Modernizar os serviços e a produção com o uso de tecnologia, apesar de necessário, é ainda um desafio para o orçamento apertado das pequenas e médias empresas (PMEs). No entanto, as companhias perceberam que para ter espaço no mundo dos negócios é preciso contar com ela. Segundo um estudo da Microsoft feito com 500 PMEs parceiras no Brasil, nos Estados Unidos, no Reino Unido, no Canadá e na Índia, 69% pretendem aumentar os investimentos tecnológicos em 2010. A previsão é que o crescimento nesta área chegue a 16% neste ano.
;As pequenas e médias empresas mais competitivas estão investindo em TI não só para proteger e fortalecer os seus negócios, mas para prepará-los para o atual momento econômico de crescimento. Entre o benefícios da TI estão a redução de custos operacionais, a melhoria de produtividade e a retenção de clientes;, explicou Ana Claudia Plihal, gerente comercial de pequenas médias empresas e distribuição da Microsoft Brasil, na divulgação do estudo.
A pesquisa aponta também que as PMEs pretendem prioritariamente consolidar a TI, utilizar softwares como serviço, realizar a gestão de relacionamento com consumidores e adquirir soluções de suporte a funcionários remotos. O Brasil liderou o ranking das empresas pesquisadas, pois 79% dos parceiros da Microsoft apontaram que têm intenção de investir em tecnologia neste ano.
Em uma outra pesquisa, a International Data Corporation (IDC) mostra que os gastos de PMEs na América Latina vão crescer mais de 7% entre 2010 e 2014, sendo que as regiões em desenvolvimento, como o Brasil, o investimento pode chegar a 4%. ;O desenvolvimento da região representa uma grande oportunidade para o crescimento do mercado. As empresas de tecnologia precisam desenvolver estratégias separadas para compreender as necessidades de cada tipo de empresa;, disse Ray Boggs, vice-presidente da IDC, na apresentação do estudo.
Ambiente virtual
Um dos elementos que podem impulsionar esse investimento é a virtualização de servidores e de desktops. Com a virtualização, é possível no servidor de uma empresa rodar ao mesmo tempo mais de um sistema operacional, permitindo ainda a cada usuário manter o próprio ambiente de trabalho personalizado e com diferentes aplicativos, independentemente do computador que estiver utilizando. ;Na virtualização de servidores, ou consolidação, a ideia é uni-los no menor número de máquinas possível ; uma mesma caixa com várias máquinas que vão executar um serviço antes feito por um aparelho;, explica Luíz Szente, gerente de desenvolvimento de negócios da Citrix, empresa especializada em virtualização.
De acordo com um estudo da consultoria norte-americana Forrester, 30% das 257 companhias pesquisadas já têm cerca da metade dos servidores como virtuais. A tendência é continuar o crescimento. A mesma pesquisa mostra que 25% das corporações pretendem ter mais da metade dos equipamentos funcionando no mundo virtual até 2011.
A virtualização também é apontada como tecnologia para redução de custos. No Brasil, 30% das PMEs veem o processo como necessário para economia nas empresas, de acordo com o estudo da Microsoft. ;O maior custo hoje não é na compra de equipamentos, é o gerenciamento das instalações do desktop. Cerca de 80% dos custos estão nisso. Com a virtualização, esse valor cai muito;, afirma Szente.
Além de reduzir os custos, a virtualização tem outras vantagens. Não é preciso a troca de equipamentos e há segurança, pois como tudo está armazenado em um servidor diferente, a perda de informações é menor. ;Com a virtualização, caso alguém roube ou quebre uma estação não é necessário ficar de braços cruzados, basta pegar outro equipamento que todas as informações, sistema operacional e arquivos estarão lá;, explica Szente.
O gerente da Citrix aponta apenas uma desvantagem quanto a virtualização, mas com uma solução. ;Se o link cair, o usuário fica sem os arquivos. Para algumas máquinas, pega-se uma imagem do servidor e transmite para esse computador, assim, ele não precisa do servidor. Quando o link voltar, os dados atualizados são transmitidos;, afirma.
