O professor de Gestão e Tecnologia do IMD (International Institute for Management Development), centro de estudos para executivos localizado em Lausanne, na Suíça, Bill Fischer, fala sobre as características de Steve Jobs e o futuro da empresa.
Steve Jobs pode ser apontado como o principal responsável pelo sucesso da Apple?
Steve Jobs foi um dos fundadores da Apple, por essa razão, ele merece os créditos pelo sucesso da empresa. Mas, nós também sabemos que isso não é algo que vá levar a um caminho de sucesso. De fato, a alegação de Steve Jobs em ser o responsável pelo sucesso da Apple está, creio eu, na "reinvenção" tanto da Apple como dele mesmo. No período em que Jobs ficou longe da empresa, em 1985, e o retorno dele em 1996, a Apple perdeu muito da sua "mágica" e tornou-se "apenas uma outra empresa de eletrônicos"; até mesmo na questão de ser competitiva nos preços de mercado. Para ser justo, ela até experenciou alguns projetos interessantes, o Newton é o mais conhecido, mas não era mais a elite, excitante, da empresa que sempre foi quando sob o regime de Jobs. No seu retorno para a Apple, Jobs combinou corte de custos agressivos e a "poda" do portfólio de produtos, com um retorno aos sonhos. O resultado hoje é uma das empresas mais valiosas do mundo. Jobs personificou a marca, em seu papel pessoal como líder, como perseguidor da mudança e como o protetor dos valores da marca. Ele foi tanto visionário e disciplinada e ambos, ao mesmo tempo. O que sinto é que sem Steve Jobs, a Apple não seria a companhia que é hoje. Poderia até mesmo não existir.
No artigo "Lições de inovação da Apple" (, em inglês), o senhor diz que os iPhone e iPods mudaram a forma que vivemos. Como e por que eles causam tanta admiração?
Steve Jobs está para a indústria do entretenimento como Thomas Edison estava para a energia elétrica. O iPod redefiniu como nós compramos, guardamos e ouvimos as músicas. Isso jogou para os ares toda uma cadeia de valores. Hoje, já estão acabando as lojas de discos, a produção de CDs, autores, designers de capas de discos, e todos os outros "bit-players" que por décadas estavam na indústria da música. Para onde eles foram? A Apple fez deles algo desnecessário! Não porque eles impulsionaram o MP3 ou os computadores jukeboxes, ou as compras on-line, mas porque a Apple foi a única companhia suficientemente visionária, influenciadora e corajosa para reunir uma nova cadeia de valores, incluindo provedores de conteúdo e métodos de distribuição, para tornar a mídia digital portátil mais fácil, conveniente e com um bom custo. O que a Apple fez foi recriar a experiência de ouvir música dos consumidores; todo o resto, o hardware, o software, etc. são meramente acessórios à grande ideia de reinventar o campo da música. Agora, eles estão fazendo algo similar aos smartphones e a indústria de livros. Além disso, a história real não é sobre música, livros ou telefones, é tudo sobre nosssas vidas; é sobre como nós nos atualizamos por meio de podcasts e usamos aplicativos para comprar passagens aéreas ou pagar contas. O que toda essa plataforma tem em comum é que ela está ligada mais aquilo que nós precisamos do que relacionado aos produtores de hardware. Isso é tão incomum que é difícil não admirar.
No mesmo artigo, o senhor fala que os grandes líderes não conseguem ser inovadores por muito tempo. Como Jobs pode continuar a inovar? Essa característica dele vai durar muito?
Em um novo livro intitulado "The idea hunter" (ainda sem tradução para o português), que eu e Andy Boynton lançamos a pouco, nós buscamos o que faz uma ideia excepcional funcionar e Steve Jobs vai ao encontro de todas as nossas conclusões. Ele sabe exatamente pelo que procurar, pois entende o poder da mudança, em vez de fazer oposição a ela. Além disso, ele é uma pessoa extremamente aberta: ele é eclético, mas pode pegar ideias de todos os campos e juntá-las em uma história coerente. Foi assim que surgiu o iPod, quando muitos "experts" da área falharam ao ver as oportunidades. Definitivamente, Jobs confiou a outros a tarefa de seguir com suas ideias. As metas dele para angariar times talentosos são tão precisos e inspiradores [por exemplo, um dos pontos chaves para a equipe do iPod foi: "1.000 músicas no meu bolso", em uma época em que o principal tocador de MP3 só suportava 12 músicas e mal cabia no bolso. Veja o quanto de inspiração e sagacidade ele contém] que ele pode permitir a outros que juntem-se em uma co-criação no futuro, enquanto ele nunca perde o controle. A habilidade de convidar mais pessoas para compartilhar ideias é uma marca dos grandes inovadores.
Qual será o futuro da Apple quando Steve Jobs morrer?
Essa é uma questão importante e válida. Quando Steve Jobs esteve doente no ano passado e precisou de um transplante de fígado, Tim Cook o substituiu e fez um trabalho admirável, mas, para ser honesto, nós precisamos de um longo período para uma conclusão real. Jobs deu forma a organização de maneira poderosa e de grande sucesso e ele vai deixar um legado de influência, para o bem ou para o mal. Acredito, entretanto, que se considerarmos a GE sem Thomas Edison ou Jack Welch - algo impensável naquela época - ou tantas outras companhias com fundadores fortes, a real medida do sucesso não é tanto o produto, mas os valores. Na Apple, acredito que Jobs introduziu de propósito um orgulho e uma crença no modo que a organização trabalha, e assim, aumentou a probabilidade da Apple continuar a sustentar bem o sucesso após a morte de Steve.
O que os empresários podem aprender com Jobs?
Quando Andy Boynton e eu escrevemos o livro "Virtuoso Teams" (sem tradução para o português) um dos comentários foi que a maior parte das equipes que contavam com grandes pessoas e atingiram resultados excepcionais foram históricas [Thomas Edison, Miles Davis, Roald Amundsen, o Projeto Manhattan, etc.]. De fato, Steve Jobs é a personificação da maior parte dessas lições que aprendemos sobre inovações de sucesso. Lições como: não desista! Continue a sonhar; definir metas e pontos inspiradores e, depois, deixar outras pessoas embarcarem; pensar mais nos consumidores do que nos estereótipos prevalecentes da indústria; construir sistemas, em vez de produtos ou plataformas. Comece com os consumidores, extenda para as vidas deles e depois extenda para você mesmo em um esforço para fazer melhor.