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Marcha brasileira rumo a Tóquio

Brasil terá nove sedes para aclimatação no Japão. A cerca de seis meses da abertura da competição, detalhes da logística devem ser bem ajustados para garantir boa participação dos atletas

Todo atleta sabe que a conquista de uma medalha olímpica começa no início da carreira. Mas há outros fatores que contribuem. No caso dos Jogos de Tóquio, passará inevitavelmente pela aclimatação no Japão, que tem culinária e cultura diferentes das que os brasileiros estão acostumados e um fuso horário de 12 horas de diferença.

Pensando nessa reta final, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) negociou a instalação de nove bases que servirão aos atletas durante os Jogos de Tóquio, que serão disputados de 24 de julho a 9 de agosto. Em comum, todas têm semelhanças e uma estrutura mínima, mas também cada uma foi personalizada de acordo com as modalidades que vão receber.

 

“Trabalhamos com um conjunto de informações. Vamos pelo planejamento das confederações e procurando saber como se adaptam ao clima da vila olímpica. Para algumas modalidades é importante chegar mais cedo, para outras é interessante chegar mais tarde. Vamos juntando informações e organizando um planejamento de aclimatação”, explica Sebastian Pereira, gerente de alto rendimento e Jogos e Operações Internacionais do COB.

 

Para se ter uma ideia, ao todo 333 atletas passaram pelas bases de aclimatação no Japão para treinamentos e simulações das operações nos locais entre 2018 e 2019. Os quartéis-generais serão instalados em Hamamatsu (que também receberá a delegação brasileira para os Jogos Paralímpicos semanas depois e que conta com uma grande colônia de brasileiros), Saitama, Sagamihara, Ota, Chiba, Enoshima, Miyagase, Koto e Chuo.

 

Nesse período de preparação, diversas modalidades usufruíram das sedes. As seleções de handebol estiveram em Ota, em 2018, e passaram pelas outras cidades atletismo, judô, karatê, maratona aquática, natação, vela e vôlei. Segundo o COB, no total foram realizadas seis ações em 2018 e oito em 2019 em cinco bases exclusivas para o Time Brasil e uma instalação oficial dos Jogos de Tóquio.

 

“É importante frisar que o COB foi uma das primeiras entidades a visitar o Japão com vistas ao planejamento olímpico, no ano de 2014. Com isso, conseguimos realizar em conjunto com o Comitê Olímpico do Japão uma troca de experiências e ajuda mútua, assim como ajudamos o COJ a se instalar para os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016”, conta Paulo Wanderley, presidente do COB.

 

Para além da questão de fuso horário e alimentação com comidas brasileiras, existe uma situação que requer uma logística perfeita durante a Olimpíada. A Vila dos Atletas, local de estadia dos esportistas durante o momento em que estão competindo no Japão, tem uma lotação máxima por delegação. Com isso, cada país precisa organizar direitinho quando uma modalidade dá entrada no lugar da outra que encerrou participação.

 

“No início dos Jogos, tem espaço suficiente para todo mundo. Na segunda semana de competição, não tem espaço. Funciona no esquema de ‘cama quente’, ou seja, uma modalidade precisa sair e dar espaço para a outra. É um xadrez que a gente faz e, principalmente para as modalidades da segunda semana, precisamos oferecer uma boa estrutura de treinamento para aclimatação”, afirma Sebastian Pereira.

 

 

333 atletas

Total de competidores brasileiros que experimentaram as bases de aclimatação no Japão para treinamentos

 

 

“O COB foi uma das primeiras entidades a visitar o Japão com vistas ao planejamento olímpico, no ano de 2014. Com isso, conseguimos realizar em conjunto com o Comitê Olímpico do Japão uma troca de experiências e ajuda mútua”

 

Paulo Wanderley, presidente do COB

 

Quatro perguntas para... 

 

 

Paulo Wanderley, presidente do COB

 

Como surgiu a ideia de ter nove sedes diferentes?

Pelas características locais, não havia disponibilidade de uma instalação única que atendesse integralmente o nosso planejamento, como tivemos em 2008, 2012 e 2016. Existem universidades muito boas no Japão, mas algumas estavam com um custo alto ou apresentavam impedimentos de datas. Existe um grande centro de treinamento em Tóquio e vários outras pequenas unidades específicas, por modalidade, que obviamente estavam com a equipe japonesa. E existem vários espaços educacionais e esportivos ao redor do país, que foram indicados e apresentados ao Brasil pelo Comitê Olímpico Japonês (COJ), em conjunto com as prefeituras responsáveis. Essas são as opções que o Time Brasil está usufruindo desde 2018.

 

Como foi a negociação por esses espaços?

Realizamos uma negociação interessante para o Brasil para que a utilização desses espaços não gerasse custos financeiros ao COB. Existe um acordo para que, em troca da utilização desses espaços, realizemos ações sociais de promoção do esporte, dos valores olímpicos e de integração com a comunidade e as escolas locais. Essa iniciativa se mostrou muito positiva para o COB, para as equipes, para os atletas brasileiros e para as prefeituras locais.

 

Quanto custará a operação para os Jogos de Tóquio?

O projeto ainda está em andamento. O custo final da operação será divulgado ao final dos Jogos. Temos contato direto com Comitês Olímpicos de outros países, como Austrália, Canadá e EUA, e acompanhamos os custos relacionados às suas equipes a fim de comparar com nossas ações e estimativas. Ao longo dos últimos dois anos, fizemos também uma reserva financeira para cobrir essa missão, pois a alta do dólar naturalmente eleva o custo final.

 

Esse investimento pode se reverter na melhor campanha?

Não podemos garantir que teremos o melhor resultado da história. Podemos garantir que estamos trabalhando muito para alcançar resultados condizentes com o potencial do país no mundo olímpico, similares aos resultados que o Brasil obteve nos Mundiais realizados nesse último ciclo olímpico. Nossos objetivos são confirmar nosso potencial e termos surpresas mais positivas do que negativas.