Em apenas oito anos de funcionamento, o número de assinantes do serviço de internet móvel 3G no mundo já soma mais de 500 milhões. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que mais de 4,5 milhões de acessos são feitos por modems 3G, o que corresponde a 2,6% de todo o mercado da telefonia móvel de 2009. ;A mobilidade, a qualidade do serviço e a baixa penetração da banda larga fixa podem explicar essa procura. Em muitos lugares, principalmente em cidades menores, o 3G pode ser a única alternativa de banda larga para o usuário;, explica Paulo Breviglieri, diretor corporativo da Qualcomm no Brasil, empresa especializada em tecnologia 3G.
No entanto, a grande procura por esses serviços também tem gerado dor de cabeça, principalmente para os consumidores. De agosto do ano passado a janeiro de 2010, a Anatel recebeu mais de 45 mil reclamações contra a tecnologia 3G, sendo pouco mais de 20 mil relacionadas à velocidade. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor também divulgou um levantamento com as quatro maiores operadoras de telefonia móvel do Brasil sobre o acesso ao 3G. O resultado: os serviços são insatisfatórios e frustram as expectativas dos consumidores.
Além disso, o estudo revelou que a propaganda e a velocidade nominal das conexões são enganosas. As empresas se defendem e dizem que todas as cláusulas contratuais estão disponíveis para consulta e que os clientes são informados sobre as oscilações de velocidades. ;No início foi feita muita propaganda pelas operadoras, o que despertou um interesse muito grande e a demanda acabou superando a velocidade das operadoras para equipar a rede e garantir a capacidade de adaptação e para enfrentar o tráfego de dados;, afirma Breviglieri.
Enquanto empresas de telefonia móvel e consumidores brigam, a indústria investe pesado em dispositivos que utilizam e que acessam a rede 3G. A empresa Huawei detém 60% do mercado nacional de modems USB de acesso 3G, com mais de um milhão de terminais vendidos desde a implantação no país. ;O mercado hoje em dia é comprador, existe uma carência muito grande de banda larga móvel e a empresa oferece aparelhos com taxas de transmissão diferentes para todos os públicos;, afirma Luis Fonseca, diretor de terminais da Huawei. Na World Mobile Congress, em fevereiro, a empresa mostrou o primeiro modem capaz de funcionar com as tecnologias 4G, 3G e 2G no mundo.
Na área dos aparelhos celulares, a produção também está em crescimento. Os primeiros celulares chegaram ao Brasil no começo de 2004 e tiveram uma fraca aceitação de um público acostumado a apenas a fazer e receber ligações. Atualmente há mais de 80 modelos disponíveis que possuem o serviço 3G e que tentam satisfazer o novo mercado dos apaixonados por tecnologia. De acordo com um estudo da Bango, empresa especializada na coleta de dados da telefonia móvel, o acesso à internet por smartphones cresceu 600% entre dezembro de 2008 e o mesmo período do ano passado.
Se houve aumento na procura pelos serviços, a oferta de conteúdos para a telefonia 3G também não ficou para trás. As empresas investem em sites com suporte aos browsers de smartphones, mais velozes, mas com praticamente o mesmo conteúdo que é acessado de um computador comum. ;O que acresceu bastante ao 3G foi permitir o acesso a conteúdos somente com um celular. Além de dar ao usuário a possibilidade participar mais da internet;, afirma Denis Ferreira, diretor da Compubusiness, empresa que implanta e mantém sistemas tecnológicos em pequenas e médias empresas. Ainda segundo Denis, a maior revolução está na possibilidade de os próprios usuários da internet incluirem os conteúdos nessas novas tecnologias. ;Essa é a libertação da informação, ela não está presa mais a grandes empresas;, explica.
A tecnologia 3G ainda traz a possibilidade de download de músicas, baixar e enviar vídeos em alta velocidade e dar acesso a televisão no celular, além de permitir víideochamadas. No entanto, o problema da velocidade pode ser um empecilho para essas inovações. ;Mesmo com uma conexão dessa forma, ainda sim conseguimos fazer conteúdos mais direcionados e que conseguem atender o público. Há questões limitadas ainda hoje, como as videoconferências, mas esperamos que, com a evolução da tecnologia, isso possa ser superado;, afirma Denis.
Um novo mercado que se abre para o uso da rede 3G na área de conteúdos é o de lojas de aplicativos para celulares. Programas de localização geográfica, acesso a contas de bancos, ao Twitter, a programas de bate-papo, ou aos que usam a voz por IP, no qual o usuário não paga a ligação, estão entre os aplicativos que podem ser utilizados. ;Esse novo mercado só é possível hoje pelo fato de poder baixar pelo celular e ser atualizado por ele. É um provedor de conteúdo que ajuda o dia a dia das pessoas e usa a rede 3G;, explica Denis.
Congestionamento
O Federal Communications Commission (FCC), órgão do governo dos Estados Unidos responsável pela empresas de telefonia, divulgou uma nota que demonstra certa preocupação com a popularização de gadgets que utilizam a tecnologia 3G. De acordo com o FCC, esses novos produtos, como o novo iPad, podem causar um congestionamento na rede de telefonia móvel do país por tornarem mais simples que em um notebook a navegação e o download de conteúdos.
Para piorar, a empresa norte-americana Bridgewater Systems apresentou um relatório sobre o crescimento na troca de dados em serviços da telefonia móvel. ;Os smartphones somam quase 20% do total de vendas de aparelhos no mundo, pois o iPhone mudou a dinâmica desse setor. Os usuários estão usando mais dados, gastam mais tempo online. O smartphone também educou uma geração em como utilizar vídeos, músicas e navegar na internet;, exemplifica o relatório.
A Bridgewater Systems ainda cita o pronunciamento do presidente da AT, operador oficial do iPhone nos Estados Unidos, em que diz que o smartphone da Apple ;resultou em uma experiência na rede que não é padrão suficiente para a demanda dos consumidores de centros urbanos;. Em 2013, diz o documento, 95% de todo o tráfego de rede da telefonia celular será de dados.
Um dos diretores do Plano Nacional de Banda Larga do governo norte-
americano também afirmou no blog do órgão que esses problemas de congestionamentos não são novidades no país. Em 1996, quando a AOL decidiu permitir o uso ilimitado da internet, os usuários ficaram por vários meses com dificuldades na conexão. Para resolver o problema, a AOL aumentou a capacidade dos servidores e modernizou o sistema. Do mesmo modo, afirmou o diretor, o congestionamento provocado pelo uso das redes 3G poderá ser solucionado se as empresas se adequarem às novas particularidades dos consumidores.
No Brasil, o maior problema está nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, mas o congestionamento das redes 3G ainda não é preocupante. ;Por enquanto não temos esse problema. Mas, com a quantidade de frequência da rede que as operadoras têm hoje para prestar o serviço, elas vão chegar ao limite em poucos anos;, afirma Paulo Breviglieri, diretor corporativo da Qualcomm no Brasil. Para evitar chegar a esse ponto, o diretor da Qualcomm explica que a adoção de uma outra faixa de frequência seria o melhor caminho. ;A faixa de 2,5Ghz é a que será utilizada para a quarta geração da telefonia móvel no mundo inteiro;, explica.