Patrícia Trindade
postado em 20/01/2010 09:01
Rio de Janeiro ; Quando criança, ele era conhecido como o filho da Vera Mossa, musa e craque da Seleção Brasileira da década de 1980. Na adolescência, depois que a mãe encerrou carreira e o pai, ex-levantador do Brasil, vice-campeão olímpico em Los Angeles-1984, começou a se destacar como técnico, no início da década de 1990, ele passou a ser chamado de ;o filho de Bernardinho;.Ainda assim, o início foi difícil. O sobrenome era tão forte que ofuscava a performance em quadra. Mas hoje, aos 23 anos, o filho de Bernardinho conquistou seu lugar ao sol. Bruno Mossa de Rezende, ou simplesmente Bruninho, após superar preconceitos e viver constantemente sob a viga da desconfiança em relação à sua competência, conseguiu deixar para trás os comentários de que ele só havia chegado à Seleção porque era ;filho do chefe.;
Depois de ter sido reserva de Marcelinho na Olimpíada de Pequim, em 2008, quando o Brasil perdeu o ouro para os Estados Unidos na final, o levantador da Cimed-SC ; clube com o qual já ganhou três Superligas em quatro torneios disputados, se firmou como titular do Brasil em 2009, ano em que ajudou a Seleção a ganhar os três títulos que disputou na temporada: Copa dos Campeões (quando levou o prêmio como melhor levantador), Liga Mundial e Sul-Americano. O desafio, agora, é buscar troféus ainda mais importantes, a começar pelo Mundial da Itália, entre 24 de setembro e 10 de outubro, em Roma.
O ano de 2009 foi importante para Bruninho não só pelo prêmio individual na Copa dos Campeões ou pelo fato de ter se firmado como titular na Seleção. A temporada valeu, principalmente, por ele ter conquistado legitimidade na posição e confiança junto ao grupo, que sofreu algumas renovações, apesar de ainda contar com medalhões como Giba e Serginho.
Ganhar moral como levantador depois que a posição foi ocupada recentemente por jogadores do porte de Maurício e Ricardinho, que se tornaram ícones, não é uma tarefa fácil. E Bruninho sabe bem que o momento é de deixar o legado dos dois para trás e pensar em construir o seu próprio. ;É uma responsabilidade muito grande substituir um grupo tão vitorioso. Qualquer comparação, agora, é desnecessária;, explica.
Obstinado como o pai
Bernardinho nunca foi um levantador brilhante, como ele mesmo admite. Mas como treinador, ele tem mostrado qualidades que seu filho tratou de incorporar. Assim como o pai, Bruninho é um atleta obstinado. Habilidoso e ousado, ele sabe que ainda não tem o mesmo nível técnico que Maurício ou William. Ciente disso, treina como louco quando está na Seleção, sob o comando de seu pai.
Bruninho tem duas das principais qualidades para ganhar a condição de titular do Brasil: a boa altura (1,90m) e o fato de jogar com extrema velocidade, mantendo a mentalidade iniciada por Ricardinho no início da década. Com Marcelinho, titular na Olimpíada de Pequim e na Liga Mundial de 2008, ambas competições em que o Brasil não chegou ao ouro, ficou claro que a Seleção havia se tornado previsível e que não mais conseguia aproveitar o potencial de ataque da geração mais vencedora da história.
Aos poucos, isso foi mudando com Bruninho. É verdade que ele ainda não encaixou seu jogo com a maioria dos atacantes da renovada geração. Mas trata-se de um processo normal, que caminha para ser atingido. O mais importante é que o levantador já mostrou ter personalidade, característica fundamental para quem ocupa a posição de cérebro da equipe.
Dono de uma boa leitura de jogo, Bruninho faz boas combinações de jogadas, movimentando todos os atacantes simultaneamente, e não tem medo de arriscar. Da sua geração, sem dúvida é o melhor. Mas, para se igualar aos ídolos, precisará conquistar títulos importantes, a começar pelo Mundial da Itália, em setembro de 2010.
