Gigas e mais gigas de memória parecem nunca acabar nos e-mails gratuitos. Arquivos, mensagens, conversas e contatos são armazenados e a caixa de entrada jamais fica lotada. A expressão ;me manda por e-mail;, se tirada do vocabulário de muita gente, pode gerar caos no trabalho e na vida pessoal. Embora seja difícil imaginar, existia sim vida antes das cartas eletrônicas.
A comunicação era precária. Semanas ou meses eram necessários para conseguir receber uma mensagem. No começo, eram as cartas. Depois, vieram telégrafo, telex, fax e internet ; que, mesmo discada e lenta, trouxe à vida o e-mail.
[SAIBAMAIS]Existe o registro de que o primeiro e-mail foi enviado ainda na década de 1960, embora a ferramenta só tenha chegado às mãos dos brasileiros em 1996. Há 50 anos, era tudo muito simples. Ele era essencialmente usado para mandar mensagens para computadores ligados em uma mesma rede. ;As mensagens eram usadas para os programadores se comunicarem. Era uma ferramenta da ARPANet ;, conta Fabiano Mariath, professor de ciência da computação no UniCeub.
Logo o sistema foi ampliado para as empresas. Com o nascimento da internet, nos anos 1990, o e-mail começou a se desenvolver. O professor e pesquisador do departamento de matemática, da área de internet e sociedade da Universidade de Brasília, Leonardo Lazarte, lembra como funcionava no Brasil: ;Há 15 anos atrás, a internet ainda não tinha sido aberta para o público em geral no Brasil. O e-mail era só usado por instituições acadêmicas, que tinham seu provedor. Não era possível acessá-lo de casa. Era exclusivamente para mensagens, mas já havia truques com códigos que transformavam-se em imagens e permitiam enviar alguns arquivos;.
Internet discada
No Brasil, os primeiros tempos da internet ficaram marcados pelo barulho insuportável e pela longa espera pela conexão ; que ainda deixava o telefone ocupado. Nessa época, a velocidade de 56k não permitia que nada além de algumas linhas fossem enviadas via e-mail. Havia os provedores de internet, que forneciam o serviço por meio da linha telefônica. Muitos deles tinham e-mails grátis e outros cobravam pequenas taxas. ;Demorou um bom tempo para ser normal anexar um arquivo. O principal problema era a conexão lenta por linha discada. Mandar um arquivo era quase impossível;, lembra Lazarte.
Ele explica que a revolução veio com a internet banda larga. ;Passamos do velho limite da linha discada e subimos patamares de 256k, depois 512k e agora um mega ou mais.; Fabiano Mariath observa uma mudança nos últimos 10 anos, com a possibilidade de enviar arquivos, a partir do novo modelo de internet: ;Passou a ocorrer troca de mensagem e conteúdo, principalmente de imagem;.
Outra revolução veio com os e-mails gratuitos. Eles surgiram timidamente e ofereciam pouca capacidade de armazenamento. O Hotmail foi um dos pioneiros nessa ideia. ;Nem se pensava em armazenamento. Esperava-se que o usuário recebesse o e-mail, baixasse os arquivos e apagasse;, ressalta Leonardo Lazarte. Mariath atenta para o surgimento do Gmail como um marco: ;A ideia do armazenamento foi uma grande transformação nos últimos anos. Vemos o crescimento da capacidade de memória enorme;.
Lazarte, no entanto, realça a verdadeira intenção por trás dos gigas oferecidos hoje por quase todos e-mails gratuitos: ;O Google não faz isso porque é bonzinho. Isso serve para analisar o perfil dos usuários e poder lucrar com publicidade. Os outros provedores de e-mail tiveram que acompanhar;.
Decadência do papel
Quem tem hábito de mandar cartas? E fax? Eles vão perder a importância? Vão acabar diante das inúmeras funcionalidades e da rapidez do e-mail? Uma resposta exata ainda não é possível, mas as especulações são muitas. Fabiano Mariath, por exemplo, acredita que a expressão ;extinguir; é forte, mas aposta que o número de transações feitas por fax e cartas diminuirá gradativamente: ;Esse meios não têm espaço diante da comunicação eletrônica. Hoje, com scanner e e-mail, as funções do fax diminuem. Acredito que ele poderá um dia deixar de existir, mas as cartas seria difícil;.
Leonardo Lazarte vê de outra forma. O fim das cartas e do fax é um fato consumado. ;Ninguém mais escreve carta. Eu sou da geração que se comunicava dessa forma e tem mais de 10 anos que não escrevo uma. A maior parte das coisas que você escreve em uma carta, você pode escrever num e-mail e receber uma resposta imediata. Fax, então, nem se fala. Ainda se usa em alguns lugares, mas está ficando obsoleto;, defende.
