Jorge Jesus bebeu da fonte de Johan Cruyff. Dorival Júnior buscou conhecimento com um discípulo do holandês. Em 2015, o técnico do Athletico-PR arrumou a mochila e partiu rumo à Europa ao lado dos amigos Vágner Mancini e Júlio Sérgio para um período de reciclagem. Uma das paradas foi na Alemanha, onde Pep Guardiola comandava o Bayern de Munique. Foram 10 dias de aprendizado. Desempregado, retornou ao Brasil transformado.
Assumiu o Santos e surpreendeu o elenco. Contratado pelo Flamengo no início deste ano, o volante Thiago Maia foi um dos primeiros a notar a diferença. “Dorival é o Pep Guardiola do Brasil. Se espelha muito no Bayern. Sempre assiste. Fez estágio, ficou um mês (na Alemanha) e trouxe novidades. Tem paciência com os moleques, combina com o Santos”, elogiou o então menino da Vila Belmiro. O Peixe foi vice-campeão brasileiro naquele ano.
O guardiolismo fazia parte daquele Santos. A posse de bola era uma das marcas daquele time. O time paulista encerrou o Brasileirão de 2016 com médias de 53,4%, atrás apenas do São Paulo (53,8%). A média da posse de bola do Santos na temporada, ou seja, incluindo as outras competições, era de 70%. A do Bayern, de 78%. O “tiki-taka” de Dorival não era estéril. Tinha contundência. O alvinegro praiano teve o terceiro melhor ataque da Série A com 59 gols. O campeão Palmeiras fez 62; e o Atlético-MG, 61.
Os jogadores admiravam tanto a determinação de Dorival Júnior por aplicar as ideias de Guardiola no Santos que começaram a brincar. “Posso ser o Xabi Alonso, mas dou mais bonito do que ele”, comparou Thiago maia. “Posso ser o Lahm”, brincou o lateral Zeca à época, sem ironias. “Ele e o filho foram estudar, aprender, foram humildes. Estudaram o futebol de lá (da Europa). Não se falava muito de linhas, de sair, de toque de bola. O Santos joga assim, encaixado em linhas. Uma das novidade era correr menos. Com os jogadores perto um do outro, a equipe fica mais com a bola e cansa o adversário”, lembra Zeca.
Referência
Na época, Lucas Silvestre admitiu a rendição ao guardiolismo. “O Bayern é nossa referência e todos esses números mostram a mudança de postura dos atletas e a melhora em todos os quesitos. O departamento de inteligência mostrou isso ao treinador e ao elenco e todos ficam felizes, nos procuram para saber mais informações”, explicou. Quando Bruno Henrique foi repatriado do Wolfsburg para o Santos, a imprensa alemã chegou a brincar dizendo que o atacante estava indo para o Bayern do Brasil. Hoje, o jogador será adversário na final.
O desafio neste início de ano é inserir o chip no Athletico-PR. O primeiro teste é contra o Flamengo. Em 2016, Dorival Júnior enfrentou estilo semelhante ao de Jorge Jesus no duelo contra o Audax na decisão do Paulistão. O adversário era comandado por Fernando Diniz.
Dorival Júnior perdeu cinco titulares do título da Copa do Brasil. As perdas são significativas: o lateral Madson, o zagueiro Léo Pereira e os atacantes Marcelo Cirino e Marco Ruben, além do meia Bruno Guimarães. Vendido ao Lyon, ele foi o símbolo da conquista contra o Inter. (MPL)
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