Nas nuvens
O custo para compra de licenças de uso de softwares, que vão desde editores de texto até programas para gerenciamento de estoques, ainda é elevado para as PMEs. A computação nas nuvens tem se mostrado como alternativa mais econômica para as empresas. Um levantamento da empresa de consultoria norte-americana Forrester mostra que ter um e-mail totalmente nas nuvens é até três vezes mais barato que um com base em servidores da empresa. Os custos com hardware e software para o servidor, armazenamento e filtro de mensagens são inexistentes na computação em nuvem e, por isso, tornam o processo mais barato.
Durante o Google Press Summit, em Buenos Aires, o gerente de marketing de produto do Google, Alex Torres, destacou, além da economia, o serviço colaborativo e a segurança como pontos fortes da computação em nuvem. ;Há maior disponibilidade e menor tempo administrativo, é fácil de usar, apresenta integração, colaboração entre usuários e não precisa de atualização do software;. Mais de 2 milhões de empresas utilizam o Google Apps no mundo, sendo 100 mil na América Latina. Em 2009, 112 novas funcionalidades foram adicionadas aos produtos.
Neste ano, o Docs acaba de ganhar a opção de edição em planilha e colaboração em tempo real com até 50 usuários. Além disso, está em teste um sistema de impressão para arquivos em nuvem ; não será mais preciso baixar o documento para o computador e imprimi-lo.
Os investimentos nesse segmento estão em ritmo acelerado. A Microsoft, por exemplo, pretende investir US$ 9,5 bilhões este ano em pesquisa e desenvolvimento, sendo cerca de 50% somente para o cloud computing.
TI para economizar
Entre as ferramentas e inovações usadas para reduzir os gastos, aumentar a produtividade e facilitar a gestão de pessoas jurídicas estão o uso de voz por IP, investimentos no comércio eletrônico e no marketing virtual
Ataide de Almeida Jr.
Breno Fortes/CB/D.A Press
Gabriela Nogueira (E) e Janaína Silva (D) utilizam o sistema de telefonia VoIP da Rohr. Corte nos custos e facilidade no uso são benefícios da tecologia
De acordo com a IDC, as empresas com menos de 20 funcionários respondem por mais de 90% das companhias de pequeno porte no mundo. As empresas de tecnologia da informação (TI) perceberam o grande mercado e investem em produtos e soluções para facilitar o dia a dia das companhias. Ferramentas de colaboração que utilizam voz, serviços de mensagens instantâneas, vídeo e sistemas que permitem o trabalho em casa estão entre algumas opções já adotadas pelas pequenas e médias empresas (PMEs). O que mais atrai nessas soluções é o corte de custo que a ferramenta pode proporcionar. A adoção, por exemplo, de um sistema de voz por IP pode representar uma economia de 35% em chamadas de longa distância, 20% com manutenção de software e 40% com suporte, de acordo a consultoria norte-americana Forrester.
Para Richard Twidale, diretor de desenvolvimento de negócios da Avaya Brasil, empresa especializada em soluções de tecnologia da informação na área de telefonia, a adoção de novas soluções tecnológicas pelas PMEs deve-se, principalmente, ao fator cultural. ;O perfil dessas empresas é familiar, e, no passado, tinham pouco acesso a sistemas eletrônicos. Hoje, os donos, por influência da nova geração, estão mais abertos a escutar essas inovações como um diferenciador para os negócios;, explica. Não é só a redução de custos que atrai os comerciantes a adotar novas tecnologias. ;A diminuição das despesas é a porta de entrada, mas não para por aí. O ganho de produtividade e o melhor atendimento para o cliente também são atrativos;, afirma Twidale.
Para que a melhoria em todos esses setores funcione, é a vez dos softwares entrarem em ação. Um software é capaz de fazer, por exemplo, com que um único número de telefone sirva para todos os aparelhos do dono do negócio. ;O cliente liga para um número de telefone e ele vai tocar não só na mesa, mas no celular, no software de voz por IP, em casa, em qualquer lugar que tenha sido cadastrado. Não há mais como perder negócios;, disse Twidale. Outras soluções também parecem facilitar a gestão do negócio. ;Em uma pizzaria, por exemplo, o sistema de telefonia identifica clientes VIP e dá preferência no atendimento do delivery, se assim o dono desejar;, afirma.
