Jornal Correio Braziliense

Tecnologia

Bicicleta com know-how de F1

Engenheiros britânicos que desenvolvem peças para a categoria máxima do automobilismo produzem a bicicleta mais moderna do mundo

A aerodinâmica foi desenvolvida especialmente para diminuir o atrito com o vento, enquanto a borracha especial dos pneus amplia a aderência do veículo com o asfalto. O esforço sem precedentes da equipe de engenharia resultou na criação de peças de alta performance, que aumentam a velocidade e tiram o máximo rendimento da máquina. Não, não estamos falando do novo modelo de carro testado por uma escuderia de Fórmula 1, mas da Factor 001, tida como a bicicleta mais avançada tecnologicamente disponível no mundo. Lançada pela empresa britânica Bf1 System, fornecedora especializada em soluções de alto desempenho para os carros de corridas das principais categorias do automobilismo, a bike foi desenvolvida com o que há de mais moderno nos laboratórios de pesquisas em engenharia.

Tanto que os mesmos poderosos softwares de modelagem e análise utilizados para a construção das máquinas de Fórmula 1 foram usados no projeto da Factor 001. Engenheiros britânicos se valeram de avançados computadores para simular uma série de possíveis desempenhos que seriam alcançados pelos ciclistas, assim como os efeitos sofridos pelo veículo de duas rodas nas mais diversas condições de rodagem. A intenção era clara: construir uma bicicleta rápida e que facilitasse o treinamento para atletas de alto nível, sem se importar, pelo visto, em obter um produto com preço final razoável. Quem quiser adquirir a novidade precisa desembolsar 34 mil euros (aproximadamente R$ 78,6 mil).

Mesmo sem cumprir alguns pontos dos regulamentos de design e de ergonomia estabelecidos pela União Internacional de Ciclismo (UCI, na sigla em inglês) ; o que torna a bicicleta apropriada para treinos e não para competições ;, os engenheiros trabalharam duro para satisfazer os atletas de ponta em dois pontos principais: mantiveram a posição de pilotagem à qual os ciclistas já estão acostumados a guiar e buscaram garantir o conforto necessário para longas sessões de treinamentos. Tudo sem comprometer o desempenho.

;Inúmeras geometrias do quadro e da estrutura foram consideradas e testadas, antes que a versão final fosse decidida. O constante desenvolvimento forneceu informações mais precisas, que foram alimentadas de volta no software de modelagem;, explica ao Correio o gerente de mecânica da Bf1 System, Simon Roberts.

Robustez e leveza
Com os resultados em mãos, a empresa partiu para a fabricação de um quadro de estrutura leve, confortável e capaz de transformar o esforço de cada pedalada em um movimento mais eficiente, garantindo maior velocidade. Com um visual atraente, o ;chassi; da Factor 001 foi criado a partir de um sistema tubular duplo que oferece rigidez contra torção, mas sem agregar peso à bicicleta. O material escolhido foi a fibra de carbono, o mesmo utilizado nos cockpits dos carros de Fórmula 1 ; que, além de ser robusto, é bastante leve (a bike pesa apenas 7kg).

O sistema de freio foi pensado nas necessidades do ciclista de rua ; que precisa de rápida desaceleração, com estabilidade e aderência. Assim, as pinças e os discos de freio foram confeccionados em carbono e aço, que garantem maior precisão ao ciclista. ;Para garantir um design mais clean, toda a tubulação hidráulica dos freios foi embutida no quadro e nos garfos de suspensão;, conta Roberts, lembrando que a equipe britânica precisou de dois anos para produzir o equipamento.

A Factor 001 também conta com diversos dispositivos eletrônicos integrados que fornecem dezenas de informações para o ciclista, que vão desde a frequência cardíaca e a temperatura corporal até a pressão atmosférica e a porcentagem de umidade do ambiente. A bicicleta ainda vem com um sistema integrado de coleta de dados ergométricos, que registra informações sobre o desempenho do atleta para serem utilizados posteriormente em estudos e comparações. ;São dados importantes colhidos num cenário real e que antes só poderiam ser obtidos em treinamentos realizados em laboratório;, compara Roberts.

