A comunicação tem sido alvo de estudos e inovações tecnológicas constamente. Para desenvolver este aspecto fundamental do ser humano, pesquisas revelam que quem ainda não sabe falar pode ter alguém que fala por ele na internet. Como assim? Os bebês também podem bater papo na web, mandar e-mails, recados e depoimentos. É claro, com uma ajudinha dos pais.
Como a web se aproximou da criançada, os papais aproveitam para mostrar imagens da ultrassonografia, divulgar fotos dos filhos, fazer declarações de amor e se comunicar. Eduardo Gonçalves Borges, 6 anos, é um exemplo. O menino pediu para a madrinha, Deise Torres, para criar um perfil no Orkut.
A intenção é se comunicar com o pai, que não mora com ele. Os dois saem nos fins de semana e trocam fotos e recados pela página toda semana como modo de diminuir a distância. A mãe, Edilene Borges, 30 anos, apoia a forma de comunicação, mas afirma que tem muito cuidado ao acompanhar o filho na frente do monitor. ;Ele só fica perto de um adulto e privamos todas as fotos;, afirma. ;Estamos bem atentos!”
Quem também se preocupa com a exposição do filho é Maria Clara Sanches, 28 anos. Ela fez o perfil na mesma rede social que o Eduardo para Davi, quando o bebê tinha apenas três meses de vida. Maria Clara e o marido, Daniel Barbosa, 33, perceberam que o filho tinha muitas fotos e queriam repassar para pessoas próximas da família. Então, aproveitaram todos os motivos, inclusive um concurso para eleger o neném mais bonito do Orkut, e fizeram o perfil quase que por brincadeira, curtição. ;Até eu mesma escrevi recados para ele;, comenta a mãe.
Hoje, Davi tem 5 anos e já se interessa pelo que vê no computador. A atenção é voltada quase exclusivamente para os jogos, como Colheita Feliz, Mini-Fazenda e Café- Mania. O pimpolho ainda não sabe ler, mas pergunta para a mamãe os códigos de linguagem dos games. ;Ele começou a se interessar pelo mundo virtual por meio dos joguinhos;, acrescenta Maria Clara.
Como Edilene, mãe de Eduardo, os pais de Davi ficam de olho no que o filho pode encontrar na internet. Pessoas desconhecidas já tentaram adicionar o menino e não foram admitidas no grupo de amigos. ;A gente controla tudo;, dizem os pais. Eles afirmam usar todas as ferramentas de privacidade para que só família e amigos tenham acesso ao conteúdo da página.
Antes de nascer
Além das redes sociais, de que Eduardo e Davi estão por dentro, o e-mail também é uma forma de comunicação que as crianças dominam. A advogada Raquel Moufinho e o marido Alexandre Campos, providenciaram o endereço eletrônico da filha Rebeca no período de gestação. ;Eu e meu marido já tínhamos escolhido o nome e, portanto, é o primeiro passo para concluir fins civis, porque não participar também dos fins internéticos?;, diz a mãe, sorrindo. Sobre o papel do e-mail para a criança, Raquel responde que a função dela, neste caso, é ser narradora onisciente, pois relata o que a Rebeca pensa ou quer dizer.
Hoje, a menina tem 1 ano e 8 meses e, segundo a mãe, se comunica por e-mail com o avô, que mora em São Paulo. Raquel Moufinho afirma que percebe o que passa no pensamento, por meio dos gestos da filha, e faz uma leitura própria. ;A gente sabe quando ela gosta de alguém;, acrescenta. Rebeca já fala algumas palavras e a mãe diz que ela adora o site de vídeos YouTube e até aponta os vídeos infantis a que quer assistir.
O e-mail ainda não é suficiente para Rebeca, outra ferramenta da internet que teve contato foi o Skype, programa de conversa por áudio. Tudo isso para dar notícias para o vovô, pelo menos uma vez por semana. ;Quem não se comunica, não existe;, resume a mãe, que esta grávida da Débora, que nasce em dezembro, e já tem e-mail pronto. Raquel concorda que a internet é perigosa ; mas que, como todas as coisas, tem o lado bom e o ruim. E aconselha: ;Os pais têm que estar por perto em todos os momentos, quando os filhos assistem televisão, jogam videogame, usam o computador e o telefone;.
Off-line
Tem gente que pensa diferente e é avesso ao contato das crianças com a internet e, principalmente, às redes sociais. A professora de artes cênicas e visuais Letícia Souza, 29 anos, avalia que o envolvimento precoce com a web é prejudicial por expor demais a criança. ;Às vezes, até os próprios meninos nem sabem que têm perfil e os pais colocam fotos. Muita gente pode usar para coisas indevidas;, opina. Letícia, que está grávida de oito meses de Alice, também considera a função das redes para crianças, e até bebês, desnecessária. Elas, argumenta, servem para você se comunicar e o neném não vai estar se comunicando com ninguém. ;Não sou a favor, não vou fazer isso com a Alice;, afirma categórica. ;Ela vai entender que, como várias coisas na vida, ela precisa de uma idade para usar.; A professora também é atriz e cantora e, com o marido, André Muller, toca alguns instrumentos. Por isso, declara que vai ensinar a filha a cantar, tocar e brincar de roda ; não tuitar.
Games sociais
; O número de jogos on-line cresceu e as crianças usam-nos como principal motivo para acessar a internet. Nas redes sociais, os aplicativos de jogos viraram uma tendência. Estudo divulgado pelo NPD Group aponta que 20% dos usuários da web com mais de 6 anos experimentaram algum jogo em um site de redes sociais durante os últimos três meses ; o que representa um número de 56,8 milhões de pessoas no mundo. Desses, 10% afirmaram ganhar dinheiro com os jogos. Ainda assim, 35% dos entrevistados nunca tinham jogado uma partida antes de mergulhar em alguma rede social. E entre esses novatos estão mulheres e idosos. A pesquisa estima que os chamados games sociais consolidarão as redes sociais ao estreitar relacionamento com o público e levar o conteúdo de que ele necessita.
Palavra de especialista
O professor da faculdade de educação da Universidade de Brasília Lúcio Teles é doutor em arte-educação no ciberespaço e ressalta os dois lados da moeda. O bom, diz, é que as redes sociais facilitam a comunicação das crianças. O ruim, é que a exposição exagerada de dados pode abrir caminhos para a pedofilia ou pornografia. Como o ambiente é novo, tanto para filhos como para pais, cuidados devem ser tomados. A dica é unir família, escola e softwares de segurança.
Acompanhar o filho nas tarefas de casa ou lazer, que use a internet, é essencial para conferir de perto o conteúdo que as crianças acessam. Este, aliás, pode ser o momento de passar mais tempo com o filho. Outro responsável por ajudar a criança neste momento é a escola. As instituições têm o objetivo maior de educar e no ambiente escolar surge, que cada vez mais, computadores disponíveis para os alunos. Então, ensinar a ética na hora de ficar on-line tem que estar no cronograma.
Uma sugestão mais prática é obter programas de segurança que bloqueiam sites impróprios para menores de 18 anos. ;As crianças devem procurar ajuda quando forem usar o computador e os responsáveis têm que procurar recursos para que elas não naveguem sozinhas;, ressalta ele.