A Rohr, empresa de médio porte de Brasília que fornece estruturas tubulares para a construção civil, adotou algumas medidas para conter os gastos e melhorar o sistema de telefonia. Uma solução que uniu o sistema VoIP com aplicações de comunicação corporativa, tais como correio de voz e call center, foi a opção da empresa. ;O resultado da implantação do sistema foi altamente satisfatório, pois otimizou o atendimento, evitou rechamadas, possibilitou o controle das ligações, automatizou os comandos de redirecionamentos e, consequentemente, diminui os custos e as perdas;, afirma Gabriela Nogueira, supervisora administrativo-financeira da empresa.
A contribuição maior para o corte de gastos foi a redução de chamados por demanda e a diminuição da necessidade de chamar um técnico para manutenção do equipamento. Tudo isso levou ao ganho de produtividade. O investimento em TI para a empresa reflete também em uma preocupação com o cliente. ;Como ferramenta de relacionamento e prospecção, o investimento em sistemas que assegurem a qualidade do atendimento telefônico prestado é uma preocupação constante da empresa;, explica Nogueira.
E-commerce e marketing
Em uma pesquisa da Piramyd Research, patrocinada pelo Google, as pequenas e médias empresas aparecem com grande interesse em investir no comércio eletrônico e na publicidade virtual. Das 3.600 PMEs pesquisadas na América Latina, 86% já contam com algum tipo de website e 60% estão usando métodos de e-marketing para anunciar e vender os produtos. ;Observamos um tremendo potencial para a adoção de ferramentas online entre as PMEs da região. Hoje em dia, cerca de 30% da população da América Latina e Caribe utilizam a internet, e isso significa que o consumidor está demandando novas funcionalidades e maiores opções de comércio eletrônico;, explicou Alexandre Hohagen, diretor geral do Google para América Latina, durante o Google Press Summit em Buenos Aires.
De acordo com a pesquisa, as formas mais populares de publicidade online são: anúncios em ferramentas de busca, com utilização de 38% das empresas pesquisadas; banners, com 16%; e anúncios multimídias, como vídeos e áudio, com 8% de aceitação. ;As empresas que estão mais estáveis são as que mais investem em propaganda;, disse Hohagen.
Ainda segundo o diretor geral, o grande desafio é fazer com que as PMEs entendam os benefícios dessas duas ferramentas para o negócio e, assim, invistam nessas áreas. ;As PMEs precisam melhorar os websites, habilitar as funções que permitam uma maior interatividade com o consumidor, utilizar as ferramentas disponíveis para publicidade online e adquirir maior conhecimento sobre o conceito de computação nas nuvens;, afirmou Hohagen.
O pagamento online no e-commerce ainda aparece com baixo investimento entre as PMEs. Pela pesquisa, 18% desse tipo de empresa possuem a possibilidade de transações desse tipo, enquanto que 24% pretendem começar o serviço em até 18 meses. ;Além disso, há as que permitem que sejam feitos pedidos, mas menos de 30% aceitam o pagamento digital;, disse Hohagen.
O Google traçou algumas estratégias para que as PMEs invistam em tecnologia e continuem com o desenvolvimento do serviço. Entre os planos, a adoção de centro de estudos que ensinam os funcionários como fazer um planejamento online para as empresas e apresentar a computação nas nuvens. ;A adoção de uma plataforma que permita fazer sites de forma simples é uma das estratégias;, afirmou Hohagen.
AJUDA DO SEBRAE
; O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) possui o serviço SebraeTec, que promove a melhoria e a inovação de processos e produtos de micro e pequenas empresas por meio de serviços de consultoria tecnológica prestados por entidades executoras. O programa visa à incorporação de progresso técnico e ao aumento da competitividade dos pequenos negócios. O SebraeTec ajuda no desenvolvimento de máquinas e equipamentos, na inovação tecnológica e em desenvolvimento de tecnologias de gestão ambiental.