Para evitar casos de doping e garantir que suas atletas estejam em plenas condições físicas e psicológicas durante as competições mais importantes, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) resolveu seguir os colegas do basquete e contratar Tathiana Parmigiano, especialista em ginecologia do esporte.
Irmã da ex-judoca Cristiane Parmigiano, que disputou as Olimpíadas de Atlanta-1996, Tathiana praticou natação e pólo aquático pelo Pinheiros antes de estudar medicina. Em outubro do ano passado, Ney Wilson, coordenador técnico da CBJ, encontrou-a em um congresso na capital paulista e manifestou o desejo de contratá-la após acompanhar sua palestra.
No último mês de janeiro, a médica aproveitou o período de treino da seleção em São Paulo para fazer os contatos iniciais com as judocas. Além de proferir uma palestra para explicar o seu trabalho, ela passou um questionário que, a princípio, gerou desconforto entre as atletas.
"Obviamente, tinha perguntas íntimas, como quantos parceiros já teve, se tem algum no momento. As meninas ficaram bem receosas, porque pensaram que todas as respostas seriam lidas pela comissão técnica. Isso foi quebrado quando elas entenderam que era uma coisa confidencial", explica Rosicléia Campos, técnica da seleção feminina.
A tensão pré-menstrual (TPM) é um conjunto de sintomas físicos e comportamentais que ocorre na segunda metade do ciclo menstrual. Nervosismo, alterações de humor, cólicas, ansiedade e dor de cabeça são alguns dos efeitos mais comuns neste período em algumas mulheres.
Depois de conversar com o grupo, Parmigiano atendeu cada judoca individualmente e apurou se as atletas gostam ou não de lutar menstruadas, se o fluxo chega a atrapalhar durante os treinos e competições, se elas já usaram o chamado "calendário competitivo" e outras particularidades. Com base nestes dados, elaborou os tratamentos nos casos necessários.
"As próprias atletas percebem que pode ser útil para elas. A ideia é fazer com que as judocas possam competir no período em que se sentem melhor e aumentar o rendimento a partir disso. Tentamos fazer com que o ciclo hormonal interfira o mínimo possível", explica Parmigiano.
Com a data de uma determinada competição como base, a médica evita que as atletas sofram com as alterações decorrentes do período menstrual através do uso de contraceptivos hormonais. O ideal é iniciar o tratamento com aproximadamente três meses de antecedência. Caso não seja possível impedir os sintomas em todos os torneios, o mais importante é escolhido.
Existem substâncias presentes nos medicamentos contraceptivos que são consideradas doping, e um levantamento apontou que algumas judocas competiam sob risco constante de testar positivo. "Era um problema que a gente tinha. Vimos que algumas meninas estavam fora da realidade e pensavam que estavam tomando um simples remédio", diz Rosicléia.
Presente nos Jogos de Barcelona-1992 e Atlanta-1996, a atual treinadora sofria quando era obrigada a competir menstruada. "Eu tinha uma cólica insuportável. Cheguei a lutar e depois ficar deitada em uma maca antes da segunda luta de tanta dor. Eu senti isso na pele por anos e falo para as meninas que contar com uma ginecologista agora é um privilégio", disse.
Contemporânea de Cristiane Parmigiano, Rosicléia conta que a presença de uma especialista motiva as atletas a procurarem tratamentos para as questões ginecológicas. "Essa parte envolve exames que podem ser constrangedores. A maioria das meninas tem problemas e não conta. Com uma médica próxima, elas ficam mais a vontade", afirmou.