Em 25 de maio do ano passado, a Operação Episkiros (Jogo Enganoso) da Polícia Civil do DF, na derrota do mandante Botafogo para o Palmeiras, por 1 x 0, no Mané Garrincha, manchou o Brasileirão. Houve prisões no estádio durante a realização da partida. Matéria publicada em 7 de janeiro pelo Correio revelou que as federações do Distrito Federal e de Santa Catarina acionaram a Justiça na tentativa de receber uma dívida de R$ 28 mil dos promotores da partida entre Avaí e Flamengo, realizado em 7 de setembro de 2019.
As catracas originais do estádio mais caro da Copa de 2014, construído por R$ 1,7 bilhão, não funcionavam desde o fim dos torneios masculino e feminino de futebol dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Com isso, promotores de jogos instalavam as próprias roletas na frente das originais. Resultado: nem sempre o público anunciado era verdadeiro. Nova gestora do estádio, o consórcio Arena BSB investiu R$ 600 mil para reativar as catracas.
O auge da manipulação aconteceu na vitória do Palmeiras sobre o Botafogo. A Polícia Civil do DF prendeu empresários, entre eles o ex-jogador Roni. As suspeitas eram de inclusão de dados falsos no borderô. Segundo os investigadores, o grupo informava um valor de arrecadação menor para pagar menos impostos e um menor valor de aluguel pelo Estádio Nacional Mané Garrincha. A prisão, comandada pela Coordenação Especial de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF, envolveu 150 policiais em um dos camarotes da arena. As imagens da operação rodaram o Brasil e o mundo, irritando à época o recém-empossado presidente da CBF, Rogério Caboclo.
Tapetão
A partida Avaí 0 x 3 Flamengo virou disputa no tapetão. Como publicou o Correio em 17 de janeiro, as federações do Distrito Federal e de Santa Catarina tentam receber R$ 28 mil referentes a vendas de camarotes. Consultado pelo blog Drible de Corpo naquele mês, o diretor do departamento de competições da CBF, Manoel Flores, não tinha conhecimento do episódio e disse que apuraria o caso com os presidentes das duas federações envolvidas.Dirigentes da CBF e de clubes com os quais o Correio conversou indicavam o fim da venda do mando de campo. O poder de decisão não é da CBF, mas dos clubes. O assunto é colocado democraticamente em discussão e há uma votação simples por parte dos representantes dos 20 times da elite. Em 2017, os clubes vetaram a venda do mando de campo. O então presidente do Atlético-MG, Daniel Nepomuceno, propôs a discussão e ganhou o debate. Foram 14 votos contra a realização de jogos fora da cidade de origem e seis a favor da manutenção da comercialização.Houve reviravolta em 2018. Os clubes liberaram a venda, mas estabeleceram regras: os times só podiam atuar cinco vezes fora do estado de origem nos 19 jogos de mando; só mandariam jogos fora dos próprios domínios se houvesse a concordância do visitante; e não venderiam o mando das últimas cinco partidas no campeonato.
A decisão de ontem prevê casos excepcionais por motivos técnicos a serem analisados pela CBF. Um deles, o cumprimento de pena imposta pelo STJD ou impedimento de jogar em casa por algum motivo especial, como a realização de shows, por exemplo. Mesmo nessas exceções, não será permitido se for caracterizada a venda de mando.
Enquanto o Conselho Técnico da Série A tomava a decisão no Rio, o Correio apurou que há movimentos de empresários nos bastidores para ofertas de compras de jogos do Cruzeiro e adversários do clube mineiro na Série B, cujo arbitral ainda será realizado.
“Claro que eu fui contra a proibição. Eu sou a favor de que os clubes tenham livre-arbítrio e façam o que quiserem com o mando de campo deles. Afinal de contas, cada clube é independente para fazer o que quiser. Mas é compreensível, vocês entenderam o porquê, né?”
Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, voto vencido na discussão sobre a venda do mando de campo
Imbróglio longe de uma solução
Em janeiro, o Correio publicou matéria sobre a queda de braço entre as federações do Distrito Federal e de Santa Catarina para receber uma dívida de R$ 28 mil do promotor da partida, Romero Pimental. O empresário alega que as duas entidades não têm direito ao percentual relativo à venda de camarotes, mas os dirigentes batem o pé que sim. O caso continua sem solução. Pelas regras da CBF, cada Federação recebe 5% da renda bruta.“Esperamos pelo pagamento da diferença há meses. Decidimos notificar judicialmente a operadora do jogo por um motivo simples: as federações têm de prestar contas no balanço financeiro. Como vou explicar essa diferença?”, disse à época o presidente da FFDF, Daniel Vasconcelos. “Nós e o Distrito Federal estamos aguardando há quatro meses por um depósito que tem de ser quitado depois da partida. É o que determina o protocolo da CBF”, reclamou o mandatário da FCF, Rubens Angelotti.
O presidente do Avaí, Francisco José Battistotti, chegou a se arrepender de mandar a partida contra o Flamengo no DF. “No que depender de mim, jamais farei jogos novamente no Mané Garrincha. Se eu tiver de escolher entre Brasília e qualquer outra praça, ficarei com a outra praça. Eu nunca tive tanto transtorno quanto nesse jogo que mandamos aí”.
A reportagem apurou que a operadora de Avaí 0 x 3 Flamengo é a Trust Representantes e Associados Eireli — cujo nome fantasia é Caeli Sports. O capital social informado pela agência de publicidade é de R$ 100 mil. O contrato com as federações é assinado pelo empresário Romero Pimentel, ex-percussionista da banda candanga de pagode Clima de Montanha.
“Há uma discordância quanto aos valores dos camarotes. As federações acham que têm direito ao percentual de venda desse espaço, mas não houve venda. Como vou lançar no borderô algo que não foi comercializado? As federações pediram as cortesias e nós demos”, contesta Romero Pimentel.
5 jogos
Foram realizados no Mané Garrincha no Brasileirão 2019, com público total de 199.542 pagantes
Série A 2020
1ª rodada2, 3 e 4 de maio
Flamengo x Atlético-MG
Botafogo x Bahia
Palmeiras x Vasco
Santos x Bragantino
Corinthians x Atlético-GO
Grêmio x Fluminense
Sport x Ceará
Coritiba x Internacional
Fortaleza x Athletico-PR
Goiás x São Paulo
Decisões do Conselho
» Proibição da venda do mando de campo» Liberação do uso de grama sintética
» Diminuição de 45 para 40 no número de jogadores inscritos
» Aumento da substituição de inscritos de cinco para oito atletas. A data-limite é agosto.
» Os clubes vetaram a ideia de limitar o número de trocas de técnico no campeonato.