No Brasil, porém, nem todos têm acesso à internet ou e-mail. Dessa forma, a carta ainda é um importante meio de comunicação. Para aperfeiçoar seus serviços e ajustar-se à modernidade, os Correios oferecem a opção de mandar uma carta ou telegrama pela internet. Eles serão entregues pelo carteiro, mas o remetente não precisa ir a uma agência para enviá-los. Até novembro deste ano, foram mandadas 787.095 cartas e 3.616.289 telegramas via internet.
De 1995 para cá, o número de cartas enviadas no Brasil caiu consideravelmente. Em 1995, foram enviadas 4 bilhões de cartas. Em 2010, 1 bilhão. Do total, 10% delas são escritas à mão, para pessoas físicas ou jurídicas. Mesmo muito populares, os e-mails tendem a ganhar concorrência de outras formas de comunicação. Mariath prevê a estabilização da troca de e-mails em virtude das redes socais. ;A quantidade de comunicação vai aumentar, mas as pessoas estão migrando para as redes sociais. A utilização do e-mail não vai crescer, mas não significa que vai diminuir;, analisa.
ARPANet
Considerada mãe da internet, tem essa sigla, que pode ser traduzida para o português como Agência de Pesquisas em Projetos Avançados. Ela surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos, como forma de conectar bases militares, permitindo a comunicação de forma que a União Soviética não pudesse espioná-los. Aos poucos, o serviço de conexão entre computadores foi se expandido para universidades americanas que desenvolviam pesquisas na área de defesa. Seu aperfeiçoamento deu origem à rede de computadores mais utilizada no mundo.
Memória
Os primeiros e-mails gratuitos, como Hotmail, Zipmail, Bol e Yahoo! Mail, ofereciam pouquíssima memória. Cerca de 2MB faziam os brasileiros ficarem indignados com os 250MB oferecidos pelos mesmos provedores nos Estados Unidos. A regra atual, pelo contrário, é oferecer memória para as caixas nunca ficarem cheias. O Gmail, por exemplo, oferece 7GB de memória.
O uso do arroba
; Ray Tomlinson foi o primeiro a enviar um utilizando o sinal @ para separar os nomes do usuário e o endereço da máquina. Isso ocorreu em 1971, quando ele enviou uma mensagem de um computador DEC-10 da Digital Equipment Corporation para outro DEC-10. Em português, o significado do símbolo pode ser traduzido como ;em;, para designar localização.
1998
Lançado o Windows 98
Em junho de 1998, Bill Gates anunciava o sucessor do Windows 95. A maior novidade dessa versão era a completa integração do sistema operacional com a internet utilizando o Internet Explorer 4. Essa versão era mais estável e mais fácil de utilizar que o 95. No entanto, as telas azuis permaneciam a atormentar os usuários.
Apple lança o iMac
A Apple foi uma das primeiras empresas a lançar computadores ;tudo em um;. O iMac lançado em maio era feito de plástico colorido, que cobria o monitor de 15 polegadas. O mouse e o teclado acompanhavam o designer inovador do desktop e também tinham carcaça colorida.
Google entra no ar
O projeto do site de buscas começou em janeiro de 1996, mas a versão final só foi ao ar dois anos depois. O nome é um trocadilho com a palavra googol, termo criado por Edward Kasner, da Universidade de Columbia para designar a centésima potência do número 10.
1999
MSN Messenger
Lançado em 22 de julho, o serviço do MSN permite falar com uma pessoa por meio de conversas instantâneas pela internet. O Messenger desbancou o principal concorrente na época, o ICQ. As conversas por voz e vídeo tinham uma boa qualidade para a época e atraíram muitos adolescentes.
2000
Bug do milênio
Na virada do ano de 1999 para 2000, a grande preocupação era o bug do milênio. Antigamente, os computadores formavam o ano das datas apenas com os dois últimos algarismos. Com a chegada de um novo milênio, as máquinas poderiam reconhecer os zeros do 2000 como 1900. Isso provocaria um caos nos sistemas.
Sony lança o PlayStation 2
O PS2 chegava com a possibilidade de partidas on-line por meio de uma linha telefônica conectada a um modem. Em novembro de 2005, o PS 2 se tornou o console de videogame mais rápido a chegar a 100 milhões de aparelhos vendidos. Em todo o mundo, vendeu 145 milhões de unidades.