De um lado, o criativo Cuca, capaz de encantar o torcedor com artes táticas admiráveis como as do Botafogo de 2007 e 2008 e do Fluminense, na reta final do último Brasileiro. Do outro, Vágner Mancini, um fanático por partidas de xadrez que transfere suas artimanhas para a prancheta em busca do xeque-mate. Da lousa de um dos dois "professores" sairá a jogada fatal que decidirá, às 18h30, no Maracanã, o primeiro finalista da Taça Guanabara - o outro será conhecido na quarta-feira, entre Flamengo e Botafogo. Atento aos riscos e rabiscos da dupla, o Correio antecipa as alegorias e adereços de cada um dos dois treinadores para fazerem os seus foliões felizes neste sábado de carnaval.
A missão tricolor de derrotar o Vasco, por exemplo, não é das mais fáceis. Na fase classificatória da Taça Guanabara, o único clube que, na teoria, poderia triunfar sobre o cruzmaltino era o Botafogo, vítima de uma goleada histórica por 6 x 0, no Engenhão. Com três gols sofridos em sete jogos, o Vasco tem a melhor defesa. O ataque balançou as redes 19 vezes. Só perde para o do Flamengo. Em tese, os números indicam que o time tem um sistema tático equilibrado.
A zaga, porém, é o ponto fraco. Com defensores pesados - Fernando e Titi - e sem a mesma velocidade do ataque tricolor, o Vasco precisa mais do que nunca da proteção de Nilton, que vai se posicionar como um típico cão de guarda. É dele a missão de anular o meia Conca. Léo Gago, volante pela esquerda, fica mais recuado e ajuda Nilton no resguardo da zaga, saindo como elemento surpresa, sobretudo nos chutes de fora da área.
Souza, volante pela direita de boa técnica, tem a função de auxiliar Elder Granja na marcação ao lateral-esquerdo Júlio César. O ala tricolor é rápido e ataca com frequência. O ponto forte cruzmaltino é o setor ofensivo, que perde muito sem Carlos Alberto. O capitão levou uma entrada dura do zagueiro reserva Dedé no treino de ontem e é dúvida. A tendência, no entanto, é de que entre em campo. Caso contrário, dará lugar a Magno. O substituto assumiria a mesma função.
Carlos Alberto atua no centro do campo, tabelando com Philippe Coutinho e Dodô, o único atacante de origem e posicionado mais fixo na área. Coutinho cai pelo lado esquerdo, como um ponta, e troca figurinhas com o lateral Márcio Careca, dono de um belo preparo físico e ofensivo por natureza. Elder Granja não tem a mesma força de ataque de Careca, mas faz bons cruzamentos.
A expectativa é de que Granja tome cuidado com os espaços deixados para Júlio César e não se arrisque tanto na frente. Existe ainda a chance de o zagueiro Thiago Martinelli jogar na vaga para segurar mais o perigoso lateral adversário.
Regulamento
Se houver empate, a vaga na final da Taça Guanabara será decidida nos pênaltis, sem prorrogação.
Análise por setores
VASCO
Goleiro
Fernando Prass
» Seguro e calmo, passa confiança. Salvou a equipe várias vezes. Ainda precisa melhorar quando a reposição de bola exige mais rapidez.
Laterais
Elder Granja e Márcio Careca
» Os dois apoiam com frequência, sobretudo Márcio Careca, que tem ótimo preparo físico e é veloz. Elder Granja faz bons cruzamentos. Ambos pecam na finalização e ainda não foram muito cobrados defensivamente.
Zaga
Fernando e Titi
» A lentidão da dupla é o maior temor diante do veloz ataque tricolor.
Volantes
Nilton, Souza e Léo Gago
» Marcam bem e sabem jogar com a bola nos pés. Até agora, a subida ao ataque foi uma boa alternativa para surpreender o adversário. Cobram faltas e marcam gols. Por outro lado, Souza e Léo Gago costumam apoiar bastante, o que pode provocar um contra-ataque para o Fluminense.
