Ao instalar o programa, que é de interface amigável e ocupa pouco mais de 50 mb na memória do computador, o usuário pode escolher a que projetos deseja ceder a capacidade de seu processador. As áreas são as mais diversas possíveis, desde biologia molecular, física quântica ou astrofísica. O sistema, que foi criado há seis anos, mas que só agora começa a crescer no Brasil, envia através da internet informações coletadas pelos aparelhos dos centros de pesquisa. O computador do usuário processa esses dados e devolve para os pesquisadores.
O resultado é um imenso quebra-cabeças de informações processadas por micros ao redor do mundo. Máquinas mais potentes, localizadas nos centros de pesquisa que utilizam a plataforma ficam com o trabalho de juntar todas estas peças e ler a informação final, tarefa bem mais simples do que processar sozinho todas as informações.
Para garantir que o funcionamento do programa não diminua o desempenho da máquina, é possível selecionar o quanto da capacidade do computador será utilizada e por quanto tempo. ;Quando não estamos utilizando o computador, podemos deixá-lo trabalhando 100% para o Boinc. Se estivermos utilizando a máquina podemos baixar esse percentual para não deixá-la lenta;, explica Paulo Cardinali, analista de sistemas e membro da Setibr, a principal comunidade de apoiadores do programa no Brasil.
Acesso ampliado
O projeto inicial do Boinc, batizado de SETI@home., desenvolvido pela Nasa, tem como objetivo procurar vida inteligente fora da Terra. ;Para analisar todas as informações que vinham do espaço os pesquisadores decidiram utilizar o processamento distribuído, o que fez a capacidade de análise dos dados crescer muito;, explica especialista em gestão de Tecnologia da Informação Presciliano Neto, fundador do Setibr. ;Com o tempo o sucesso foi tanto, que a capacidade de processamento permitiu abrir a plataforma para outros projetos;, explica Presciliano.
Hoje são mais de 80 pesquisas diferentes que utilizam o sistema. Além da busca por vida extraterreste é possível apoiar os esforços pela cura do câncer e da Aids, estudos sobre mudanças climáticas, estruturas de proteínas ou prever possíveis epidemias de malária na África.;Nós estimulamos a participação das pessoas nestes outros projetos que podem trazer mais benefícios a curto prazo para a sociedade, como os que buscam a cura para doenças ou pesquisam o aquecimento gobal;, completa Presciliano.
O estudante de biologia Raysson Farias utiliza o programa há nove meses. Para ele o interesse surgiu pela possibilidade de contribuir de maneira simples para o progresso da ciência. ;Com o Boinc mais projetos podem ser realizados, em menos tempo e com grande qualidade ;, destaca. Ele afirma que o seu uso não dificulta o funcionamento normal da máquina. ;A instalação do programa não afeta em nada a capacidade do computador, uma vez que ele utiliza apenas tempo ocioso; muitas vezes nem percebemos que ele está funcionando;, completa.
Ranking
Veja os países que mais contribuem com pesquisas científicas através do Boinc.
- Estados Unidos
- Alemanha
- Reino Unido
- Japão
- França
- Canadá
- Austrália
- Polônia
- República Tcheca
- Holanda
- Espanha
- Itália
- Rússia
- Noruega
- Finlânida
1; - SETI@home - Busca de vida fora da Terra
2 ; - Collatz Conjecture - Cálculos matemáticos complexos
3; - DNETC@Home - Cálculos matemáticos, algorítimos e criptografia
4; - Milky Way - Tentativa de se criar um modelo 3D da Via Láctea
5; - World Community Grid - Várias pesquisas médicas, entre elas a comparação do DNA humano feita pela Fiocruz, no Brasil.
Brasil contribui muito pouco com o projeto
Os projetos que Raysson escolheu apoiar são relacionados aos estudos que desenvolve na Universidade de Brasília (UnB), onde estuda: o Rosetta@Home e POEM@HOME. ;Eles trabalham na determinação de estruturas de proteínas. É uma área similar à que eu trabalho e de grande importância científica, já que podem ser utilizados para melhor entender o metabolismo em geral e a função e mecanismo de cada proteína e, com isso, será possível criar novos medicamentos;, explica Raysson.
Apesar da grande quantidade de computadores ligados à internet no Brasil, os brasileiros ainda contribuem pouco para pesquisas através do Boinc. O país ocupa a 30; colocação, atrás de nações bem menores como Portugal, Suíça e Bélgica.
Por aqui são cerca de 22 mil usuários. ;Há alguns anos podia-se dizer que nossas máquinas eram ultrapassadas e que, por isso, não participávamos tanto. Mas hoje nossos equipamentos são perfeitamente compatíveis e por isso acredito que o desconhecimento é o principal responsável pela pouca adesão ao processo;, conclui Presciliano Neto.