Administrado na maioria das vezes como um mundo à parte no qual o show jamais pode parar, o esporte relutou, mas finalmente colocou as máscaras no combate à epidemia de coronavírus. A semana começou com eventos de ponta tomando decisões severas e antipopulares na tentativa de ajudar a controlar o risco de contágio.
A badalada Champions League voltará a campo hoje e amanhã com portões fechados em duas partidas. O Valencia não terá o apoio da torcida na tentativa de virar o jogo contra a Atalanta. Motivo: o adversário é da Itália, o país europeu mais afetado pelo Covid-19. O time italiano venceu a partida de ida por 4 x 1 e pode até perder por dois gols de diferença no Estádio Mestalla. Anfitrião amanhã contra o Borussia Dortmund, o PSG de Neymar não contará com o apoio da torcida no Parque dos Príncipes contra a equipe alemã, vencedora do jogo de ida por 2 x 1.
Epicentro da epidemia na Europa, a Itália demorou, mas finalmente radicalizou. Ontem, o Comitê Olímpico Italiano exigiu a interrupção de “todas as atividades esportivas em todos os níveis” até 3 de abril contra a progressão do novo coronavírus. “Não há razão para os jogos e eventos esportivos continuarem e penso no campeonato de futebol. Sinto muito, mas os ‘tifosi’ precisam aceitar isso”, disse o chefe do governo italiano Giuseppe Conte em entrevista coletiva, sem especificar se a medida afeta os jogos das competições europeias. Não se sabe ainda o posicionamento da Uefa quanto ao duelo da Juventus contra o Lyon na próxima semana pela Champions League.
Segundo torneio de continental de clubes em relevância no Velho Continente, a Liga Europa também fechará os portões do estádio Ramón Sánchez Pizjuán no duelo entre Sevilla e Roma. Coincidentemente, mais um visitante italiano. Com a paralisação do esporte na Itália, o confronto Inter x Getafe não tem data marcada. Até ontem, o número de casos positivos na Itália subiu para 9.172 — 1.797 a mais do que no domingo — e o número de mortos para 463 (97 nas últimas 24 horas).
Dos 24 convocados por Tite para o início das Eliminatórias para a Copa do Qatar-2022 contra a Bolívia (Recife) e o Peru (Lima), 14 desembarcarão no Brasil vindo da Europa. Dois deles da Itália: os laterais Danilo e Alex Sandro. “O doutor Rodrigo Lasmar antecipou essa situação, conversou com o Ministério da Saúde, tomou todas as providências necessárias e está conversando com os departamentos médicos dos clubes. Ele está atento 24 horas e recebendo todas as informações”, disse o preparador físico da Seleção, Fábio Mahseredjian.
A Conmebol tem pelo menos três eventos neste primeiro semestre: Libertadores, Sul-Americana e a Copa América. Entretanto, não há prevenção. Os jogos continuam sendo disputados com a presença de torcida. O duelo entre Barcelona e Independiente Del Valle seria vetada ao público, mas houve resistência e venda de ingressos.
Eventos de ponta como os Jogos Olímpicos e a Eurocopa também vivem um dilema. A tradicional cerimônia de acendimento da tocha está marcada para quinta-feira no antigo Estádio Olympia e será fechada ao público. Apenas 100 convidados, credenciados pelo Comitê Olímpico Internacional e pelo Comitê Organizador de Tóquio-2020, poderão participar do evento. Até o ensaio será fechado ao público. A chama passará por 37 cidades e 15 sítios arqueológicos na Grécia, cobrindo 3.500km, 842 milhas náuticas e será transportada por 600 corredores.
O tênis começa a lutar timidamente contra a epidemia. Embora o torneio de Indian Wells esteja cancelado, o presidente da ATP, Andrea Gaudenzi, avisa: “O calendário depois de Indian Wells permanece inalterado”.