Jornal Correio Braziliense

Tecnologia

Museu da Computação da USP traz peças que há pouco tempo eram novidades

Historiadores costumam dizer que é fundamental conhecer o passado para entender o presente e se preparar para o futuro. A ideia pode ser aplicada em todas as áreas, até mesmo na tecnologia, setor em que as coisas ficam ;velhas; em tempo recorde. Computadores de última geração serão considerados ultrapassados daqui a seis meses e se tornarão verdadeiras peças de museu dentro de cinco anos. Foi pensando nisso que um grupo de professores e alunos da Universidade de São Paulo (USP) reestruturou o Museu da Computação Professor Odelar Leite Linhares, em São Carlos, o primeiro do país ligado a uma instituição de ensino.

O museu existe oficialmente há 10 anos, mas a coleta do material começou bem antes, ainda na década de 1970. O então professor Odelar Leite Linhares, que faleceu em 2005, passou a guardar instrumentos de cálculo obsoletos, já imaginando que as peças desapareceriam com o desenvolvimento da informática. ;Era quase como uma coleção pessoal do professor Odelar, que queria preservar equipamentos relativos à matemática. Anos mais tarde, veio a proposta de juntar isso à computação;, conta a professora Elisa Yumi Nakagawa, do conselho coordenador do museu.

Elisa Yumi Nacagawa, do conselho coordenador do Museu de Computação da USP, fala sobre a formação do acervo

No ano passado, docentes e estudantes do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP decidiram investir na divulgação do projeto: catalogaram o acervo e melhoraram o site do museu. O resultado é que o número de visitas de grupos aumentou, de apenas duas em 2009 para cerca de 10 este ano ; obviamente um número ainda insuficiente. O aluno do 6; semestre de Informática Ricardo Reimão, 21 anos, entrou no projeto para desenvolver o site, acabou virando monitor do museu e hoje é um dos entusiastas das ;parafernálias; guardadas por lá. ;Nunca gostei de história quando estava no colégio, mas acabei me envolvendo com esse projeto. Hoje, percebo a importância de estudar o passado, até mesmo, para imaginar o que ainda está por vir;, afirma o rapaz.

Ricardo guia boa parte das visitas ao museu e ressalta que o passeio é indicado para todas as idades. Os mais novos, diz o estudante, se surpreendem com réguas de cálculo e calculadoras mecânicas, até saberem que esses instrumentos deram origem às atuais tecnologias. ;As pessoas não têm ideia de que computação tem tudo a ver com matemática;, observa. Com os mais velhos, acontece outro fenômeno. ;O pessoal começa a olhar com nostalgia e surgem comentários do tipo: ;Poxa, eu costumava trabalhar com uma dessas (calculadoras);, conta Ricardo.

E não é preciso ser tão mais velho assim para se emocionar com o material recolhido pela USP. O próprio Ricardo, no auge de seus 20 e poucos anos, lembra de uma das mais novas peças do museu, que, segundo define, é o seu xodó: um iMac, de 2001, quando o jurássico termo ;Macintosh; já estava aposentado. ;Era o meu sonho de consumo quando eu era criança;, relata. O iMac daquela época já vinha com entradas USB e recursos para acesso à rede wireless, coisas que só chegaram ao Brasil cinco anos depois. Raridades Applemaníacos também ficarão empolgados com outra peça do museu: o Apple IIc, lançado pela empresa de Steve Jobs em 1979. O equipamento, que pesava cerca de 3,5kg, foi a primeira tentativa da companhia de criar um computador portátil. Outra máquina que revela a busca pela mobilidade é o Portable Personal Computer Amstrad, da IBM, fabricado entre os anos de 1988 e 1992. O notebook funcionava com 10 pilhas ou com um adaptador AC externo.

O acervo do museu traz, ainda, máquinas ainda mais antigas, como a réplica de um computador binário da década de 1960, que simula mecanicamente o que os atuais PCs fazem de forma digital . O equipamento era utilizado em aulas de introdução à informática. Os visitantes também podem conhecer uma calculadora programável HP9820A, uma das primeiras a armazenar dados, e conferir a evolução dos dispositivos de armazenamento, desde as fitas magnéticas até os compactos disquetes. ;Daqui a uns cinco anos, essa prateleira vai ganhar o tão difundido pendrive;, aposta a professora Elisa Yumi.

Para fazer doações ao museu, é preciso apenas acessar o site http://www.icmc.usp.br/~museu/. Na página, também é possível agendar visitas e consultar o acervo, com as informações disponíveis sobre cada peça. Ricardo Reimão explica que ainda há muito material sem dados técnicos detalhados. ;Muita gente doava máquinas encontradas no lixo, sem qualquer informação adicional. Agora, estamos tentando recuperar essas coisas;, diz o rapaz.

Outra iniciativa No mesmo ano da criação do museu da USP, um grupo de profissionais de Sorocaba se uniu e fundou o Museu de Computação e Informática, uma entidade privada sem fins lucrativos. O local também aceita doações (http://www.mci.org.br/).

Primogênito O primeiro computador 100% brasileiro foi criado em 1961, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). José Ellis Ripper Filho, um dos pioneiros das telecomunicações no país, viajou à França e trouxe a ideia de fabricar o equipamento. A falta de recursos, porém, fez com que o Zezinho ; como foi batizada a máquina ; realizasse apenas operações simples, hoje ao alcance de qualquer máquina de calcular.