Meias
Carlos Alberto e Philippe Coutinho
» O capitão Carlos Alberto é a alma do time. Forma um belo trio com Coutinho e Dodô. Pode decidir a partida com um lance genial. Coutinho é habilidoso e brilhante nos dribles e nas assistências. Carlos Alberto ainda peca na marcação e recebe muitos cartões amarelos. Coutinho ainda finaliza mal.
Atacante
Dodô
» Tem faro de gol, sorte de artilheiro, habilidade e sintonia com Carlos Alberto e Coutinho. No entanto, aos 35 anos, não tem o fôlego de um menino.
FLUMINENSE
Goleiro
Rafael
» Seguro nas bolas altas, ganhou a confiança do grupo e caiu nas graças da torcida com defesas na base do reflexo, à queima-roupa, no Brasileiro do ano passado. O ponto fraco é a saída de bola.
Laterais
Mariano e Júlio César
» São muito ofensivos e peças fundamentais no esquema veloz de Cuca. No 4-4-2 precisam tirar o pé do acelerador para não expor demais a zaga. Sem Maicon, a velocidade deve ser maior pelo lado esquerdo, com os cruzamentos da linha de fundo de Júlio César.
Zaga
Gum, Cássio e Leandro Euzébio
» A espinha dorsal da defesa tricolor é formada por Gum e Cássio. Dois zagueiros altos, firmes no jogo aéreo, com bom posicionamento e toque de bola para sair jogando. Mas se enrolam quando pegam na frente atacantes habilidosos.
Meias
Diguinho, Everton e Conca
» Comandado pelo argentino Conca, o meio de campo não tem só o toque do talentoso camisa 10, mas também a garra de Diguinho. Everton joga ao lado do companheiro de armação e tem feito bons jogos, arriscando-se ao ataque com sucesso - marcou duas vezes. É um setor rápido, de jogadores leves, que se movimentam bastante.
Ataque
Bruno Veiga (Maicon) e Fred
» Bruno Veiga é rápido, joga bastante fora da área e tenta fazer as jogadas em diagonal, buscando o buraco entre a zaga e o meio-campo adversário. Fred já está acostumado a jogar com pelo menos um marcador em sua cola. Contra o Vasco, não será diferente. Isso nunca o impediu de marcar gols. Se a zaga for pesada, melhor. O marcador serve como referência para dominar, girar e chutar. Sem Maicon, que normalmente prende a marcação, terá de se movimentar um pouco mais.
Lesão de Maicon faz Cuca se reinventar
Sem muita esperança de contar com o atacante Maicon, que se recupera de lesão, Cuca cogita deixar o 3-5-2 e escalar o Fluminense no 4-4-2. Neste caso, o volante Diogo entraria no lugar do zagueiro Leandro Euzébio, para dar mais consistência ao meio-campo e diminuir os espaços de Carlos Alberto e Philippe Coutinho. Mas essa pode ser a opção para o segundo tempo.
Independentemente do esquema, a ordem no Fluminense é acelerar. A velocidade vai começar na saída de bola, com Rafael, que deve procurar logo de cara os laterais, em vez de simplesmente colocar a bola em jogo tocando para o zagueiro mais próximo.
Como Mariano e Júlio César são apoiadores natos, isso torna o Fluminense um time rápido mesmo quando não precisa ser. A novidade pode estar no meio de campo. O argentino Conca certamente receberá atenção especial da marcação vascaína e, com isso, um dos trunfos do setor tricolor pode aparecer - Diguinho e Everton são volantes de formação, mas têm bom toque de bola e podem criar, no caso de o camisa 10 estar muito cercado.
Bruno Veiga, destaque dos Juniores, categoria em que marcou 30 gols ano passado, é o substituto de Maicon, e tem prós e contras. Se por um lado não possui a mesma velocidade do titular e não conta com muito entrosamento com Fred, por outro é um jogador desconhecido dos rivais e do treinador e chega com o ímpeto de quem quer mostrar o seu valor para a torcida e o técnico. Pode ser um elemento surpresa.