A relação entre games e cinema é mais antiga do que você imagina. Antes da sétima arte estragar os enredos dos jogos eletrônicos (salvo algumas exceções, como a adaptação de Mortal Kombat), houve um filme que retratava essa forma de entretenimento de maneira interessante: Tron: uma odisseia eletrônica, lançado em 1982. Sua continuação, Tron: o legado, chegou às telonas no fim de 2010 e, com ele, Tron: Evolution, para os principais consoles, com uma expectativa acima da média para um título licenciado. Afinal, é um filme que tem tudo a ver com games.
O principal motivo, pelo menos para quem é fã desse sombrio mundo que existe dentro dos computadores, é o fato de Evolution contar uma parte inédita da saga, já que o game está posicionado entre o primeiro e o segundo filmes, e mostra detalhes sobre a revolta do programa Clu, criado por Kevin Flynn (Jeff Bridges) para administrar o sistema, mas que acaba infectado por um vírus.
Em vez de entrar na pele de algum dos protagonistas da trama, você é Anon, um dos monitores (guardas responsáveis pela segurança do local) que acaba se opondo a Clu. Vários personagens do segundo filme fazem pontas na trama, como a ISO Quorra (Olivia Wilde) ou Zuse (Michael Sheen), proprietário do clube virtual End of the Line.
A cidade de Tron está bem representada no jogo, e, apesar dos gráficos não serem tão elaborados em relação aos games de ponta da atualidade, os arranha-céus, as pistas e as paredes do local são benfeitos, o suficiente para dar aquele clima soturno existente nas telonas. No entanto, o que se vê é muito potencial desperdiçado. Sem dar chances a qualquer exploração desse maravilhoso mundo, a aventura é muito linear, a ponto de um botão mostrar, com uma pequena bolinha brilhante, o caminho que você deve seguir.
Tron: Evolution segue a receita padrão dos games de ação em terceira pessoa: algumas partes de plataformas e muitas seções de combate. Anon é capaz de usar paredes para correr por alguns instantes, dar grandes saltos e usar seu disco como uma corda. Já os combates são mais variados, com uma grande quantidade de golpes que o monitor pode desferir utilizando seu disco. O número de movimentos aumenta à medida que você derrota inimigos e ganha megabytes que podem ser gastos em novas técnicas, em um sistema semelhante a um RPG.
Monotonia
Ainda assim, isso não impede que o game tenha alguns bons momentos, como as partes em que você usa as motocicletas, mas é uma pena que sejam tão poucas. Na maioria das vezes, o que se tem é a repetição das mesmas partes que você vê nos primeiros cinco minutos de jogo. Não há acrobacia que consiga superar a monotonia.
A câmera também mais atrapalha do que ajuda. Ela fica muito distante de Anon, e o jogador acaba vendo mais o cenário do que seu próprio avatar, o que é desnecessário, já que é possível checar a qualquer hora para onde deve ir, apertando um botão. Durante as lutas, ela também não costuma ajudar, tornando difícil mirar nos inimigos, o que resulta em diversos arremessos de disco para o nada.
No fim, a melhor parte de Evolution %u2014 e a que mais faz jus aos filmes %u2014 é o modo on-line, em que até 10 pessoas podem jogar os famosos jogos de morte do grid, utilizando tanto os discos como as motocicletas de luz.
Por baixo da carapaça de neon, Tron: Evolution é como vários títulos genéricos que acompanham o lançamento de um grande filme. O que é uma pena, pois a história e os elementos desse universo tem tudo para oferecer uma grande experiência nos videogames %u2014 algo que esse jogo consegue fazer, mas em poucos e raros momentos que não fazem valer a pena encarar a aventura.