Destaque com a raquete
Antes de optar definitivamente pelo vôlei, aos 14 anos, Bruninho praticava badminton, uma espécie de peteca jogada com raquete semelhante à de tênis. Nesse esporte, ele conquistou destaque, chegando a sagrar-se campeão brasileiro.
Herdeiro de uma geração de heróis
Precisão, criatividade, habilidade e comando são características que fizeram do Brasil um celeiro de levantadores acima da média desde os anos de 1970, quando o vôlei deu início ao embrião que fez da modalidade a potência que é hoje. A linhagem de craques começa com Bebeto de Freitas e segue com Mário Marcos e José Roberto Guimarães nas Olimpíadas de México-1968, Munique-1972 e Canadá-1976. Nessa época, o levantador deixara de ser uma figura sem importância, um mero coadjuvante para os protagonistas atacantes, como era nos anos de 1960. Ser levantador, naquele tempo, significava não ter habilidade para atacar. Os menos talentosos eram escolhidos para exercer a função e a posição era vista como inferior.
Mas, com o tempo, ficou claro que a evolução tática do vôlei teria de passar, obrigatoriamente, por uma melhora na distribuição de bolas. E o levantador deixou de ser o estepe do time para se tornar o cérebro da equipe. Nos últimos 20 anos, a posição exigiu cada vez mais perspicácia, inteligência, domínio da técnica, leitura dos companheiros e, principalmente, velocidade. Nesse sentido, o pioneiro da ;era da versatilidade; no vôlei brasileiro é William Carvalho, capitão da geração de prata, que fez a bola alta na ponta virar a famosa chutadinha, jogada que foi ficando cada vez mais rápida com o passar dos tempos.
A iniciativa de William ganha um salto de qualidade com seu substituto na Seleção, Maurício, comandante da histórica geração que conquistou o ouro nas Olimpíadas de Barcelona-1992. O levantador se tornou uma lenda no time e defendeu a Seleção por 18 anos. Com Maurício, a velocidade definitivamente virou marca registrada da equipe e passou a ser uma característica obrigatória no Brasil. Ricardinho, próximo levantador da linhagem de feras do país, entrou para valer na história nas partidas finais do Campeonato Mundial da Argentina, em 2002, quando substituiu Maurício com competência e foi decisivo para o título. Ricardinho ganhou a posição e comandou a conquista do ouro nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, e do Campeonato Mundial de 2006, no Japão. Agora, o desafio de Bruninho é se tornar mais um herói nessa saga de troféus verde-amarelos.
Carreira marcada por títulos
Bruninho tinha 17 anos quando chegou à equipe da Unisul, de Santa Catarina. Ali, trabalhou as qualidades que o levaram, em 2005, à Seleção Brasileira juvenil, onde conquistaria a medalha de prata no Mundial daquele ano. Campeão da Liga Nacional 2005 e da Superliga na temporada 2005/2006, o levantador foi eleito o melhor na posição nas três últimas edições da Superliga.
Em 2006, participou da campanha do hexacampeonato na Liga Mundial e também fez parte do time no hepta, em 2007. Foi campeão da Superliga 2007/2008 e 2008/2009 com o Cimed e vice na temporada anterior. Em 2007, foi campeão dos Jogos Pan-Americanos, do Sul-Americano e da Copa do Mundo, além de vice da Copa América.
Em 2008, conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim. Ano passado, assumiu a condição de titular e conquistou os títulos da Liga Mundial, do Sul-Americano e da Copa dos Campeões. Nesta última competição, no Japão, foi eleito o melhor levantador. A campanha de 2009 com a camisa verde-amarela é irrepreensível. O Brasil sofreu apenas uma derrota nos três torneios que disputou.
Quem é ele
Nome: Bruno Mossa de Rezende
Data de nascimento: 2 de julho de 1986
Local: Rio de Janeiro
Altura: 1,90m
Peso: 76kg
Posição: levantador
Time: Cimed (SC)
Principais resultados:
; prata nas Olimpíadas de Pequim-2008
; ouro com a Seleção na Copa dos Campeões-2009
; ouro com a Seleção na Liga Mundial-2009
; ouro com a Seleção na Sul-Americano-2009
; tricampeão da Superliga