Não é exagero dizer que Nalbert Tavares Bitencourt segue como o único de sua espécie. Afinal, o que
ele conquistou ao longo da carreira como jogador de vôlei nenhum outro conseguiu. Campeão olímpico
em Atenas-2004, após enfrentar uma duríssima batalha contra uma lesão no ombro, Nalbert trilhou,
desde o início, um caminho de sucesso nas quadras, tanto que entrou para a história como o único
jogador a conquistar três títulos mundiais em três categorias diferentes. Foi campeão mundial
infanto juvenil, em 1991, repetiu a dose como juvenil, em 1993, e, nove anos depois, em 2002, foi
fundamental para que o Brasil chegasse a um dos momentos mais esperados de sua história, na inédita
conquista da Seleção Brasileira do Campeonato Mundial (adulto), em Buenos Aires.
Mas
ontem, dentro de seu restaurante no Rio de Janeiro, o ex-capitão Nalbert encerrou sua carreira como
atleta. Ele anunciou a aposentadoria, ideia que vinha amadurecendo desde o ano passado, e, agora,
irá se dedicar à vida de empresário e curtir a filhinha, Rafaela, de apenas 4 meses.
Por
telefone, Nalbert conversou com o Super Esportes, falou de seus planos, lembrou da carreira, citou o
momento mais especial e o mais complicado como atleta e adiantou que não pretende seguir a carreira
de técnico.
Qual é a sensação de um anúncio de
aposentadoria?
Realmente, na hora em que se anuncia dá um frio na barriga. Mas esse
vazio, essa lacuna que muitos atletas sentem, eu já estou preenchendo, porque estou envolvido com
dois negócios meus e a minha filha que nasceu agora (Rafaela, de 4 meses).
E esses negócios que você citou? O que são?
Um é o
restaurante. Foi até onde eu dei a coletiva (ontem, para o anúncio da aposentadoria), o Le Brox,
aqui no Rio. O outro é uma franquia que se chama Empada Carioca. É um desafio novo e
superestimulante.
Você é o único atleta que conseguiu
chegar a um título mundial em três categorias diferentes (infanto juvenil, juvenil e adulto).
Qual análise você faz de sua carreira?
Eu vejo que sou o fruto mais doce de todo o
trabalho brilhante que a Confederação (Confederação Brasileira de Vôlei) fez ao longo de todos esses
anos. Eu sou a personificação de todo esse sucesso no que diz respeito à categoria de base e,
depois, na categoria adulta. Toda essa carreira que eu construí, todas essas vitórias, é fruto de
todo um trabalho de bastidores muito bem feito, e que eu dei a minha pitada, com meu talento e com
meu jeito. E acabou que o vôlei, a Confederação, e o Brasil me deram muito mais do que eu dei a
eles.
Você acha que poderia ter ido mais longe se não
fossem as lesões?
Essa pergunta às vezes eu me faço. Acabei tendo esses problemas
porque eu ia muito ao meu limite físico. E por ir sempre nesse limite consegui ser o que fui. Se não
tivesse ido no meu limite será que eu seria o jogador que fui?
Se você pudesse destacar um momento em sua carreira, que momento seria
esse?
Acho que foi o título mundial na Argentina, em 2002, naquela final contra a
Rússia. Foi o primeiro título mundial do Brasil. Aquela final contra a Rússia foi a minha maior
atuação com a camisa da Seleção Brasileira e ali eu acabei fechando o ciclo de conseguir ganhar os
três títulos mundiais em três categorias diferentes. Aquele foi o momento de
êxtase.
E o momento mais complicado?
Aquela
contusão em 2004, no ombro, antes das Olimpíadas (de Atenas), foi muito difícil. As previsões eram
negativas e eu não podia ficar de fora daquela olimpíada. Foi uma luta muito grande. E acho que ter
ficado de fora das Olimpíadas de Pequim (2008) foi muito frustrante, muito difícil. Eu vinha de uma
outra contusão, no outro ombro, vinha de uma outra luta tão dura quanto aquela de 2004, mas o
Bernardo acabou optando por me deixar de fora. Ele tem todo o direito, mas para mim foi bastante
decepcionante. Foi bastante frustrante. Eu tinha certeza de que eu poderia contribuir. Agora, ele
tinha todo o direito de fazer as opções dele.
E a
experiência na praia?
Já existia uma expectativa grande e eu mesmo me botei muita
pressão em relação àquele objetivo, que era ir para uma outra olimpíada na praia e, de repente,
conseguir uma outra medalha olímpica e me tornar junto com Kiraly os únicos jogadores a conquistar
duas medalhas em dois esportes diferentes. Mas eu vi de perto que a realidade do vôlei de praia hoje
é de alto nível e um jogador, para se adaptar, para se tornar um verdadeiro jogador de vôlei de
praia, precisa de um tempo que eu não tinha. Eu não tinha esse tempo nem para me adaptar
completamente ; isso envolve três ou quatro anos ;, e nem tempo de formar uma parceria forte a tempo
de chegar a uma olimpíada. Foi por isso que eu desisti daquele objetivo e voltei para a quadra. Foi
quando eu, infelizmente, tive duas contusões seguidas, fiquei um ano parado, sem jogar, que
prejudicou minha sequência.
Você pensa em se tornar
técnico?
Hoje eu não tenho essa vontade. Não é uma coisa que me atraia muito. Tenho
vontade, sim, de permanecer no esporte, em algum projeto, de preferência em algum projeto ligado à
Olimpíada do Rio de Janeiro.
Ouça a íntegra da entrevista
com Nalbert
Quem é ele
Nome: Nalbert Tavares
Bitencourt
Data de nascimento: 9 de março de 1974
Local: Rio de Janeiro
Altura:
1,96m
Peso: 91kg
Posição: ponteiro
Principais resultados:
; ouro nas Olimpíadas
de
Atenas-2004
; ouro no Campeonato Mundial, em Buenos Aires, em 2002
; ouro na Copa
do Mundo, no Japão, em 2003
; tricampeão da Liga Mundial (2001, 2003 e 2007)
; campeão
mundial
infantojuvenil, em 1991
; campeão mundial juvenil, em 1993
Lenda viva
Charles Frederick Kiraly, mais conhecido
por Karch Kiraly, é uma espécie de Michael Jordan do vôlei. Ele é o único da modalidade a ter
conquistado a medalha de ouro olímpica tanto em quadra como nas areias. Bicampeão nas quadras (em
Los Angeles-1984 e Seul-1988), Kiraly subiu ao lugar mais alto do pódio olímpico no vôlei de praia
em Atlanta-1996.