"Era como se o computador fosse o melhor amigo dele. O quarto virou o mundo dele, ele não saía de lá para nada, nem para se alimentar. Jogava de manhã, de tarde e de noite, passava dias seguidos sem dormir. Depois de algum tempo ele começou a ter alucinações, a ouvir vozes dos personagens do jogo, às vezes achava que estava sendo perseguido por eles". Este é o relato da mãe de um adolescente que com 12 anos já era viciado em jogos eletrônicos.
O excesso do jogo e o distanciamento do convívio familiar e social acabaram levando o rapaz à síndrome do pânico. A mãe conta que certa vez proibiu o garoto de jogar e no segundo dia do castigo se deu conta que ele esperava todos na casa dormir para começar a jogar. "Cada vez que tentava conversar com ele para pedir que jogasse menos, a gente se desentendia, ele se chateava, nós brigávamos e ele jogava ainda mais", disse.
Durante quatro anos ele passou por tratamento psquiátrico e tomou remédio controlado, hoje está curado. Segundo a mãe, ele não joga mais e tem consciência do quanto se prejudicou no tempo em que era viciado. "Ele perdeu os amigos, perdeu a vida, não fazia mais nada, só jogava. Hoje ele tem consciência de tudo isso", disse a mãe, que pediu para que os nomes dela e do filho não figurassem na matéria por uma questão de cumplicidade. "Hoje nós somos amigos, ele se curou e eu compreendi tudo o que aconteceu, por isso não faço nada sem falar com ele e vice-versa", completou.
O terapeuta cognitivo comportamental Klaus Morais disse que casos como esse são mais comuns do que se imagina e que não é raro adolescentes serem submetidos à medicação e psicoterapia para se curar. Segundo ele, o jogo elEtrônico deixa de ser lazer e passa a ser um vício quando deixa de ser uma vontade do indivíduo e passa a ser uma necessidade. "Quando o sujeito substitui a vida social exclusivamente para jogar é porque já não é apenas um lazer", disse.
Disciplina
A empresária Helena Duarte, mãe de Ian de 9 anos e Davi de 8, estabeleceu os limites antes mesmo de comprar o videgame. "Eu avaliei todas as possibilidades porque videogame envolve muitos desafios, então a tendência é querer jogar sempre mais para vencer cada vez mais. Expliquei para eles que durante a semana é preciso cuidar das responsabilidades, e no fim de semana vem o lazer", disse Helena.
Os meninos aceitaram as regras e o vide-game foi comprado. Eles podem jogar na sexta-feira a noite e durante o fim de semana. "Mas eles não ficam jogando o tempo todo no fim de semana porque a gente procura sempre estimular outras brincadeiras como futebol, brincar pelo condomínio", completou. O "combinado" entre pais e filhos deu tão certo neste caso que não é preciso esconder o videogame das crianças nos dias em que é proibido jogar.
O terapeuta Klaus Morais explica que para evitar que a criança ou o adolescente se vicie em qualquer atividade é preciso delimitar os horários, ajudar o indivíduo nas interações sociais e impor disciplina. Os limites tem que ser dados desde a infância para evitar que as crianças se tornem adultos viciados em games eletrônicos.
Para a psicóloga Patrícia Pinheiro a imposição de limites desde a infância é muito importante. "Se os limites são colocados desde a infância a probabilidade dessas crianças se tornarem adultos viciados em jogos é bem menor", diz.