Ana Sátila praticamente cresceu dentro da água. Aprendeu com o pai a ter disciplina nos treinamentos. Aos cinco anos, começou na natação, modalidade que o pai sonhava vê-la competir. Aos nove, no entanto, a filha recebeu o convite de um professor de canoagem para conhecer outra modalidade. “Desde o início, eu me apaixonei de verdade, não conseguia mais faltar a nenhuma aula, treinava todos os dias e gostava. Meu pai vendo aquilo começou a me apoiar bastante também”, diz Ana Sátila.
Aos poucos, a mineira foi participando de campeonatos municipais, estaduais e Copa Brasil de canoagem, mostrando potencial. A paixão, porém, esbarrou no desafio de se inserir em um esporte que era predominantemente masculino. “Eu procurava me encaixar muito no grupo dos meninos até que entendi a necessidade de ser eu mesma e continuar lutando do meu jeito”, lembra Ana Sátila. Apesar do estranhamento inicial, ela diz que o time masculino sempre a acolheu bem e teve papel fundamental na carreira dela.
Ainda assim, Ana Sátila tem consciência da importância da representatividade que é competir na canoagem slalom. “O papel da mulher no esporte deu um salto nos últimos anos. Temos conquistado nosso espaço e mostrado do que somos capazes”, analisa. Ela cita os Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 como exemplo de maior equilíbrio entre os dois gêneros.
Entre todas as modalidades, dos 484 atletas brasileiros, 249 eram homens e 236 mulheres, o equivalente a 48,7% do total. “É uma esperança para todas as meninas da nova geração que estão iniciando no esporte e podem se espelhar nas nossas conquistas. Isso acaba sendo uma influência grande para essa nova geração”, diz a atleta, que sonha em “continuar buscando igualdade e o espaço das mulheres na sociedade, dentro ou fora do esporte”.
Curiosidade
A América do Sul teve a primeira representante feminina nos Jogos Olímpicos de Los Angeles- 1932, quando as mulheres ainda não eram consideradas atletas oficiais. A nadadora Maria Lenk, na época com 17 anos, e outros 68 atletas da delegação brasileira venderam o café que levaram no porão do navio para custear a viagem até a competição. A paulistana foi a primeira nadadora brasileira a estabelecer um recorde mundial. Ela também foi pioneira da natação moderna por ter introduzido o nado borboleta em competições, quando o executou nas Olimpíadas de Berlim-1936 em uma prova de peito.
Entenda a modalidade
Na canoagem slalom, o competidor percorre um percurso de 250m a 400m que conta com 18 a 25 obstáculos, chamados de porta. As portas de cor verde indicam que o atleta deve descer o rio (a favor da corredeira), enquanto, nas de cores vermelhas, é preciso subir (contra a corredeira). O objetivo é passar errando o mínimo possível no menor tempo.