;Assinale aqui se você concorda com a política de privacidade e os termos de uso do site;. Essa é a decisão que todos os usuários devem tomar após preencher uma longa lista de dados pessoais de cadastro em um site ou serviço da internet. Geralmente, antes de marcar a opção, há um texto explicando o que pode ser feito após enviar as informações. No entanto, muitos não leem, e partes importantes do texto passam sem o consentimento do usuário. ;O grande ponto que as pessoas se esquecem é que por mais que sejam serviços gratuitos, há um contrato que rege tudo. De uma forma geral, o que está nesse contrato é que as informações serão enviadas para terceiros;, afirma Paulo Prado, gerente de marketing de produtos da Symantec, fabricante de produtos de segurança digital.
[SAIBAMAIS]A confiança no dono da página é um dos motivos que levam a pular o texto e ir direto ao botão ;enviar;. No entanto, de acordo com o relatório da Symantec de janeiro, todas as 150 empresas de tecnologia da informação na América Latina entrevistadas pela pesquisa já tiveram algum tipo de perda de dados confidenciais em decorrência de ataques online. Endereço de casa, telefone, CPF, número de cartões de crédito e e-mail podem ter caído nas mãos de pessoas mal-intencionadas.
No Brasil, a situação não é diferente. De acordo com o estudo, 48% das empresas brasileiras afirmaram ter perdido algum tipo de informação confidencial nos últimos 12 meses. A perda desses dados deve-se, de acordo com as companhias, a ataques maliciosos internos, como os cometidos por ex-funcionários, e ações internas sem intenção, no caso de falta de qualificação, por exemplo. ;Se o ambiente computacional das empresas não estiver protegido, há o risco de grande parte da população ter informações dela em outras mãos;, explica Prado.
O prejuízo com a privacidade, no entanto, não fica restrito aos consumidores. O relatório aponta ainda que em 92% dos casos há perda da confiança do usuário. ;Conseguimos perceber que os clientes mudam de empresas quando percebem que a segurança delas não é boa. Nesse ponto entram questões básicas, como fazer um backup dos dados e manter antivírus e sistema das redes atualizados, o que elas não fazem;, explica. A diminuição na produtividade e nos lucros das empresas também entram na porcentagem e representam cerca de US$ 2 milhões em prejuízos.
Um exemplo recente de como os dados dos consumidores podem estar por aí ocorreu com a Microsoft. No fim de fevereiro, caiu na rede o Global Criminal Compliance Handbook, uma espécie de guia de espionagem da companhia. O documento é feito para que investigadores, policiais e poder judiciário acessem as informações armazenadas pela Microsoft. Os dados do documento abrangem e-mails antigos e até número de cartões de crédito. A empresa, em comunicado oficial, se defendeu e disse que ;como todos os provedores de serviço, a Microsoft deve responder aos pedidos da lei e providenciar informações relacionadas a investigações;. Afirmou, ainda, que leva a sério a responsabilidade de proteger a privacidade dos usuários ; e deu por encerrada a questão.
Quer privacidade?
Falta de privacidade não se resume apenas a vazamento de dados pessoais. Vai além da empresas que armazenam as informações e está mais perto do que se pode imaginar. O Google passou por uma saia-justa recentemente com o lançamento do Buzz. O serviço adicionava automaticamente os seguidores. Até aí, isso era considerado uma inovação, o usuário não tinha mais o trabalho de ir atrás de cada pessoa conhecida e fazer o convite. No entanto, as pessoas que eram seguidas pelos usuários e vice-versa tornaram-se públicas para qualquer um que visualizasse o perfil no site do Google, ou seja, todos poderiam saber com quem o usuário conversava ou trocava e-mails com frequência.
A questão do que expor na internet foi muito discutida durante o tempo que o Orkut dominava o cenário das redes sociais no Brasil. Comunidades como ;Quer privacidade? Sai do Orkut; mostravam que todos estavam sujeitos a ter a vida pessoal invadida. O Google percebeu a vulnerabilidade do sistema e tratou de implantar opções que davam mais segurança aos usuários. Bloquear a visualização de fotos, de recados e de dados pessoais, além de impedir a visualização dos participantes de comunidades, estão entre as mudanças do serviço.
Quem sofre com críticas atualmente é o Facebook. A empresa que antes tinha como configuração padrão o perfil privado deu a opção de deixar a página como pública e disponível para consulta por todos os usuários. ;A questão da privacidade é muito importante, mas é quase impossível medir o quanto as pessoas que estão ligadas nessas redes sabem efetivamente como se comportar. O risco de ter a privacidade abalada é muito grande;, explica Prado.
Uma das novas manias da internet é o Formspring.me. O site foi criado para que qualquer pessoa pergunte ou responda um questionamento. O grande problema é que as perguntas podem ser feitas de forma anônima, o que pode levar um usuário mais desatento a revelar detalhes da rotina para uma pessoa desconhecida. O Formspring dá a possibilidade de desativar as perguntas anônimas, mas ainda assim o perfil continua sendo público.
Por favor, roube-me
Expor a vida em 140 caracteres era o mote do Twitter. No começo, a frase que aparecia antes da caixa de texto era ;o que você está fazendo?;, o que levava muita gente a, literalmente, relatar fatos do cotidiano. Mesmo com a mudança da pergunta para ;o que está acontecendo?; é normal encontrar posts do estilo ;não tem ninguém em casa, vou levar o cachorro para passear;. Baseado nessas afirmações e no fato de ser possível localizar o usuário por meio de um sistema de geolocalização disponível no serviço é que o site Please, rob me (por favor, roube-me, em português) passou a alertar as pessoas do quão perigoso isso pode ser.
;O perigo é publicar para as pessoas onde você está. Isso porque deixa claro um lugar em que você não está, sua casa. O objetivo desse website é levantar a preocupação quanto a isso e fazer com que as pessoas pensem sobre como elas utilizam esses serviços. Todos podem conseguir informações;, explicam os criadores na página do site. Na página inicial, havia as atualizações de todos que publicavam informações relacionadas a estar em algum lugar ou sair de casa. No entanto, por causa das reclamações, o site parou de publicar as mensagens e estuda a melhor maneira de continuar o serviço.
Ouça Paulo Prado, gerente de marketing de produto da Symantec, sobre dicas para manter a privacidade na internet.