Superesportes

Organismo feminino em evolução



Os planos para a novata veterana Maria Carolina Santiago eram ousados e começavam pelos Jogos Parapan-Americanos de Lima-2019. Mas ela apresentou problemas hormonais durante a competição na capital peruana. Naquele momento, percebeu a sensibilidade e o profissionalismo do Comitê Paralímpico Brasileiro de enxergá-la como um “organismo feminino”.

“Quando comecei a apresentar dificuldades por causa de hormônios, a comissão técnica não tratou como uma besteira, uma frescura. Pelo contrário, procurou uma ginecologista do esporte que me avaliou, um nutricionista, porque que eu estava baixando muito de peso nos treinos. Viram-me mesmo como mulher e me possibilitaram chegar aonde eu cheguei”, avalia.

Carol se emocionou ao ouvir pela primeira vez o hino brasileiro de cima do pódio e desfrutou o momento mágico por quatro vezes no Parapan. Foi ouro nos 50m livre, nos 100m livre, nos 100m costas e nos 400m livre. “Eu nunca havia vivido aquela emoção. Achei que não fosse chorar, porque sou meio seca na preparação para aguentar tudo até o fim. Mas quando escutei o hino, percebi que não dava para segurar”, conta.

Muito choro de alegria ainda estava guardado para o Mundial de Londres-2019. Primeiro, com a prata nos 100m costas, após nadar sem os óculos de natação, por causa do incômodo com a luz do teto do parque aquático. Por isso, teve de competir com o tapper, técnica que auxilia o nadador cego com uma espécie de vara para comunicar o momento da chegada. “Na hora que recebi a medalha, disse que aquela era a maior emoção da minha vida. O meu tapper respondeu que não era, ainda não”.

No dia seguinte, Maria Carolina venceu a russa Anna Krivshina, por apenas 1 centésimo à frente nos 50m livre em uma final eletrizante. “Realmente, a maior emoção da minha vida era essa. Quando o hino brasileiro começou a tocar, eu só pensava que tinha deixado tudo na piscina, estava realmente muito satisfeita e feliz por ter feito a minha parte. Até então todos tinham feito a parte deles na preparação”, alegra-se. A brasileira ainda fechou a principal competição do ano passado com outro ouro nos 100m livre.



Entenda a modalidade
A natação paralímpica abrange os nados livre, costas, borboleta, peito e medley. A piscina segue os mesmos padrões olímpicos. As baterias são separadas de acordo com o grau e o tipo de deficiência. As adaptações são feitas nas largadas, viradas e chegadas. Os nadadores cegos recebem um aviso do tapper, por meio de um bastão com ponta de espuma quando estão se aproximando das bordas. As classes começam com a letra S (swimming, que significa natação em inglês). De S1 a S10, são atletas com limitações físico-motoras. De S11 a S13, com deficiência visual. E S14, com deficiência intelectual.


Curiosidade
As primeiras mulheres brasileiras a disputar os Jogos Paralímpicos foram Beatriz Siqueira, na natação e no lawn bowls (uma espécie de bocha sobre grama), e Maria Alvares, no tênis de mesa e no atletismo. Elas competiram na edição de Toronto-1976, no Canadá. O Brasil havia estreado nos Jogos em Heidelberg-1972, na Alemanha. As Paralimpíadas se originaram em Stoke Mandeville, na Inglaterra, como uma forma de reabilitar militares feridos na Segunda Guerra Mundial. Oficialmente, porém, a primeira edição dos Jogos Paralímpicos ocorreu na cidade italiana de Roma, em 1960.