São Paulo ; A bruxa está solta no Grêmio. Em pouco mais de dois meses, um time inteiro já passou pelo departamento médico do clube gaúcho, incluindo o lateral-esquerdo Lúcio e o meia Souza, que sofreram lesões graves nos ligamentos do joelho e só voltam ao clube no próximo semestre. Além deles, os recém-contratados Leandro, Hugo e Borges sentiram lesões musculares e sequer participaram da conquista do primeiro turno do Campeonato Gaúcho, devendo voltar aos poucos, a partir de 10 dias. Somam-se ainda casos mais leves, como os de Fábio Rochemback, Henrique, Rafael Marques, Mithyuê, William e Magrão, para perceber que algo está errado na equipe supervisionada por Paulo Paixão, simplesmente o preparador físico da Seleção Brasileira.
O Grêmio justifica as lesões em massa colocando a culpa no calendário da temporada, aprovado pelo clube junto à Federação Gaúcha de Futebol. Foram cerca de 10 dias de treinamento em Bento Gonçalves, até a estreia no Estadual, com vitória de virada sobre o Pelotas (3 x 2). ;É um número de lesões um pouco acima do normal, mas são as consequências de uma pré-temporada de nove dias entrando direto no Campeonato Gaúcho, uma competição marcada pela velocidade e pela força;, justifica o diretor de futebol gremista, Luiz Onofre Meira, ao Correio. E qual seria a solução? ;Alongar a temporada. Mas o calendário teria que ser mais favorável a essa situação.;
O coordenador médico do tricolor gaúcho, doutor Márcio Bolzoni, classifica a situação de Lúcio e Souza como fatalidades e também justifica o alto número de ;pacientes; por conta do calendário apertado. ;É uma situação atípica, sem dúvida. As lesões mais graves foram acidentais. As outras, musculares, envolvem uma série de fatores como a pré-temporada curta e um campeonato com muitos jogos;, afirma Bolzoni. Para ele, seria necessário um tempo maior para que os jogadores atingissem o condicionamento físico ideal. No ano passado, como disputava a Libertadores, o Grêmio antecipou a pré-temporada, que ultrapassou duas semanas. Em 2010, o clube esticou as férias dos jogadores e está pagando o preço de uma enfermaria cheia.
Mesmo com a série de desfalques, a diretoria tricolor não questiona o trabalho do pentacampeão mundial Paulo Paixão, coordenador, e de seu filho, Anderson Paixão, o preparador físico de fato, que soma no currículo breves passagens por Caxias-RS, Chapecoense-SC, Joinville-SC e Bahia-BA, este último com uma saída conturbada. ;A condução dos trabalhos físicos é do Paixão. Com a figura dele e de seu currículo vitorioso o Grêmio cresceu muito. Com o trabalho do Anderson também estamos satisfeitos. O trabalho é para resultados em nove meses, no mínimo, não para 30 dias;, defende Luiz Onofre Meira.
Críticas
A passagem de Anderson Paixão pelo Bahia durou apenas quatro meses. Depois de receber uma proposta irrecusável e largar o Joinville para trabalhar com o técnico Alexandre Gallo em Salvador, o filho de Paulo Paixão foi demitido do clube baiano justamente pela série de lesões musculares no elenco no início da Série B de 2009 e pela seguida queda de rendimento da equipe no segundo tempo das partidas. Mesmo no Joinville ele não deixou saudades. Gilvan Silva, preparador físico que assumiu o lugar de Paixão, chegou a dizer que ;todos os jogadores do time catarinense estavam jogando no limite, altamente propensos a lesões musculares, devido a erros cometidos na preparação física durante a pré-temporada;.
Estatísticas e curiosidades
Em comparação com outras equipes, o Grêmio fica para trás quando o assunto é a quantidade de treinos físicos e de tempo de recuperação na pré-temporada. Durante todo o mês de janeiro, o tricolor realizou apenas 14h35 de treinos físicos, contra 26h30 do Atlético-MG, por exemplo. No início de temporada no time gaúcho, apenas 0,85% dos treinamentos foram destinados à recuperação dos atletas, como em banheiras de gelo, por exemplo, e 12,31% do tempo foi utilizado em atividades de recreação. No Corinthians, 26% do tempo serviu para recuperação, e somente 7% para recreação.