Já o sistema de transmissão conta com trocas elétricas de marchas, que aumentam a precisão e diminuem o tranco para o ciclista. Feitas em alumínio, as engrenagens têm o mesmo sistema de torque usado no trem de força dos carros de automobilismo. Tanta tecnologia está disponível apenas na Europa e apenas para um grupo seleto de compradores, já que a fabricante decidiu comercializar somente 100 unidades.

Peugeot futurista

A bicicleta conceitual da Peugeot traz traços esportivos e aerodinâmicos desenvolvidos para provas rápidas, com uma estrutura composta inteiramente por fibra de carbono. As partes dianteira e traseira são integradas por um arco superior em forma de componente e um chassi que se estende da coluna de direção para o banco. Outro detalhe interessante do projeto diz respeito às rodas, cujos pneus dispensam o sistema tradicional de válvulas e câmaras.



Modernidade em duas rodas
Além de produzir cobiçados carros, grandes fabricantes de automóveis, como Mercedes-Benz e Audi, também gastam energia para desenvolver as mais modernas bicicletas do mundo. Conheça alguns modelos que chamam a atenção, seja pelo arrojo do design ou pela tecnologia investida.

Alemã dobrável
A linha Collection, da Mercedes-Benz, tem bicicletas voltadas para a prática de fitness e trekking. Mas a que mais chama a atenção é o modelo que pode ser facilmente dobrado e guardado no porta-malas (fechado, ele fica com 80cm de comprimento e de altura). Fabricada em alumínio, a bicicleta vem com suspensões no garfo e no quadro, travões de disco com imobilizador integrado (como nos carros), freio a disco e câmbio de oito marchas Shimano. É comercializada apenas no Reino Unido, pela bagatela de US$ 1.759 (aproximadamente R$ 3,2 mil.

Alto rendimento
A Mercedes-Benz também tem uma linha para atletas de alto rendimento. O quadro e o garfo da Racing Bike encaixam no pneu dianteiro e são produzidos em fibra de carbono de alta resistência. Pesando apenas 6,9kg, o modelo tem transmissão de 20 marchas. Já os freios, as rodas e as coroas das correntes foram produzidos em parceria com a italiana Campagnolo, uma das mais renomadas desenvolvedoras de componentes de alta performance para bicicletas de competição. A Mercedes produziu apenas 100 unidades da bike, que custa 5 mil euros (aproximadamente R$ 11 mil).

Elétrica atraente

A Lexus, marca crida pela Toyota para atender o mercado norte-americano, aposta, assim como a alemã Volkwagen, em bicicletas híbridas, mas sem deixar de lado o cuidado com o design. Feita em fibra de carbono, a bicicleta tem oito velocidades. As rodas da frente contam com um motor de 240 Watts e as de trás funcionam por pedal. A energia vem de uma bateria de íon de lítio de 25,9 volts. Há também um sistema de freio regenerativo, que recarrega a bateria nas frenagens


Materiais modernos
O mercado brasileiro também conta com diversos modelos voltados para o alto rendimento. O gerente de produtos da Caloi, Fábio Teixeira, conta que durante o processo de fabricação, as empresas levam em consideração as diferentes necessidades dos atletas para criar modelos cada vez mais avançados. ;Todos os requisitos necessários para os ciclistas norteiam o desenvolvimento dos modelos mais modernos. Para isso, o uso da tecnologia é fundamental durante o desenvolvimento;, conta o executivo, explicando que o uso de materiais apropriados para cada segmento pode fazer a diferença entre a vitória e a derrota de um atleta.

;Por ser muito mais leve, a fibra de carbono é, atualmente, o material mais utilizado na confecção de quadros para quem corre em estradas. No entanto, ele é menos resistente que o alumínio (que, por sua vez, é mais pesado). Por isso tende a durar menos tempo;, analisa. Para atletas de alto rendimento, que exigem muito do equipamento, o tempo de vida médio de uma bicicleta pode alcançar apenas seis meses. Como as bicicletas de velocidade não têm suspensão, o uso da fibra também é mais indicado, por conseguir absorver melhor as irregularidades do asfalto que o alumínio.

Teixeira conta que, além de aparelhos eletrônicos que medem dados como frequência cardíaca e variações do terreno, as bicicletas mais modernas vêm com sensores que medem até o desempenho das pedaladas dos atletas. ;Assim é possível ver se o ciclista está fazendo mais força com uma perna e ajustar o ritmo durante uma prova.; (FB)