Um cuida de tarefas domésticas. Outro ajuda nas compras do supermercado. Há, também, o que participa de uma orquestra de música regendo os músicos. Isso sem falar no que faz companhia a adultos e no outro que cuida de crianças. A variedade e a qualidade de robôs humanoides desenvolvidos nos últimos tempos fazem Rosie, a competente empregada dos Jetsons, parecer um modelo tosco e pouco prático. Aquele futuro representado por uma sociedade composta por humanos e máquinas equipadas com inteligência artificial, outrora tão distante e impossível, está cada vez mais próximo. Cientistas e fabricantes, agora, estudam uma estratégia viável para que as invenções deixem de ser somente protótipos apresentados em eventos tecnológicos e passem a ser comercializadas em larga escala industrial. Por enquanto, a parte econômica da complicada equação ainda não foi resolvida.
O caso de Mahru-Z é emblemático. Criado por pesquisadores sul-coreanos, o robô é capaz de recolher as roupas sujas e colocá-las na máquina de lavar. Pode, ainda, aspirar a poeira da casa, preparar uma refeição no micro-ondas e servir o jantar em uma mesa arrumada de maneira impecável. Mahru-Z é, portanto, uma grande esperança para que pessoas com deficiências físicas tenham as tarefas domésticas realizadas de maneira menos complicada. O Instituto de Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul, onde o projeto foi elaborado, gasta cerca de US$ 3,5 bilhões todos os anos em pesquisas na área de robótica. Mesmo assim, esse robô ainda não tem previsão para chegar ao mercado, porque a produção em grandes quantidades não é vantajosa financeiramente.
Ir às compras pode ser uma verdadeira tortura. É preciso lembrar dos itens que estão faltando em casa, localizar cada um dos produtos nas seções e prateleiras, comparar preços e carregar sacolas pesadas. O Robovie II, produzido pelo Instituto Internacional de Pesquisas Avançadas em Telecomunicações, de Kyoto, no Japão, resolve todos esses problemas. De casa, por meio do telefone celular, o usuário envia a lista de compras para o robô no supermercado. Quando o cliente chega ao local, a máquina reconhece o usuário pelo sistema de localização do telefone, saúda o consumidor pelo nome e inicia as compras. Tem mais. O Robovie II tece comentários sobre a aparência de frutas e verduras. O robô já está sendo testado em lojas da cidade, mas o custo de fabricação também é altíssimo.
Todos esses projetos de robôs humanoides requerem uma tecnologia extremamente apurada. O professor Alberto José Alvares, da faculdade de engenharia mecatrônica da Universidade de Brasília (UnB), ressalta que é exatamente essa sofisticação que torna tais máquinas tão caras. ;O preço por unidade é absurdo. Desenvolver uma máquina inteligente e flexível, que consiga realizar tarefas como os humanos fazem, é algo muito complexo. São necessários hardwares e softwares modernos, mas que ainda trazem limitações e custos que se transformam no grande entrave para a comercialização dos robôs;, destaca Alvares. ;Essa não é uma tecnologia barata e disponível, como é a da robótica industrial;, completa.
Lazer e diversão
As tarefas realizadas por hobôs humanoides, atualmente, não estão somente no campo das obrigações humanas. Muitas dessas máquinas são programadas para entreter o usuário. Aiko é uma robozinha atraente. Com quase 1,6m, ela tem medidas de deixar muitas mulheres com inveja: 82cm de busto, 56cm de cintura e 84cm de quadril. A conversa entre máquina e humano é permitida por causa das 13 mil sentenças programadas em Aiko. De fabricação canadense, ela adora crianças, tem habilidade para discutir o relacionamento e reclama quando não está feliz com determinada situação. Quanto custa esse sonho de mulher? Cerca de US$ 17 mil, ou algo em torno de R$ 30 mil.
Outra invenção que vem conquistando a admiração do público é o pequeno iCube. O robô apresenta design moderno e traços faciais que remetem a uma criança. Ele foi criado para que pesquisadores possam observar o processo de aprendizado de uma criança que ainda dá os primeiros passos e descobre formas, cores e cheiros. ;O objetivo é entender mais sobre a capacidade dos seres humanos de cooperar, trabalhar juntos e compreender o que os outros querem que façamos;, afirma Peter Ford Dominey, responsável pelo projeto, que é desenvolvido com cientistas de todo a Europa.
Quer mais? Eis Asimo. Um simpático humanoide que anda para todos os cantos segurando uma baqueta. Exatamente. Ele é capaz de reger, com precisão, uma orquestra inteira sozinho. O projeto da Honda foi apresentado, no ano passado, em Detroit, nos Estados Unidos, onde impressionou ao comandar programas musicais da cidade na companhia do renomado violoncelista naturalizado norte-americano Yo-Yo Ma. Um dos objetivos da fabricante com o robô é chamar a atenção de crianças e adultos para os concertos da Orquestra Sinfônica de Detroit, incentivando a popularização da música clássica.
Eliana Prado Aude, pesquisadora do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UCE/UFRJ), explica que os estudos na área de inteligência artificial estão bastante avançados em todo mundo. No Brasil, de acordo com ela, existem trabalhos muito interessantes nesse sentido. ;Temos bons laboratórios e profissionais capazes. Não vejo dificuldades em desenvolver robôs programados para realizar tarefas domésticas, por exemplo. O que falta, talvez, seja um direcionamento. Na minha opinião, é uma questão definir as demandas para iniciar o desenvolvimento;, afirma a especialista.
COMPANHIA COMPLETA
Rosie era uma simpática robô que trabalhava na casa da família Jetson e realizava tarefas domésticas. Dona de um jeito estabanado, ela recompensava eventuais confusões com bastante carisma. O desenho animado, que criava um cenário de como seria o mundo no século 21, foi criado há 48 anos. Liderado pelo patriarca George, o quarteto completado por Jane, Elroy e Judy transformou-se em um dos ícones do desenho animado na década de 1960.