Jornal Correio Braziliense

Tecnologia

Google e Facebook terminam o ano com a supremacia da internet

Apesar de missões diferentes, os dois sites não deixam de concorrer pela preferência dos usuários

Consagrado na voz do capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, o bordão ;missão dada é missão cumprida; pode ser aplicado às mais diversas situações, inclusive, para briga de gigantes da internet. Google e Facebook são duas empresas que dispensam apresentações e que entraram no mundo virtual com propósitos bem distintos: o primeiro, para organizar a montanha de informações on-line, e o segundo, para conectar as pessoas. Em 2010, no entanto, esses titãs acabaram se encontrando, e a rede social de Mark Zuckerberg questionou a hegemonia do buscador mais popular do mundo.

Isso pode parecer estranho à primeira vista, uma vez que o Google propõe neutralidade, com uma oferta de resultados adaptada automaticamente ao que o internauta divulga sobre seus hábitos de consulta. Já o Facebook apresenta informações personalizadas, pré-selecionadas pelo usuário e sua rede de amigos. É o que Zuckerberg chama de ;grafo social, a cartografia digital das relações reais das pessoas;.

;Está claro que a missão das duas companhias é bastante diferente. Mas o espaço do Facebook que permite o compartilhamento de conteúdo entre os usuários não está disponível para mais ninguém, nem mesmo para o Google;, observa Edney Souza, coordenador da área de mídia social da Campus Party Brasil. Essa vantagem do site de relacionamentos acaba refletindo no hábito dos internautas. Um estudo da consultoria ComScore mostrou que, em setembro deste ano, os usuários de internet ficaram mais tempo em páginas do Facebook do que em sites do Google, embora o buscador esteja bastante à frente da rede de Zuckerberg ; em outubro, cerca de 977 milhões de visitantes estiveram no Google, enquanto 633 milhões passaram pelo Facebook.

Mesmo assim, o criador da rede social mais popular do mundo ; com mais de 500 milhões de perfis ;não esconde sua vontade de dominar a web. No começo deste mês, Zuckerberg reconheceu que ;há âmbitos nos quais as duas empresas concorrem;. A declaração vai ao encontro de ações que o Facebook tomou ao longo do ano, como a criação do serviço de mensagens @facebook.com. Além disso, o motor de buscas da rede ganhou melhorias. Agora, respostas às perguntas dos internautas não aparecem mais seguindo a lógica dos algoritmos, mas sim as sugestões dos membros do site.

Na rede, o usuário assiste a um vídeo ou lê uma matéria interessante e compartilha esse conteúdo com seus amigos. Na hora em que alguém quer saber sobre determinado assunto, a busca oferece essas indicações feitas pelos próprios participantes da comunidade. ;É a disputa pela preferência de busca. A quantidade de dados on-line cresce muito rapidamente, a possibilidade de você sofrer com a superinformação é imensa. Uma recomendação saudável seria você estar bem informado quanto às coisas que acontecem no seu bairro, na sua escola, com os seus amigos, algo que o Facebook faz;, afirma Edney Souza.

O especialista não acredita, porém, que a ameaça à supremacia do Google leve o buscador a mudar sua missão inicial. Para Edney, o site pode até investir na criação de mecanismos sociais, mas não deve abandonar sua vocação. ;Há rumores de que o Google trabalha na criação de uma rede social, mas não sabemos se isso é verdade mesmo. Mas, certamente, ele deve passar a considerar a questão dos relacionamentos nas suas ferramentas;, aposta.

Méritos e falhas

Para Raquel Recuero, professora da Universidade Católica de Pelotas e autora do livro Redes sociais na internet (Editora Sulina), Google e Facebook não são concorrentes, mas complementares. ;A rede de Zuckerberg possui o filtro social, o que pode ser interessante por um lado, mas um problema por outro;, afirma. Isso porque, lembra Raquel, os resultados acabam limitados à esfera de informações disponíveis aos usuários e seus contatos. ;Em contrapartida, os resultados do Google são completamente genéricos;, ressalta.

A ideia de Raquel é compartilhada pela publicitária Patrícia de Paula, 27 anos, que se autointitula uma viciada em Facebook. A jovem entrou na rede há cerca de 10 meses e define todo o seu lazer a partir das informações que circulam entre seus amigos. ;Eu compartilho muita música, vídeo e matérias interessantes de jornais e revistas. Quase todas as coisas de que gosto têm ligação com o Facebook, como lojas, bandas;, enumera. Mesmo assim, Patrícia afirma que o Google é imbatível quando o objetivo é pesquisar. ;Se eu quero saber o significado de uma palavra esdrúxula, por exemplo, não vou ao Facebook. Ele também é ótimo quando preciso de fontes mais sérias, como estudos e publicações;, diz, sobre o buscador.

Rafael Venturelli, publicitário que trabalha com planejamento em mídias sociais, acredita que o grande mérito de Zuckerberg foi se preparar para uma sociedade que está cada vez mais conectada. ;Quando o Google começou, há 12 anos, ele proibia uma série de coisas, anúncios, spams. Já o Facebook chegou pronto para a demanda das empresas. Se a sua intenção é se relacionar com seus clientes, a rede social já trouxe as ferramentas próprias para isso;, explica. Um dos exemplos são as chamadas fan pages, que podem ser criadas por companhias, celebridades ou admiradores, com a opção ;curtir;, aberta a todos os usuários da rede.

Nem essa diferença, contudo, é capaz de colocar os dois titãs em verdadeiro pé de guerra. ;Os anunciantes não decidem fazer suas campanhas no Facebook no lugar do Google, mas no lugar da mídia tradicional;, diz Danny Sullivan, chefe de redação do site SearchEngineLand.com, especializado em marketing digital. Além disso, a expansão do Facebook serve também a alguns interesses do Google: seus fundadores, Larry Page e Serguei Brin, podem dizer facilmente às autoridades que garantem a livre concorrência. Finalmente, não desagrada em nada ao Google que os defensores da confidencialidade de dados pessoais tenham no Facebook um novo alvo.

Nerds reunidos

O maior evento de internet do país vai acontecer entre 17 e 23 de janeiro, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. Os visitantes poderão conferir novidades sobre mídias sociais, astronomia, robótica, software livre, entre outros assuntos. Já estão confirmadas as presenças de Tim Berners-Lee, criador da World Wide Web, e Steve Wozniak, cofundador da Apple.


Garoto prodígio

O dono do Facebook tem 26 anos e é hoje o milionário mais jovem do mundo. Zuckerberg foi eleito homem do ano pela revista americana Time e já teve até um filme sobre sua vida. A rede social, que estreou nos cinemas brasileiros neste mês, não é um documentário, mas o roteiro é inspirado na vida do jovem. No slogan, uma frase instigante: ;Você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos;.