O torcedor que olha friamente os resultados de Santos e Palmeiras em 2010 não deve ter dúvidas em pensar: o resultado do clássico de domingo na Vila Belmiro será uma barbada em favor do Peixe. Contudo, a história do Verdão precisa ser analisada, já que mostra superação diante do rival da Baixada Santista em situações difíceis.
Durante as décadas de 50 e 60, o Santos formou o melhor time brasileiro de todos os tempos. O ataque de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe infernizava os adversários sem piedade. Todavia, no estado de São Paulo, o Alviverde Imponente conseguia fazer frente ao Peixe.
Goleiro do Palmeiras entre 1958 e 1969 e atual observador técnico do clube, Valdir Joaquim de Moraes esteve em grandes confrontos contra o Santos. "Nem sei quantos gols levei do Pelé. Ainda estou fazendo o levantamento", brinca o precursor em treinos para arqueiros no Brasil. "Eu tenho muita história para contar", emenda uma das legendas do futebol brasileiro, esbanjando vitalidade aos 79 anos.
Segundo Valdir Joaquim de Moraes, a fórmula para o Palmeiras barrar o fantástico quinteto ofensivo do Peixe estava na marcação. "O Santos tinha um ataque excelente e uma grande defesa. O Palmeiras era justamente o contrário: com um grande ataque e uma defesa excelente. Então, nós procurávamos marcar bem o time deles", conta.
No período de ouro do Santos, o Palmeiras ganhou três títulos paulistas (1959, 1963 e 1966), além de beliscar troféus nacionais, como a Taça Brasil (1960 e 1967) e do Roberto Gomes Pedrosa (1967 e 1969). O clube da capital paulista também chegou a duas decisões da Copa Libertadores da América, em 1961 e 1968 - acabou derrotado em ambas as oportunidades.
A decisão contra o Santos que mais ficou na memória palmeirense foi a do Campeonato Paulista de 1959. Empatados nos pontos corridos, os dois clubes grandes precisaram disputar um desempate. Foram necessários três confrontos para a definição do campeão. Depois de duas igualdades (por 1 x 1 e 2 x 2), o Verdão comemorou o título estadual com uma virada por 2 x 1 no Pacaembu.
"Uma coisa engraçada naquele campeonato é que saímos atrás do placar nas três partidas contra o Santos. Aquele time do Palmeiras tinha a cabeça no lugar, sempre disputamos muitos jogos fora do país junto com o próprio Santos, era uma equipe experiente", elogia Valdir Joaquim de Moraes.
A publicação de A Gazeta Esportiva de 11 janeiro de 1960, um dia após a decisão do Estadual de 1959, mostrou que o resultado caiu como uma verdadeira bomba no badalado Santos. As palavras do atacante Pepe provaram a frustração: "Essa derrota foi uma desgraça".
Valdir Joaquim de Moraes, por sua vez, é enfático ao ser questionado se a vitória palmeirense foi considerada uma grande zebra: "Surpreendente não foi, o Palmeiras chegou junto com o Santos na classificação daquele campeonato", rebate o ex-goleiro.
Mesmo integrante da atual comissão técnica do Palmeiras, Valdir Joaquim de Moraes evita debater qual a tática ideal para seu time no confronto de domingo. "Acho que não seria algo ético da minha parte", diz o ex-goleiro, em respeito ao trabalho do técnico Antônio Carlos, que tenta tirar o clube do clima de desconfiança.
Por outro lado, além de segurar os talentosos Neymar, Robinho e Paulo Henrique, o Verdão terá um desafio extra: o caldeirão da Vila Belmiro. "Lá sempre é a mesma coisa, difícil de jogar, mas o Palmeiras costuma se mostrar equilibrado na Vila", aposta Valdir Joaquim de Moraes.
A história de superação palmeirense no clássico também se repetiu em outras oportunidades. Em 2002, por exemplo, no ano em que o Santos foi campeão brasileiro, com a dupla Robinho e Diego, e o Palmeiras acabou rebaixado, o confronto na Vila Belmiro terminou empatado: 1 x 1 - o Verdão ainda reclamou da arbitragem. Dois anos depois, o Peixe repetiu o título nacional, mas levou de quatro do rival em casa.
Um dos símbolos do Palmeiras nos últimos anos, o volante Pierre parece determinado em repetir a façanha de superar o "favorito". "O Santos leva ligeira vantagem por ser o líder do Campeonato Paulista e por jogar o clássico em casa, mas não podemos esquecer que o Palmeiras é grande, tem imensa torcida e conta com ótimos jogadores", explica o camisa 5.