Jornal Correio Braziliense

Superesportes

Era dos supermaiôs chega ao fim com polêmicas e indefinições

Terminou em 31 de dezembro de 2009 a era dos supermaiôs na natação profissional, apontados como principais responsáveis pela chuva de recordes mundiais quebrados, sobretudo, nas duas últimas temporadas. Fabricados com poliuretano, os trajes tecnológicos que auxiliam na flutuação do nadador e também repelem a água, tornando mais fácil e veloz o deslocamento dos atletas durante as provas, foram proibidos pela Federação Internacional de Natação (Fina). Serão permitidos apenas maiôs feitos com material têxtil. Fica vetado o uso de "qualquer dispositivo ou maiô que possa aumentar a velocidade, a flutuação ou a resistência durante uma competição", de acordo com a regra da entidade máxima do esporte. Também serão proibidas as peças que cobrem o corpo inteiro do atleta. No masculino, estão liberadas apenas as sungas e bermudas. Entre as mulheres, os maiôs não podem passar dos joelhos. A medida foi criticada por alguns nadadores e ex-atletas e comemorada por outros. "Deixa tudo, flutua o quanto quiser, exige alguns pontos específicos e deixa o atleta nadar. Vai chegar um momento em que não importa se o atleta está fazendo 46s, 48s, 49s, 50s na prova de 100m peito, 100m borboleta, o recorde sempre vai ser quebrado", defende o ex-nadador Gustavo Borges. "Eles voltaram um pouco atrás, numa decisão mais conservadora", completa. Apesar de o veto aos trajes tecnológicos estar decidido desde julho, o tema ainda causa polêmica. A Fina ainda não definiu o sistema de índices para classificação às competições, nem se os recordes obtidos em 2009 serão mantidos. "Acho muito difícil essa geração conseguir melhorar esses recordes sem maiô. Fica mais para gerações futuras. No momento vai ser bem complicado para a gente conseguir atingir essa meta de tempo", acredita Kaio Márcio, recordista mundial dos 200m borboleta em piscina curta. "Muda bastante, porque a gente faz um trabalho para usar a roupa, faz treino com a roupa para se adaptar a nadar com a roupa. Depois que você já está todo adaptado, aí tira a roupa e fica nessa lambança toda", complementa Nicholas Santos, recordista sul-americano dos 50m borboleta. O raciocínio dos brasileiros é parecido com o do australiano Eamon Sullivan, prata nos 100m livre em Pequim-2008. "Manter os recordes feitos com os supermaiôs seria muito estúpido", disse em dezembro. Desde que os supermaiôs entraram em ação, mais de 200 recordes mundiais foram quebrados. Somente nos Jogos Olímpicos de Pequim, em agosto de 2008, foram 25. Um ano depois, no Mundial de Roma, outras 43 melhores marcas do mundo caíram, entre elas a dos 100m livre, cujo novo dono é o brasileiro Cesar Cielo, com 46s91. Na última prova do ano, o Troféu Open de natação, em dezembro, Cesão também estabeleceu o novo recorde mundial dos 50m livre, 20s91, superando o tempo do francês Frederick Bousquet, para delírio da torcida presente ao Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. Nem atletas nem treinadores sabem ao certo quais serão as mudanças de desempenho em 2010, mas os primeiros testes já indicam um aumento do tempo. "A gente tem que cair polido, raspado, para saber como vai ficar, para comparar quando a gente tava com a roupa em uma competição. Mas eu acredito que (o tempo vai aumentar) 1s5 mais ou menos no 100m livre e 0s8, ou 1s nos 50m livre", avisa Santos. O técnico de Cielo no Pinheiros, Albertinho Silva, não se arrisca a fazer previsões sobre o tempo dos nadadores, defendendo a tese que apenas no segundo semestre as primeiras conclusões podem ser tiradas. "Acho que lá para agosto, setembro, só depois do Pan-pacífico (em agosto), a gente vai ter uma ideia melhor" Outro ponto de discussão é o esforço físico realizado pelos atletas. Acostumados às facilidades causadas pelos supermaiôs, alguns nadadores podem apresentar dificuldade para disputar provas a que estavam habituados e demorar mais tempo para se recuperar de uma bateria para outra. "Quando você nada com a bermuda, você sai da prova quebrado, dolorido, corpo inteiro doendo. E a roupa já te poupa um pouco mais", aponta Santos. "Tem uma geração nova que nunca nadou sem maiô, já pegou a tecnologia nova e não tem o costume de nadar sem. Não sabe como é a dor. A recuperação de fato atrapalha bastante, não é a mesma. O corpo fica bem mais fadigado", observa Márcio. "Na primeira competição importante vai sentir um pouco mais, mas depois já fica mais tranquilo". Já Albertinho prefere aguardar os resultados das primeiras competições a mudar o método de treinamento de seus nadadores. "Não queria criar um paradigma de que cansa mais. O feedback que a gente teve é que tava cansando, mas foi um exemplo. Se acontecer realmente, aí a gente vai ter que fazer alguma coisa", diz.