção da empresa estar a par das tecnologias que chegam ao mercado, como a NFC. Isso é algo que vai ganhar espaço e tem um nicho. Vai complementar algo que já existe;, ressalta Signorini.
Nos Estados Unidos, a ideia está bem difundida.
As principais instituições financeiras oferecem softwares para celulares. Com mais concorrência, as taxas cobradas também são menores e podem chegar a menos de US$ 4 por mês. ;No Brasil, é preciso fazer investimentos para crescer. Em termos de tecnologia, estamos avançados;, afirma.
Cinco usos para a NFC
; Inclusão de dados adicionais em livros, como a biografia do autor, equipados com a tecnologia
; Substituição de ingressos em cinemas e shows
; Informações pessoais, como número de documentos, podem ser incluídas em um único chip
; Substituição de chaves de carros e casas
; Localização mais precisa, pois basta aproximar o celular em um ponto do estabelecimento para ter acesso a informações de vias e endereços.