Marche, soldado, pela glória. Você sabe do que é capaz. Marche pelo filho distante, que se orgulhará das façanhas que um dia lhe recordará. Marche por tua terra ; Cerrado, quente e seco ;, onde meninos e meninas também sonham o sonho que você sonhou. Marche por tua mãe e teu pai, que te conceberam com DNA vencedor em leito olímpico de amor. Marche, enfim, pela saudosa esposa, que aguarda o teu retorno triunfante e em paz ao Brasil.
Motivos não faltam para que o brasiliense Caio Bonfim, 28 anos, se esforce ao máximo para subir ao pódio do Campeonato Mundial de Atletismo, hoje, em Doha, no Catar. Medalhista de bronze na prova de 20km da marcha atlética na edição passada da competição, em Londres-2017, o sargento da Força Aérea Brasileira tenta repetir ou superar o feito, mas terá de encarar, além de rivais extremamente qualificados, o forte calor de quase 40;.
;Em um Campeonato Mundial, o nível é altíssimo. Desde 2015, tenho figurado entre os melhores do mundo. A ideia é brigar por boas colocações, pelo pódio. Esse é o foco. Trabalhamos bastante;, comenta Caio, que ocupa atualmente a terceira posição no ranking do Circuito Mundial da marcha atlética de 20km, com 21 pontos, em cinco provas na temporada. À frente dele estão o espanhol Diego García (24), na segunda posição, e o sueco Perseus Karlstr;m (25), na liderança. Mas há também outros fortes adversários, como o japonês Toshikazu Yamanishi, que neste ano registrou o tempo de 1h17min15s ; a melhor marca entre os 54 inscritos da prova que terá largada às 23h30 no horário local (17h30, em Brasília).
Concorrência
A elevada concorrência fez com que João Sena, técnico e pai do atleta, caprichasse na preparação visando ao Mundial. Caio chegou a Doha há 11 dias para se adaptar adequadamente ao clima local. Antes, passou três semanas em Serra Nevada, na Espanha, treinando em altitude de 2.300 metros para aprimorar o condicionamento físico. ;A preparação deste ano foi das melhores. Pela primeira vez, ele fez duas fases em altitude elevada. Primeiro, em Cuenca, no Equador, em julho, para o Pan. Depois, na Espanha. Também chegou com antecedência ao Catar para aclimatação. Houve uma prova no México, onde ele desembarcou um dia antes e foi apenas o quinto colocado, sofrendo muito. Mas agora posso dizer que está bem aclimatado. Também competiu nos 50km dos Jogos Pan-Americanos para ganhar mais resistência;, resume o treinador.
Resultados recentes confirmam a boa fase de Caio Bonfim. Em junho, ele disputou o GP Cantones de La Coruña, na Espanha, e bateu o recorde brasileiro dos 20km, com 1h18min47s. Depois, em agosto, obteve a medalha de prata dos Jogos Pan-Americanos de Lima, com tempo de 1h21min57s, atrás do equatoriano Brian Pintado (1h21min51s). Em seguida, o brasiliense conquistou o sétimo título do Troféu Brasil, em Bragança Paulista, com 1h24min32s. ;Trabalhamos bastante, tenho treinado e me dedicado muito. Toda essa preparação para brigar entre os melhores. O determinante é acreditar que a gente pode chegar;, comenta o marchador.
;Vai ganhar medalha o atleta que resistir mais ao clima do Catar, que é quente e úmido. A estratégia é não sair forte demais e não tentar ganhar a prova no começo. Tem de deixar energia para os quilômetros finais e ver como cada adversário vai se comportar;
João Sena, técnico e pai de Caio Bonfim
1h18min47s
Recorde brasileiro dos 20km da marcha atlética, registrado por Caio Bonfim