O calendário da CBF diz que a temporada começou em 22 de janeiro. Portanto, amanhã, o ano letivo do futebol brasileiro completará 40 dias e vários “acadêmicos” da Série A acumulam reprovações em disciplinas básicas como as etapas iniciais da Copa do Brasil, Sul-Americana e Pré-Libertadores. Em tese, a onda de fracassos deve pilhar o Brasileirão. Esta será a única competição, por exemplo, do Atlético-MG após o fim do Mineiro.
O país esperava ter nove representantes na fase de grupos do principal torneio de clubes do continente. Faltou um. O Corinthians caiu na segunda fase da etapa preliminar contra o Guaraní e frustrou o sonho paulista de ter o Timão e o Palmeiras juntos no Grupo B. O carrasco paraguaio completou a chave com Bolívar e Tigre.
Na noite de quinta-feira, o Brasil quebrou recorde de eliminações no atual formato da primeira fase da Copa Sul-Americana. Eram seis participantes. Restam dois: Bahia e Vasco. Estreante em competições internacionais, o Fortaleza sofreu gol do Independiente nos acréscimos, e a fanática torcida que invadiu Buenos Aires no duelo de ida chorou a eliminação no Castelão. Na terça, o Goiás — finalista do torneio na edição de 2010 — havia sido despachado pelo Sol de América do Paraguai.
Nada se compara aos vexames de Fluminense e Atlético-MG. Vice-campeão da Sul-Americana em 2009, o tricolor carioca não foi páreo para o Unión La Calera do Chile e teve o plano de conquistar o primeiro título continental em 117 anos de história adiado mais uma vez. Restam ao clube o Carioca, a Copa do Brasil e a Série A.
A situação do Galo só não é pior que a do arquirrival Cruzeiro, que nesta temporada amargará a segunda divisão. O time conseguiu a proeza de ser eliminado da Copa Sul-Americana e da Copa do Brasil. Resultado: o único compromisso a partir de maio será o Brasileirão. Em jejum desde 1971, o clube ainda procurava um substituto para o técnico venezuelano Rafael Dudamel, demitido após o mico na Copa do Brasil contra o Afogados-PE. Confuso, o presidente Sette Câmara desdenhou de Diego Tardelli ao dizer que o elenco não tinha espaço para veteranos, mas queimou a língua e contratou o jogador de 34 anos.
Integrantes da Série A em 2020, Bahia, Coritiba e Sport também rodaram na Copa do Brasil. O tricolor foi surpreendido pelo River-PI. O técnico Roger Machado balançou, mas não caiu. A vaga para a segunda fase da Copa Sul-Americana deu sobrevida ao treinador. O Sport fracassou contra o Brusque-SC, atual campeão da Série D. O vexame derrubou o técnico Guto Ferreira e levou ao cargo Daniel Paulista. Vice da quarta divisão no ano passado, o Manaus tirou o Coritiba da Copa do Brasil. Portanto, quatro dos 20 times da Série A já deram adeus ao torneio mais rentável do país. A premiação da Copa do Brasil superou a do Brasileirão nos últimos três anos.
O início de ano irregular dos principais clubes do país tem impacto no banco de reservas. Um quarto dos times da primeira divisão trocou de técnico em 40 dias de temporada. O Botafogo mandou Alberto Valentim embora após a eliminação na primeira fase da Taça Guanabara, o primeiro turno do Campeonato Carioca. O Atlético-GO não foi eliminado de nada e dispensou Cristõvão Borges. A péssima arracada na Copa do Nordeste levou o Ceará a mandar Argel Fucks para o olho da rua. O Sport demitiu Guto Ferreira depois da queda na Copa do Brasil.
Há mais treinadores prestigiados. O Corinthians arrisca ficar fora da fase de mata-mata do Paulistão pela primeira vez desde 2014. Tiago Nunes perdeu crédito na Pré-Libertadores e acumula quatro jogos sem vencer. Recém-contratado pelo Santos, o português Jesualdo Ferreira pode perder o emprego no caso de insucesso contra o Palmeiras no clássico de hoje pelo Estadual (leia página 15). Imagina no Brasileirão! Afinal, os clubes rejeitaram pelo segundo ano consecutivo a proposta de limitar o número de trocas de técnico.